31 de julho de 2009

(Sem) Noção de contemporaneidade

Alguns gostam do passado (eu?), que viveu ou não, desde que julguem como bons tempos e lembranças de épocas outrora gloriosas (como se fosse gostar de ter vivido em tal tempo). Sentem nostalgia, têm tendência pessimista, o passado é mais facilmente controlável que o futuro, por isso se sentem seguros com suas maleáveis e incredíveis memórias. Escolhem o que foi bom e dispensam o que foi ruim. O que passou e o que passará podem ter a mesma qualidade e gerar medo (trauma passado e angústia futura). Porém, a teimosia do nostálgico, ou do esperançoso otimista, formará a personalidade nesta questão.

Quem consegue gozar mais o presente, aproveitar mais o momento e a oportunidade – únicos – conscientes ou não disso? Os otimistas, ao que tudo indica? Pois não ficam comparando ao que antes foi bom e se irresponsabilizam por corriqueiras falhas, visto que são partes de qualquer trajetória?

É, talvez eu devesse ser menos idealista, pessimista e lógico. Muitas vezes digo que só o presente importa, mas sou um hipócrita que não consegue usufruir das benfeitorias da juventude. Um idoso em corpo de rapaz, que de qualquer maneira se arrependerá por não ter sido mais inconsequente, pois tudo se ajusta, principalmente a quem faz parte das estatísticas da elite.

O que é o contemporâneo? Quem são os contemporâneos? Apenas aqueles que se inserem, participam e fazem girar a roda das conversas populares? Em um mundo com tantos nichos, todo nicho é contemporâneo. Só quem é um tatu fora de qualquer nicho (isso é possível?) consegue escapar de ser “moderno”?

É mais fácil quando a sociedade ou grupo em que se está inserido dita o tópico, o envolvimento é maior, há sentido de pertencimento e assuntos da “pauta” para conversar. Ser tão autêntico, a ponto de pensar temas que ninguém se importa, seja assunto arcaico, batido, ou visionário e ficcional, é mais difícil e frustrante. Esse é meu caso? Negar-se a ser sociável indica falta de contemporaneidade? Leio as notícias, quase nada me atrai, mas não consigo parar de ler; leio e escuto muita coisa de 50, 100, 200, 3000 anos atrás, atrai-me muito mais, embasaram uma época e com certeza influem até hoje, apesar da quase inevitável taxação de “assunto ultrapassado”. Se quero viver do passado, como suportar o presente e o futuro?

Modismos explodem, sempre foi assim, até o esgotamento, hoje é mais intenso e móvel, como uma estrela gigante azul – faz história? Em retrospectiva, essas modas são melhor julgadas que temas mais modestos, só que mais profundos? Entretanto, é possível algo não-científico não fazer sucesso a seu tempo, nunca ter estado na voga da moda, e ainda assim ser histórico? Atualmente então, é impossível? Mesmo assim, modas são reinventadas, sob nova roupagem apenas, e também dificilmente fazem um marco.

Ou seja, a absurda transitoriedade de hoje não permite que qualquer assunto se torne parte antológica? Só os processos e métodos revolucionários, como a internet e a comunicação instantânea, que deixam seu legado tão a fundo, ou nem isso? Ou estou muito afobado também, afinal, de qualquer forma, é preciso uma boa amplitude de tempo para afirmar que algo é clássico? Desculpem-me, mas essa correria, vagabilidade e descartabilidade de quase tudo, como fast foods, me deixam perplexo.

Entretanto, o que importa nesse mundo de capitalismo reinante é o lucro, a rentabilidade; o consumismo é o maior incentivador do contemporâneo sugado pela maioria? Se está fora, é um nada; se está dentro, é mais um; somente os destaques, reduzidos, podem sonhar em ser alguém; nada é garantido, a lembrança duradoura menos que qualquer coisa.

