20 de outubro de 2011

Praticamente um rapsodo

Pacato marinheiro

A estória a seguir é de um marinheiro:
Agora sente o odor da densa maresia
Enquanto rememora os fatos, com ufania,
De quando fazia estada em navios cargueiros

Deleitava-se em vestir o fosco escafandro;
Diante da vida marinha era um assombro:
As algas, o sal, a água e seus meandros –
Cefalópodes, crustáceos e cetáceos

Retesava velas, bem aprumadas,
Acelerando o barco em alguns nós.
Gritava a seus ínclitos camaradas:
“Sintam o zéfiro de encontro a nós!”

Às ordens do insigne comandante
Empertigava-se, por diplomacia,
Mas não ao avistar bucaneiros errantes,
Pérfidos que suscitam aleivosia

Ao deglutir alimentos adstringentes,
Que irritavam sua gorja, ele finalmente
Se punha a pigarrear ou a gorgolejar,
Se não houvesse náusea, quando ia gorgolar

Se a embarcação tivesse de engolfar,
Torcia para ver os astutos delfins
E em portos délficos golfe jogar,
Então esgotado, é delfino tornado, enfim


Quando será a sua hora?

É uma pintura: risca e arrisca, surge o artista!

Quem é o maior cidadão do mundo?
Qual é o lado que me faz profundo?
Quanto tempo falta para lhe esquecer?
E quando é a hora para amar você?

Deve haver algo a mais àquele que busca a paz

Quando é pior invocar o orgulho?
Em qual lago límpido eu me misturo?
Quem é que vai a Malta para envelhecer?
Quem vê a lua nova em meio ao fumacê?

Se ela diz que sim, vem a mim um belo marfim

Como pode o mago trespassar um muro?
Quantos altos fados parecem barulhos?
Por que um homem mata e logo diz amém?
Até onde eu vou andar a fim de me aquecer?

Sei que não dura, ela acusa, escusa e infusa

Quem é o maior cidadão do mundo?
Em qual lago límpido eu me misturo?
Por que um homem mata e logo diz amém?
Quem vê a hora andar tende a desfalecer

2 de outubro de 2011

Os muros ruem num festival

Um Cochilo

Durante a guerra, eis que encontro
Um rato, adoecido, na agitada relva
Tento tratá-lo, não sou veterinário,
O roedor morre de frio; ouço um badalo.

Mas não, são bombas, minha face,
Por efeito moral, se desfigura.
Ninguém está por perto, há silêncio;
Um estrondo, bum! O sonho é um pesadelo...

Cochilo no colo de minha mulher
A circulação da perna se interrompe
Meu pé parece inchado de cachaça
A visão de duas mulheres se esvaece

É um beco sem saída, não sem vida,
Gritaria minha assusta um transeunte:
É o despertar do adormecido ciúme
Paciência talvez também seja ciência


Morremos Jovens

Ouça, se eu vier a morrer jovem,
No entanto quem não morre jovem?
Você diz que chorará por mim,
Mas, de fato, chorará por si.

As minhas se cinzas se espalharão;
Jogue-as em alto mar, às algas,
Peça isso ao cortês capitão
No fundo, as vidas ficam análogas.

O luto perdura por certos dias
Rejeite a contumaz melancolia
Seu comodismo não corrobora
Com os seus atos comigo, até agora.

Enfim me sinto como mais um só
Na multidão meu ser pôs-se anulado
Doravante, eu restarei isolado.
Vivemos juntos, morremos a sós.