22 de setembro de 2010

Envelhecimento, Vaidade e Finitude

Envelhecemos, seja na dimensão biológica ou na psicológica, após da maturação sexual, da idade reprodutiva, porém a sociedade não é tão implacável quanto a selva, os mais velhos permanecem. Benesses da civilização. Mas como tudo tem dois lados, o papel do idoso, principalmente no ocidente, é estigmatizado, pelo menor desempenho e maior dependência, e vinculamos as rugas, calvície e cabelos grisalhos a essa negatividade.

Apesar das perdas, onde ficam a sabedoria adquirida, as experiência vividas, os ensinamentos compartilhados, cadê seu valor? Inevitável sentimento de fracasso para quem sempre se preocupou apenas com a própria vaidade.

Ora, é tão bom aproveitar as regalias da terceira idade, de rir da pressa juvenil, de gastar a poupança acumulada e fazer o que quiser com o grande tempo livre. E, claro, brincar com a morte. Mas a imagem do asilo e de cadeiras de roda e muletas apavora alguns.

Na mulher o ressecamento e as rugas têm um peso mais forte, pois seu papel que é valorizado no ocidente, de provedora, fértil e atraente, torna-se nulo, logo ela também se anula. Adiante vai procurar distrações simples, contato social e atividade intelectual, ou recusar as paredes que a comprimem e agir como adolescente tardia. Sem devaneios e exageros pode-se mandar o sistema e supostos padrões opressores à merda e aproveitar a vida.

O segredo é a mente, o corpo é apenas seu instrumento. Aprender a viver é também aprender a morrer.

O tempo, em si, não produz efeitos biológicos, são os organismos que reagem à sua maneira e que envelhecem a seu ritmo. Cada órgão tem seu relógio próprio, logo não só cada pessoa pode parecer mais velha que outra da mesma idade, a mesma pessoa tem partes do corpo mais velhas que outras. É o excesso de variabilidade individual. Algumas variáveis facilitam a análise de riscos de morte, mas não influem no envelhecimento. Fumantes, por exemplo, não ficam velhos antes, simplesmente morrem mais cedo. Como renovamos nossas células constantemente, com exceção das nervosas, cardíacas e esqueléticas, cada cópia tende a não ser fiel a outra, então aumentam os riscos de falhas, logo de morte. É apenas questão estatística, uma negligência da seleção natural.

Após tantas conquistas do homem nos últimos dois séculos, parece que houve uma arrogância sem limites, tudo é possível, basta querer e investir. Mas não é bem assim. A natureza é implacável, e já começa a cobrar o preço das práticas insustentáveis de exploradores devassos. A fórmula da juventude é mais uma dessas megalomanias; narcisismo material, porém o que é corpóreo perece.

Parece-me que os jovens sofrem cada vez mais pressão social, em face do modelo de sociedade do espetáculo e por haver aglomerações, assim um indivíduo pensa que só terá expressividade em grupos. Ao mesmo tempo deve-se enquadrar em padrões de aceitação e ter um mínimo de diferença para ser visto como alguém especial, e não como um idiotizado wannabe. Além disso, no mundo tecnológico juventude é tudo, a velocidade e a pressa, ubíquas, oprimem, aparentar-se velho ou ultrapassado é falência do status. Todavia, isso está partindo de fora, ninguém pára para refletir.

Alguns pensam que só podem ser felizes com vaidade, como se fossem sinônimos e uma questão quantitativa, querem ser mais alegres e para isso tornam-se mais vaidosos, resultando em psicopatologias. Isso é fábula, a bela princesa é a bondade e a bruxa idosa é a maldade. Nega-se o envelhecimento, e com ele a morte, esse insuportável fantasma que os contemporâneos projetam apenas nos fracassados.

Qual seria o cenário mais correto: a paranóia pela beleza gera insegurança ou a insegurança pessoal leva a uma paranóia pela beleza, devido às exigências sociais? São tantos mimos aos jovens que largar a vida pela estética por uma vida dura e cheia de responsabilidades é difícil para muitos. Portanto, os diferentes caminhos do amadurecimento levam a diferentes focos, nesse caso.

Pessoas bonitas ganham melhores salários, dizem as pesquisas: causa e efeito enganoso.

Há expansão acelerada de cirurgias com fins estritamente estéticos: pode até haver aconselhamento médico, mas poucos vão se recusar a ganhar dinheiro, que fala mais alto que a ética. Riscos são sobrepujados por obsessões e recordes. É nisso que acaba se resumindo, porque falar em perfeição é só discurso, cada um vê o que a mente neurótica manda ver. Imagem é tudo para alguns, assim como ser modelo. Estilo caro e, infelizmente, causador de inveja a juvenis.

Para as mulheres, especialmente as brasileiras, cosméticos e demais cuidados com o corpo e a imagem não são artigos de luxo, mas necessidades básicas (impostas por quem?!), é sobrevivência, como beber e comer. Ter e manter seu poder de sedução é indispensável às fêmeas, seja com alto ou com baixo poder aquisitivo, claro que algumas exageram, mas é unânime a vontade de se cuidar e ser atraente, nem sempre usando a lógica nem sendo eficientes. O uso de cremes anti-envelhecimento começa cedo, se antes era aos 30 anos, agora é aos 20 ou até mesmo na adolescência. Inclusive no uso do polêmico botox! Hedonismos...

Culpa também da expectativa de vida. Assusta imaginar-se com 70, 80 anos parecendo o senador Palpatine. Nem mesmo esperam chegar à meia-idade para ter crises ansiosas, estresse e depressão. Tolices, pois são exterioridades, maquiagem para quem só julga aparência – pretensa felicidade.