Após várias gerações de modismos, sempre rimos da “distante” moda que nos cativou, ingenuamente, e que uma substituta teima em nos seduzir, hoje e amanhã, inefavelmente. Tudo que é mercadoria se torna fungível como o dinheiro. Tornamo-nos mais um bem de consumo (isso que não sou marxista!). Para quem reluta a ser “homem-fungível”, revolta-se, mas a máquina está forte, revoluções que emanam da sociedade não voltam mais à moda.

Há a inércia de sermos classificados por quanto compramos, valemos, gastamos, temos, investimos, enfim, somos estatísticas financeiras. Se gostamos do contemporâneo, como aparentamos, aceitamos essa contemporaneidade. E assim comprovamos que não faremos história; somos o estado da arte do descartável e do superficial, queremos isso? Conscientemente? Talvez nunca fomos tão tolos; liberdade escolhida, todavia, renunciada em nome do prazer, da moda, do bem-estar e de ser mais um passageiro, paradoxalmente, não querendo sê-lo.
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Para provar que não estou mentindo, quero indicar 3 conjuntos de 3 livros que adorei ler, e que com certeza quem gosta ou concorda com meus textos, aprovará, hei-los:

O Nascimento da Tragédia, Além do Bem e do Mal e Assim falou Zaratustra, de F. W. Nietzsche (fiquei em dúvida se deveria incluir A Gaia Ciência, de qualquer forma, se puder, leia esse também);
O Idiota, Irmãos Karamazovi e Crime Castigo, de F. Dostoievski (ainda não li Os Demônios, talvez eu o substituia pelos Irmãos);
Admirável Mundo Novo, de A. Huxley, Laranja Mecânica, de A Burgess, e 1984, de G. Orwell (livros da mesma época, sob temas semelhantes que se tornou quase uma trilogia da repressão e da manipulação).

De preferência leiam nestas sequências. \m/

28 de julho de 2009

Homem - Animal!

As pessoas são chamadas (difamadas?) e comparadas com animais por diversas vezes e situações. Quase sempre em tom de zombaria, às vezes o adjetivo é bem recebido, outras vezes nem tanto. É cavalo, jegue jumento, mula, égua, vaca, galinha, cachorra, cachorro, porco, baleia, veado, morcego, raposa, lagartixa, elefante, papagaio, burro, garanhão, tatu, pavão, urso. Enfim, quase a fauna completa.

Só que parece haver um animal mais controvertido. Que gera processo. Por ironia, o mais evoluído (considerando o homem no topo da escala). É o macaco. Por que fazer um escarcéu por mais um animal? É intuitivo: o negro lembra o nosso parente primata mais que o branco. Assim como um branco é chamado de lagartixa, leite, farinha, pano, transparência. Por quê um negro não poderia ser chamado de macaco, preto, anu, urubu, piche? É difícil diferenciar quando se está ofendendo e quando não se está ou há uma conotação irônica.

Generalizar é preconceito, sem dúvida. Substituir, constantemente, o nome da pessoa pelo bicho, também. Mas fazer uma piada, citar esporadicamente, não ser taxativo, não vejo problemas. Chiar por isso é coisa de gente aproveitadora, ou muito chata.

Brasileiro tem preconceito velado, é fato. Dificilmente alguém ouvirá a palavra negro ao se referir a alguém como quando fala branco. É sempre “negrinho”, “negão”, “tinha que ser preto”, “é coisa de preto”, entre outras. Então para que fingir polidez? Querem mudar a sociedade? O instinto é mais forte. Por exemplo, eu não tenho a menor atração por negras. Se eu der qualquer justificativa vão me taxar de racista. Não gosto e pronto, atenho-me a isso. Eu detestaria que meu filho(a) se casasse ou tivesse um filho com um(a) negro(a). Já quanto ao resto das pessoas, não ligo. Não faço moralismos.

Quanto aos negros em geral, não me preocupo com a sua “raça” em ambientes em que eu costumo frequentar. Porém, em locais miseráveis ou pouco asseáveis e instruídos, a presença deles é marcante, fazendo com que o nosso cérebro intuitivamente compreenda como local de negros. Dane-se o politicamente correto. E não me venham os frescos dizerem que ser politicamente incorreto encheu o saco, de tão difundido.

