17 de janeiro de 2010

Duas pequenas considerações

1 – Não gosto de demonstrar ou de chamar atenção quando estou bem. Se me perguntam, respondo sinceramente, mas por iniciativa própria só faço alarde quando não estou muito bem. Sou um fraco por querer despertar compaixão nos outros? “Quem se rebaixa quer ser elevado”.

Não sei direito o motivo disso. Não gosto de causar intencionalmente inveja? Ou não gosto de ser incomodado por quem procura ajuda? Ou, ainda, acho muito clichê e idiota transparecer alegria? Tudo não passará de hipóteses.

Até minha inspiração acaba quando as coisas vão num mar de rosas. Minha veia artista só acorda quando fico incomodado com uma situação hostil. É normal, só em momentos de desespero somos acometidos por forças que nem desconfiávamos ter. O homem gosta de sofrer tragédias para se superar.

Sei que um dia o tédio superará essa tranqüilidade onírica; enquanto esse sombrio momento não chega, aproveito ao máximo os ventos favoráveis para chegar num lugar o mais longe possível, torcendo para que não fique à deriva em dias sem ventania.

Consigo usufruir a felicidade, mesmo sabendo que ela é efêmera. Dá-me esperança saber que incômodos surgirão e turbilhões movimentarão novamente a minha vida, que é assim, para frente e para trás, com forças centrípetas e centrífugas, grande dinâmica. Vejo o devir numa concepção metafísica? O que importa é que eu aceito os altos e baixos, às vezes intensamente.


2 – Sobre a fantasia e a realidade. Sempre fui muito racional e crítico, por vezes chato e casmurro. Gostava das escolas realistas e naturalistas, desdenhando o romantismo e o fantástico. Afinal, nossa vida é permeada por lógica, política e ética, somos pessoas com atuação social e afazeres burocráticos. Para que ficar buscando e sonhando com algo intangível, duvidoso e platônico?

Entretanto, hoje vejo que é justamente na abstração que conseguimos ser felizes. É no mundo da fantasia que ficamos bobos, esquecemos de nossa contumaz individualidade e nos tornamos parte de um mundo sem regras e rancor. O problema seria não reconhecer a linha que separa nossa realidade sufocante, crua e positiva da nossa metafísica, que é real apenas para nós, mas que não tem utilidade além de fazer esquecer dos problemas.

Como em tudo, é preciso equilíbrio. Hoje entendo a importância de cada esfera. Ainda bem que não me tornei uma insensível máquina de calcular a redução de riscos. Temos inúmeras opções de fuga da realidade, principalmente com jogos e jogatinas e simuladores virtuais. Só conhecendo os benefícios e malefícios que cada mundo nos traz, podemos balancear e optar pelos nossos momentos de frieza e de êxtase, cada qual em sua correta hora e local.

Costuma-se reclamar dos ociosos, mas é só ressentimento por não ter vida de índio. Todo mundo gostaria de ganhar na Mega Sena e passar a vida viajando. Mas esquece-se que é a dureza da vida que engrandece. Sejamos, então, realistas fantasiosos.

6 de janeiro de 2010

Carrego a agonia e nada esconde minha timidez

Timidez incomoda por quê? Apenas alguns sinais corporais fazem as pessoas concluírem que se está sendo arrogante. Sentem-se inseguros por não saberem o que o outro está pensando, que ele os está julgando impiedosamente, preferindo se esquivar a expor algumas verdades. E incomoda o próprio tímido, que tem desejos e não consegue desfrutá-los.

Todos, elas principalmente, querem a segurança de saber onde se está pisando; o mistério precisa ser desvendado. E por que acham que quem fala demais está transparecendo alguma coisa? Nada mais dissimulado e mascarado do que a tagarelice e o papo furado.

Relacionamento interpessoal é complexo. O controle é impossível. Quanto mais gente, as informações e possibilidades crescem exponencialmente. Assumir papel de voyeur é passividade. E quem gosta de interagir com quem não se expõe?

Ser introvertido significa que o sujeito costuma ser solitário e se satisfazer sozinho. Adquire habilidades e cultura que só a disciplina e o foco permitem. Em grupo há muito distúrbio, apesar de que há mais novidades e diferentes perspectivas. De fato, é importante tolerar as idiossincrasias. Todavia, a inércia que a satisfação do eremita leva, coloca-o em um ciclo difícil de sair. O equilíbrio se perde. A necessidade de convivência deve ser extinta, ou a melancolia o invadirá por completo. É preciso haver um ato de compaixão para retirá-lo dali, além do reconhecimento interno de mudança. Mas as dificuldades desse percurso desanimam. Quem tem tanto auto-estima assim para relevar as reiteradas rejeições? Ou há medo de se tornar alguém irreconhecível?

O mundo está inchando de gente, mas a individualização da sociedade líquida e plana faz crescer o número de solitários. Basta comparar um metropolitano de um caboclo. Infelizmente, poucos chegaram à conclusão de que quantidade não é qualidade, é no máximo, compensação. Ser profundo é ser teimoso; o benefício de se atirar no abismo não tem preço, mesmo que dê errado, o aprendizado é grande, basta não ser ressentido.

Falar demais, reclamar demais, impulsividade de atos, não selecionar palavras, deixar aflorar por substâncias o que o consciente dormente não permitia antes, costuma resultar em inocuidade, frivolidades. É isto o que a maioria quer: escapar do tédio com superficialidades?

Qualquer problema deve ser resolvido a partir de um objeto (externo), com um remédio, uma droga, uma bebida ou uma meretriz; óbvio que gera vício. Quem quer pagar o preço de ter horas de ócio com reflexões que não sabe se terá respostas? E, muito provavelmente, não ser definitivas, apenas tentativas futuras poderão adelgaçar a névoa. Tudo muito sutil e abstrato, mas as pessoas são práticas e ad hoc. Com um com sua sabedoria...

Ser grave assusta a quem se acostumou a influenciar todos. Não sofrer abalos pela simpatia do outro, no primeiro momento. Prudência, talvez excessiva, em expor sua vida a desconhecidos é algo corriqueiro, porém, por que persiste a reclamação à cincunspeção? Seletividade (de ambos).

Certo, a antipatia de uma pessoa que é difícil de gostar e de ser querida. Que, no entanto, quando encontra alguém especial, tende a agir intensamente, pois sabe que não se pode desperdiçar uma oportunidade rara. Então é isto: a timidez indica ao outro que ele não é especial? Ao menos naquele instante não é mesmo. Mas também pode ser nervosismo e insegurança...

O receio da derrota pode ser terrível. Apenas um caráter que se fortaleceu, ou um psicopata sem alteridades, arriscará a vitória, sem se preocupar com as conseqüências do fracasso. O tímido não consegue dar esse salto, seu perfeccionismo o paralisa. Não toma a iniciativa e a dúvida passa a ser melhor que sofrer o impacto. E deixa-se de viver, ao menos não será infeliz, apenas resignado. Enfim, quem dará a ele a chance de ser realizado?


P.S.: É experiência própria, mas é tb divagação.