Hormônios, como o GH – que produzimos naturalmente, por meio do sono –, prometem retardar, ou ao menos disfarçar externamente, o passar dos anos. Até há efeito anabólico, mas pára por aí. Enquanto isso, surgem pesquisas relacionando-os a câncer, diabetes e aumento de colesterol. Quem os defende jura que esse será o futuro, a fronteira da medicina, o elixir tão almejado. Mas há grana e compulsões em jogo, então ações desse tipo soam como picaretagem – perigos à vista.

Muitos sabem que os radicais livres (nossa ferrugem) são os maiores vilões de nossa reposição celular incorreta, além da predisposição genética. Nesse âmbito sim podem surgir “curas”, como a nanotech – deixo isso aos escritores de ficção científica. Ademais, é questão de estilo de vida.

A natureza é sábia, não há shakes ou poções mágicas. Talvez engenharia genética tenha êxito, mas ela é tão complexa que vai demorar muito ainda para se firmar. Milagres de pessoas sem qualquer formação científica sempre foi eficiente para desesperados e ignorantes, o efeito placebo permitiu que esses curandeiros conseguissem alguma credibilidade. Muitos precisam apenas de atenção, suas mentes são frágeis, logo qualquer pretensa cura comove.

O segredo sempre esteve à disposição: evitar excessos, alimentar-se corretamente, exercitar corpo e mente rotineiramente, ser bem-humorado e equilibrar o estresse. Só que grandes períodos de indisciplina cobram seu preço, todavia, num estalo a pessoa quer reverter instantaneamente seus erros, é petulância. A chave é a constância e a tranqüilidade atenta.

O ideal cristão de espírito puro e elevado foi substituído no mundo laico e materialista pelo do corpo perfeito e poderoso. Pode-se julgar como uma perda do romantismo, como futilidade, porém é mais realista. Como deus morreu e tudo é permitido, cada indivíduo é tentado a se achar o próprio deus, forjar imagens de grandiosidade e emergir bizarrices. Mesmo aos pragmáticos o ideal não os abandona, assim como a moral é vinculada a cada ser racional que se relaciona.

Uma forma de ver beleza e transcendência em nossa efêmera existência é que os átomos dos quais somos formados são os mesmos desde a inflação cósmica, então, de alguma forma somos eternos, existíamos antes de nascer e permaneceremos após o falecimento. Assim como não passamos de rearranjos genéticos, o DNA foi herdado e será herdado (em caso de sucesso reprodutivo), então, apesar de sermos uma combinação única, nossa materialidade não é única. Não somos exclusivos como supõe nosso egoísmo absurdo. É a nossa reencarnação sem misticismo, afinal, somos insumo de vermes, é a crueza da reciclagem natural.

+_)(*&¨%$#@! WOW

17 de setembro de 2010

Peleja, Bazófia e Pedantismo (?)

Prélios

I

Túrbido pelo convício e descoco, edaz
Díscolo rebolca ao toutiço lasso a vira;
Perlustrará o Orco da Dite pingue roaz.
Galardão ao rábido e estrênuo, então refocila.

Robora, ao supitar no estelífero luco
Urbífrago e palreiro galeato hirsuto.
Dos baixéis aleia às veigas o furibundo;
Nímia caligem, mas conculca o sitibundo.

Sem pejo esposteja encastoas, aleivoso!
As venustas êmulas soltam cuquiada;
O atalaia e o assecla lobrigam, buliçosos,
Mas antoja o entono do ignavo a cachinada.

O iníquo brandíloquo azoina toda a chusma,
Enfuna acérrimo e insonte a prisca ultriz bruna,
Assoberba inexorável, poltrão minaz.
Opróbrio e labéu que afeleiam o bestunto,
Do então sólito laudo, opima, almo e jucundo!

Sua alfanje o infando aflige no morrião
Do imberbe somenos, que vem a restrugir
De rastos nesse alqueive lhe afuma o bulcão
À voragem, não há mais vascas a lhe aluir...

As áscuas coruscam no tergo do giboso;
Como incude, a truz no estulto o faz rechinar,
Crebro o escarmento trescala e faz estilar;
Hiante, nuta no conspecto paludoso.

Ele acaudilha a arcana insídia, o volantim
E encasa seu gládio. A cúspide jaspeada
É lestamente, por seu provecto, amolgada
No pando mento do fedífrago chatim.


II

Procela dimana entre falésias fragosas;
Clade e alvedrio de linfas, como que ignívomas
Açodam a vasa dúctil, empeço omnígeno.

A facúndia do fâmulo, no imo, compunge;
Blandícias que podem increpar os incautos.

Gáudio do garfo, vergôntea de um preclaro áugure;
É prosápia aos íncolas de sólios e de aras
E não de zagais em desdouros, mas fastígio,
Pois açula encômios no adito vasto, o nado
Do ubérrimo Stix que acoroçoa as Piérides
Pulquérrimas, comborças de nênias canoras.

Desdita do crestador protervo, que arrosta
O alcácer com estrepes túmidos e ingentes;
Os solertíssimos êmulos nos merlões
Rebuçam um amplexo, invitos, todavia,
E medram seus semotos amentos – virentes.

O creste dealba o zerbo de cróceo horrente,
Abroquelado pospõe, mesmo cruentado
Petrecha-se de ginete, ou frisão, esfaimado

Ele moteja com arengas, pois empece
Mas não é balhesto nem mendaz, amanha o corro.
E as Parcas vulpinas azorragam-no, mesto,
Não mais puníceo obumbra, devido a seu morbo?