O homem é um animal como qualquer outro, especialmente em comparação com os mamíferos, e mais ainda em relação aos primatas e hominídeos. Só que chegamos a um estágio de “dominação do planeta” e de “civilização”. É apenas essa a diferença que nos torna tão especiais, a ponto de nos julgarmos “os superiores”. Continuamos sendo grãos de poeira cósmica. Racismo é excluir alguém a partir do único critério da aparência. Falar algo visto como desagradável não encaro como preconceito, no máximo como uma brincadeira inoportuna.

Os afro-descendentes têm um histórico de processo civilizador diferente dos europeus e asiáticos, e mesmo dos nativos americanos. Eles precisam se esforçar, se adaptar e lutar muito ainda para conviverem bem no mesmo ambiente e para adquirirem o mesmo respeito. Que não seja através da agressão e da violência (o que demonstra incivilidade), ao menos em países democráticos que não utilizam de repressão. É difícil estar na base da estratificação social, mas a subversão às leis só complicará o progresso e aumentará o preconceito.

Não é tão simples, claro. Como a própria definição de negro, em um país tão miscigenado. E que mais brancos de classe média se inserem nas estatísticas da criminalidade a cada dia. Ou ainda, que não há saída prática no ambiente em que se vive a não ser por esses meios ilícitos. Contudo, recorrer à retórica dos direitos humanos da “minoria e excluída” é história para boi dormir...

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Hoje estou um pouco agressivo e já postarei esta poesia:

Deus é Decadência

A vós, humanos úmidos, as idéias são férteis
Imaginação, independência e calor, tivestes
Poços de sóbria felicidade e vida em progresso
Pagastes, isolados, do materialismo o preço

É, naturalmente, a morte, o ágio da Natureza
Por vida feliz. Sazonalmente, vem a secura
A homens em desespero, lhe faltam a firmeza
Animação do inanimado; faz-se conjectura

Deus é decadência – Agora peça clemência
A decadência é Deus – Proximidade do adeus

Cético não fornece mais verdades, mas agnoses
Somente através do asceticismo se alcança a gnose
Inversão de valores – Superior projetado
Fé fajuta, de fezes, fiel ao céu – coitado

Decadente Ascendente. Cadete sem dentes
Na hora do apuro, ninguém é puro ou maduro

Reticências: Deus é a Decadência


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Polêmico?

25 de julho de 2009

Rapidinhas (Texto, explicação e verso)

Ter uma carreira, para ser um homem digno, puro moralismo
Casar com mulher freira, ter estabilidade, não cair no abismo
Rá! Busco infinitude, liberdade e regozijo; serei, repito,
Seta do tempo – Transportado p’ra roda espiritual do infinito.

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Morreremos e seremos esquecidos, sem memorial para as nossas conquistas e obras em vida, claro que modestas para os padrões de honrarias públicas. Esquecerão de nós em duas, três ou quatro gerações. Seremos apenas um ponto ou nome na Árvore Genealógica. Ainda assim, no caso fortuito de termos filhos E netos com sucesso reprodutivo e com trabalho de elaborarem os galhos.

Afinal, você já fez ou sequer viu a árvore da sua família? Até que geração? Não se envergonha de sua ignorância? Então, é natural que o seu destino seja desta forma também.

Fatalidade? Com certeza. Exagero? Não. Pessimismo? Talvez. Fuga? Jamais. Medo? Ás vezes. Realismo da descrença em vita post mortem.


P.S.: Publiquei na sequência porque estou usando pouco o computador; foram ideias que tive durante a semana, que foi relativamente profícua, apesar de várias quebras de rotina (relacionamentos sociais, doença, dores, falta no trabalho, muita cama e pouca leitura).

Arte, Hedonismo, Modismo? Questão de ângulo?

Se quase tudo já foi escrito ou descoberto (ok, polêmica sobre os limites tecnológicos), dar a própria opinião e visão sobre algo é arte? É a efetivação do mundo como estético, onde o belo ou o feio é o que interessa? Formadores de opinião não passariam de detentores do poder da mídia com maior área de influência que uma pessoa que não o possui, visto que a qualidade e o conteúdo dos textos ou obras serão similares? (Well, outra polêmica, sobre a base educacional e cultural formadora das pessoas)

Apenas a credibilidade, bancada pela grana e patrocínio, que separará aquele com fama e salário bojudo daquele que não os tem? Qual a diferença nesses casos, em fria análise? Expor o que o público-alvo quer, ou foi condicionado, a sentir? (Shit, mais polêmica, sobre a origem da relação simbiótica oferta e demanda, na complexa democracia)

Ah! Economia do Hedonismo!

Para mim, as coisas aparecem apenas com uma nova roupagem, para substituir ou readaptar modismos. É muito difícil ser original (Ás vezes pensa-se que o é, mas há inúmeros casos escondidos nos confins do planeta).

Há um fenômeno estético. A solução é aproveitar a vida com pessoas próximas e queridas, de forma alegre, num carnaval sem fim? Perdendo a individualidade e preocupação lógica e tola de ter ideias criativas e inovadores para ser parte de uma amálgama de espíritos inebriados, sensíveis e gozadores do presente? (Please, minha dose de soma...)

Assim como é difícil criticar profundas reflexões lógicas daqueles que se dedicam à ciência, é difícil ter fortes argumentos contra aqueles que querem apenas gozar, instintivamente e superficialmente, o que a vida pode dar, sem qualquer engajamento político ou julgamento moral ou ontológico de como o fluxo dos fatos afetam sua vida presente ou futura.

Só não vale se queixar, pois tudo tem falhas e está correto. Depende exclusivamente da perspectiva momentânea.

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P.S.: Sei que esse não foi dos melhores, mas foi curto e resolvi escrever e publicar. Após o meu adoecimento (que seja de 1 dia), talvez minhas inspirações se renovem.
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17 de julho de 2009

Quando você percebe que...?

Quando você percebe que não é mais tão jovem, tão bonito, tão superior, não é mais tão protegido, querido ou desejado? A névoa, por fim, adelgaçou-se. Que o auge passou; triste decadência do apogeu. Ápice esse inferior àquele idealizado...

Quando você percebe que não tem mais tantos amigos, tantos parentes, quiçá colegas ou conhecidos, não tem mais amantes, mestres ou aprendizes?

Quando você percebe que não tem mais tanto a aprender, a ensinar, não há muito mais motivos a lutar ou a desejar, tampouco a fazer, a se esforçar, não mais sonhar ou debater.

Quando você percebe que não terá a mulher dos seus sonhos, jamais – ou a capa da revista, sequer a coelhinha -, o emprego, a casa, nem o cachorro ou a pia, não comprará o tênis ou o celular almejado, na época correta?

Quando você percebe que não é possível abraçar o mundo, não importa o tamanho dos seus braços? Que carregar o peso nas costas só lhe rendeu escoliose. A alegria não consiste em querer mais do que pode-se ter, mas em não querer mais o que não se pode ter.

Quando você percebe que a tosquice não atrai mais, que somente o conforto é tolerável?

Quando você percebe que não é talentoso como costumavam dizer, que não há oportunidades para explorar seu potencial, ou se existiu, elas já passaram? Quando você percebe que talvez nunca teve um dom, mas haviam lhe jurado que todos têm um? Quando você percebe que o que você fez e julgou genial, só importou a você e a mais ninguém, pois a fama jamais virá, tampouco a glória? Tudo é fracasso.

Quando você percebe que o certo agora é errado, e o mal de repente é bom?

Quando você percebe que a vida é apenas isso, ou até que seja mais que o que você pensava? Quando você percebe que não há mais volta, ao mesmo tempo em que parece não haver um futuro promissor? Que sonhar sem realizar é pior que realizar sem sonhar.

Quando você percebe que não vibra como costumava vibrar, ou como pensasse que iria vibrar por alguma vitória ou conquista? Quando você percebe que o que você sempre valorizava não é tão valioso assim e o que você nunca deu valor, talvez seja o “bem” mais precioso? Quando você percebe que todos seguiram as suas vidas, inclusive você!, mas a grama deles parece-lhe mais verde? Que nada lhe satisfaz como quando criança ou em momentos de euforia.

Quando você percebe que o tempo antes parecia não passar, depois parecia não acabar e agora parece voar? Quando você percebe que você se atola, jura que vai sair do lamaçal em breve, mas acaba indelevelmente caindo em outra areia movediça?

Quando você parou para pensar que você não pára para pensar? Então percebe que isso é ser parado, e segue. Quando você notou que suas notas não lhe dizem nada, o que dizem são as suas anotações e as listas? Listadas por outros, claro, que lhe listram, porém você se lixa. Mas nunca se acha o lixo, exceto em momentos que você não se lixa.

Quando você percebeu que simplicidade e complexidade são estados de espírito?

E qual a sua reação perante tudo isso? Foge, fica, luta, esquece, tolera, encara de frente, de lado, ou de costas? Pensa em assassinar, ou em suicídio? Sabe que é capaz de ser homicida, mas não o é, por puro medo da punição? E o suicídio – punição a quem?

Qual o valor que, enfim, dá à Vida? A sua vida, a dos outros, da sociedade, do planeta, do espaço e da prática – ou teórica.

Se você já passou por todas essas divagações, dúvidas, indagações e duas vidas, ou é um velho que já viveu muito ou é um jovem já velho, que não quer viver muito. A esperança acabou? Ou sua mente é que já era? Fazer sem pensar ou pensar sem fazer – só isso é possível.

.-_/,>:^}`~

.Intercalando textos e poemas.

Recesso do Progresso

A minha vez eu passo,
Enquanto encaro o palhaço,
Que faz graça no paço.
Devagar a vida passo...

Enfim, gritam-me: Você está preso!
Logo meus pêlos ficam acesos,
Muitas saídas fornecem acesso -
Eis aqui a fórmula de meu sucesso.

Instalou-se por aqui um posto Esso,
Pergunto aos caboclos: É só isso?
Interpelam-se se sou um omisso;
Pode significar algum progresso?!

Deduzo que é apenas o recesso.
Deixa o povo deveras disperso.
Repenso. Apenso dispenso um riso,
Asseguro-me que seja conciso.

Fala-se esta falácia:
Progresso está recesso.


Soneto da Memória Perdida

Única ferramenta de trabalho
Mister para ouvir: Tu és inteligente!
Meu labor, pela memória atalho
Assim julgo a minha vida decente

Insiste meu cérebro a ficar lento
Crepúsculo nessa senil idade
Não tenho mais reflexibilidades
É a morte de todo e qualquer talento

Luta diária do então grande homem
De pé, contra organismos que o quê comem?
Corroem, minha ufania é ferida

Fato não me apresenta como crível
Fim da relação outrora sensível
A decadência orgânica da vida

.
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Para compensar duas poesias perdidas fiz duas, "achadas".
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14 de julho de 2009

Indagações acerca da Utilidade Social

Há sentido social não sermos patriotas ou nacionalistas? Anarquismo é Anti-humanismo? Solitários, eremitas, excluídos, ilhados e pessoas que vivem no ostracismo devem manter suas posições enquanto não mudarem suas mentalidades e agirem em prol de todos? A “utilidade social” de cada indivíduo é a melhor medida do valor de sua existência? O utilitarismo e o liberalismo influenciaram tanto que ideais comunistas de solidariedade tornaram-se a dialética do atual momento?

Apesar do pós-modernismo incentivar a identidade pessoal ao extremo, o que cada um busca é mais status social e poder? Enquanto vaidade e posição na pirâmide estratificada? A tecnologia e canais ágeis de comunicação é o maior paradoxo nesse sentido? Pouco contato “orgânico”, mas contatos em abundância, apesar de predominantemente mais superficial que no passado, e maior necessidade de aprovação e aceitação dos outros, na construção das identidades. Isso é apenas por fama e sentimento de pertencimento? Ainda que Ad Hoc? O Twitter é, hoje, o maior símbolo/sintoma desta análise/cogitação, ou patologia/neurose?

Quem ou o que decide o que é útil socialmente? O Mercado, as elites, as tendências, os formadores de opinião, demandas (potenciais ou suprimidas ou atendidas)? Em um mundo dominado pela I.A., as demandas não seriam mais fácil e rapidamente atendidas? A eficácia da utilidade não seria muito superior a qualquer tentativa humana? Se for assim, são óbvias a nossa obliteração e a alvorada do racionalismo frio e inorgânico, mas mais adaptável e eficiente?

Indago tanto porque para mim a interrelação Sociedade x Individualidade, ou Sociologia x Psicologia, sempre foi muito complexa e difícil de assimilar. Assim como a relação Generalista x Especialista – escolher entre fazer muitas perguntas, com dificuldade em respondê-las satisfatoriamente, e fazer escassas perguntas, mas com respostas profundas e com grande embasamento.

Para se libertar de tamanhas angústias, são necessárias respostas simples que acalmam? É um imperativo para se viver melhor, ou ainda, para (sobre)viver? Sendo assim, isso é desejável ou aconselhável? Precisamos dar nossas próprias respostas, toscamente inventadas, ou baseando-nos em influências que julgamos, até então, como as mais úteis e melhores?

Só o estudo – e muito! – dará respostas concretas e legitimadas? Mas e o tempo para dedicação? Leigos e sequiosos de sapiência devem fazer o quê? Deixar de questionar, pesquisar concentradamente um único assunto ou refletir a partir de observações e não pela erudição, ou o oposto?

Sobre as angústias, é melhor ter poucos desejos e ambições, afinal é impossível anulá-los, para não sofrer por não conseguir liberá-los e/ou satisfazê-los? Ou seja, o importante é preenchê-los, não importa na quantidade que venham (apesar de que quanto mais, mais difícil é acalmar todos eles)? Ter cada vez mais desejos sem aplacá-los só tende a trazer frustrações? Isto não está relacionada à Sociedade x Individualidade? Afinal, os desejos surgem e se dirigem para qual parte?

O importante, no final das contas, é viver? Mas de que vale uma vida que apenas se vive? A recompensa que a sociedade e o governo podem dar é a aposentadoria, ao menos aos comportados pagadores de tributos, sem fortuna, em troca de uma vida, ao menos profissional, insossa? Então, assim, quando já não há mais tanto fôlego e energia ou espírito rebelde e juvenil, guiado por hormônios e instintos que nos irracionalizam, desfrutamos, enfim, do ócio; há sentido nisso tudo?

Se não houve um caminho construído para que no final se possa refletir e agregar conhecimento, diligentemente, para quê descansar? A utilidade, logo, é exclusivamente para cuidar da família e de suas gerações vindouras? Novamente o retorno da interrelação Sociedade x Individualidade...

É uma pena que isto não é uma sala de discussões, e que poucos se dispõem a ler, quiçá a contribuir para o esclarecimento; minhas interrogações persistirão e conviverei com as angústias, ou forjarei respostas. Somos assim: vivemos em dúvidas, ou seriam dívidas?...

5 de julho de 2009

Duas poesias com vários joguetes

Inspiração expirada

Inspiração expirada ante a ação atrasada
Insulação norteada – expiração inspirada

Instrução excluída, execração insistida
Expiação incidida, insinuação exercida
Insuflação exaurida, exalação insípida
Insalivação expelida, exação d’inseticida

Insurreição expectada, exoneração insubordinada
Instrumentação exacerbada, exautaração insidiada
Exemplificação insignificada, inseminação experimentada
Exasperação insofismada, instigação excogitada

Incineração instaurada, insultada a insinuação
Incentivada a insatisfação da instituição inspecionada
Excitação exaltada pela exerdação exigida
Explicada a extirpação expressada em extenuação

Exorcizada a expurgação, excomungação da incestada
Exterminação da extrema ação inspetada
Exclamação exagerada da expansão inspissada
Exornação executada pela extração incitada

Estada instada com insolação exsicada
Instalação expropriada, insuspeição excetuada
Explanação expobrada, exumação expatriada

Interno ou Externo – inspiração expirada


Afinal

O perdedor perde a dor e pede amor
Amora pode morar – É o poder do
Pó-de-arroz. Atrás o ator é atroz – À toa é Thor

O mar amordaça, o morcego morde a morsa
Despede-se do triz e despe a atriz
Além-da-lenda é lida na leda tenda

Sei nissei, sansei não sei. No seio
Assento-lhe, anseio, sinto-lhe e asseio

Rogo a Hugo, roa logo – rho u go?

Faço e desfaço o embaraço e o cadarço
A face disfarço e refaço meu maço
Maçante é a graça de relar na taça
Relaxe a massa, o laxante é de graça

O tolo destrona, o rei terá o trono
Deidade destoa e reitera a Cronos
A medida do médico é cumprida
Ele mede com métrica comprida

Incide um acidente reincidente
O dente do ente demente e doente
É mais acidental ou um indicente?
De repente o repente penteia e ateia
A pira que respira e a atéia que atira

Afinal, o início é final ou indício do mal?

4 de julho de 2009

Medo: Propriedade e Perda

Quanto mais se tem algo a perder, quanto mais esforço dispendemos na conquista de algo, quanto mais amamos ou valorizamos as nossas propriedades, considerando-as como nossas, únicas e insubstituíveis, quanto mais competimos no sentido de auto-afirmação, enfim, quanto mais incrustamos a noção de que a nossa vida é uma jóia a ser preservada, mais sentimos medo. Basta a sensação de perda, do perigo que está próximo, da tragédia que parece anunciada, do desastre inevitável, da segurança aparentemente impossível de ser definitiva, para enraizar na mente, conscientemente ou não, essa figura terrível que insiste em nos acompanhar – o medo, o pavor, a fobia, o temor, o terror, o pânico, o desespero, entre outros sinônimos.

O progresso científico e tecnológico parecia prometer a resolução deste “problema”, garantindo que a natureza (1) estaria sob controle, que psicólogos e comprimidos revolveriam nossas angústias e perigos internos (2) e até que os outros (3) seriam passíveis de vigília (1984?). Esses três grandes e antigos “perigos” que afligem a humanidade desde a sua existência, foram promessas de políticos, filósofos e cientistas de que o homem poderia se livrar de seus medos, uma vez que bastaria conhecimento e planejamento para evitar imprevistos “indesejáveis”. Ah, arrogância positivista! Não conseguem admitir que o acaso existe, que o homem É limitado para saber e prever tudo, que a natureza tem seus “truques”, que nós podemos ser ou não perigosos a nós mesmos, não que isso necessariamente seja ruim, que a ameaça do outro pode mudar minha vida para melhor ou para pior e que nenhum homem é totalmente racional, logo, imprevisíveis emoções podem gerar ações inimagináveis, mesmo em um ambiente controlado. Além disso, ter medo é um problema? Não é o estado de desequilíbrio que nos move e nos faz superar desafios importantes?

Câmeras, seguranças, revistas, aparelhos de última geração, satélites, sistemas computacionais de rastreamento: tudo isso, de fato, aumenta a sensação de segurança, inibe criminosos, favorece o controle da natureza, diminui a probabilidade de atentados e atrocidades. Todavia, não é um preço muito alto a ser pago pela nossa liberdade? Viver com esse monitoramento não dá a impressão de uma falsa segurança? Afinal, é quase como viver numa ilha ou num recinto hermeticamente fechado a ameaças naturais, humanas ou virais. É uma esquizofrenia da sociedade pós-moderna, ultra-desenvolvida, que para se livrar do medo do externo precisa ficar doente, só que sem admitir isso. Ela sempre julga que a causa de seu infortúnio é outrem, pois ela se precaveu de todas as formas. Há uma linha divisória de difícil acordo entre a segurança e a liberdade. Quem decide para que lado a balança vai pesar mais? Qual o sentido em sentir-se seguro e não ter liberdade? Vale mais viver como os primitivos, inteiramente livres, mas com segurança quase zero? A segurança foi a causa (ou efeito) de nossa “evolução/progresso”? Enquanto que a liberdade sempre foi sonho de idealistas?

Quanto mais imprevisível, difuso, flutuante é o perigo, mais assustador ele nos parece. É a mania de saber de nossa sociedade. Não saber é uma loucura, pois o conhecimento se tornou universal e acessível de qualquer lugar. É o Fear of the dark, a incerteza que causa dúvidas agonizantes. Estar preparado, pelo aprendizado e/ou pelo dinheiro, às ameaças é a única forma de termos conforto, quem é capaz disso – ou que deposita no estado ou em uma guarda particular – pode então viver em paz. Qual o sentido disso tudo? Ter mais, apenas para proteger sua opulência, sentindo-se infeliz da mesma forma que quando se tinha pouco? Diminui ou aumenta o medo? Não seria um círculo vicioso e um desejo absurdo de ostentação, uma vez que por dentro a pessoa está sempre insatisfeita? Na hipótese de que o medo cessasse, não seria um tédio?

Uma sociedade neurótica como a americana, que vive com medo, e talvez até pelo medo, sente mais ou menos medo que os habitantes do terceiro mundo (em desenvolvimento ou estagnado na miséria)? Creio que haja uma cultura do medo, retroalimentada pela mídia e pelo capitalismo: As pessoas sentem algum medo, o marketing aproveita essa oportunidade e vende seus produtos (games, notícias, filmes, livros, séries), o público compra e amplia tanto o seu medo quanto o daqueles quase sem medo, que volta a ser alimentado por mais produtos, com nova roupagem, tornando-se uma overdose, talvez até uma neurose na população. Dificilmente algo dá mais lucro que o medo: as compras são por impulso, a demanda se eleva repentinamente, sem possibilidade da oferta acompanhar, assim os preços são inflacionados. Não seguir o rebanho parece suicídio! Companhias de seguro e especuladores se deliciam. Que ótima ferramenta para o capitalismo!

Entretanto, é inegável que a sociedade industrializada e rica é mais segura que uma pobre, cheia de conflitos e desigualdades como a latina, árabe e africana em geral. À exceção de catástrofes naturais que são relativamente iguais em todos os lugares, criminosos são, proporcionalmente, em número muito maior e o de detentos é muito menor, o que parece incentivar um cidadão a se render ao crime. No entanto, as manchetes parecem transmitir que a violência nas sociedades é nivelada – ou até maior nos países desenvolvidos. Para mim, justifica-se na venda da notícia e na mídia sensacionalista, que se espalha, e no sentimento de perda: um rico parece ter se esforçado muito mais para conquistar seu patrimônio, além de sua vida e de suas riquezas valerem mais que as do pobre.

Assim, o medo parece que nunca morre. Se alguém está sem condições de ter segurança, se não deseja perder o que se tem ou se está à mercê do destino, motivos não faltarão para se sentir medo. A solução é aprender a conviver com ele e torná-lo um aliado do progresso. Saber diferenciar propaganda de um perigo real e imediato é útil também, um cândido feliz e despreocupado é ruim, pois esquece que há ameaças práticas. Tenhamos medo, sem ser covardes; aprendamos a conviver com ele, sem ser conivente; sejamos atuantes, com consciência de nossa limitação.

P.S.: Sem dúvida, há mais o que ser dito, mas para um post está bom.