28 de abril de 2011

À droite e à gauche

Efeito de perspectiva; dos ruídos da aparência a oitiva. Ambiente que, em sua variedade, invariavelmente, a vários muda a mente. Avançar em idade, o que muitos, cometendo um equívoco, generalizam em maturidade.
Quem se satisfez ou se acomodou com seus objetivos ou suas metas – como se em viver houvesse finalidade, mesmo que específica a cada vivente – guinou à direita. O jovem é sonhador, falange de hormônios em conflito que supõe-se tender a revoluções; angústia que rebela. Basta dar-lhe pequenos desejos, ou basta a conquista de pequenas vitórias, que sua impaciência se reduz consideravelmente.
Faz-se exceção aos compulsivos e aos hospedeiros de outras psicopatologias que apetecem egos inseguros. Traumas de infância, que geralmente são provocados por infantis personalidades que ora protegem em demasia e ora exige em excesso; intervenções intempestivas e tempestuosas. Tempestades que parecem não acabar para quem não estava preparado para passar pelo olho do furacão.

Cobras matreiras que aprenderam e improved a eficiência da manipulação pela manutenção do status quo e da “ordem social”. Povo hedonista que se tranquiliza morbidamente com os prazeres alcançáveis, mas nem tanto, inventados e empurrados pelos publicitários de plantão.
Condicionamento concebido e concretizado por sacerdotes que se atualizam e se revezam no altar. É impressionante essa evolução de técnicas obtusas paralelamente à educação (quase) universal e ao intercâmbio exponencialmente crescente de informações e ideias. Todavia, mobilizações subversivas se arrefeceram, ou viraram clichês, ou ainda migraram para os sítios reclusos da grande rede mundial.
Ademais, a direita ruge e se diverte com o imobilismo da esquerda de ideias e ideais repetidos, quiçá arcaicos, mesmo que corretos, quem sabe apenas teoricamente, que, contudo, não se difundiram e se enraizaram na massa incauta, sedente e esfomeada por pragmatismo. Abstrações da teoria exigem atitudes e pensamentos como que transcendentes, num círculo de divinos e/ou oniscientes: “é certa coisa de outro mundo, meu filho”.
A cesta básica mensal e o conserto do fogão têm mais valor; o populismo é efetivo, pois sempre haverá alguém disposto a se deixar enganar e favorecer outrem, desde que resolvido seu problema momentâneo. E não faltarão raposas que retiram seu alimento instantâneo e sua riqueza consentânea da miséria alheia. Incômodo será quando esses animais de famintos olhos se aglomerarem e, sem limites, destruírem tudo em volta – espólios.
Porém, os impostos garantirão a sobrevivência dos predadores que descansam em piscinas; o turbilhão da crise dissipar-se-á, enquanto a base, e até mesmo o centro, da pirâmide paga as fichas da jogatina. E pode apostar que esse nocivo ciclo voltará a acontecer. Ninguém largará o osso voluntariamente, ainda mais se o seu vizinho (raposa, hiena, abutre?) estiver de olho em sua diversão.

O sonho metafísico do paraíso medieval foi estilisticamente transformado no sonho materialista americano (fama e grana). Efeitos colaterais dessas plásticas são secundários, irrelevantes, mundanos.
A fim de legitimar o processo, ciências são instrumentalizadas em prol do sistema defendido por seus operadores e seus investidores. Bem como é condicionada a massa popular a pensar como eles. Hoje é o “fique rico ou morra tentando”, antes era o “ora que melhora”, ou então “o salvador voltará”, entre outros slogans alucinatórios; ilusões que regozijam o poder. Perca-as!
Crítica, ceticismo, resistência e combate como contraponto à inércia transmitida pela corrente do sistema, em prol do conhecimento pessoal e interpessoal. Eis o lema.

14 de abril de 2011

De volta às reflexões toscas

O existencialismo humanista afirma que todos devem se responsabilizar, e não apenas por seus atos, mas como se cada ação fosse realizada visando a humanidade e o bem comum. Logo, a angústia será inevitável, pois além de carregar o fardo de sempre ser culpado, não haveria como o indivíduo saber se as escolhas tomadas, de fato, melhoraram a vida do próximo e dos incontáveis desconhecidos. O livre-arbítrio é tido como irredutível, o homem é condenado à liberdade, não se admite justificativas ou desculpas pelos atos, ou seja, todas as pessoas têm consciência plena das circunstâncias e de suas decisões. E são sempre culpadas.
Ora, então não existe qualquer tipo de determinismo e nem se admite que pressões sociais, históricas ou políticas como condições superiores ao poder individual que, por vez, pode tecer a “linda” teia da humanidade. Portanto, ninguém pode fazer quaisquer concessões para ter benefícios, pois comportamentos radicais são restritivos. Pode-se chamar esta doutrina de estoica? É uma ética dicotômica, ou tudo está conforme se pensa e idealiza como justo e correto, ou deve-se optar pela abstenção, para não cair em hipocrisia. Pois bem, quem é que consegue ser um monge hoje em dia?
As paixões, o id, são maiores que nosso autocontrole, quem as reprime restringe sua capacidade de gozar a vida, e privilegia o logos em detrimento da vontade, que na verdade nos comanda. Acredito que decidimos antes de tomarmos consciência disso e que não há pensamento desinteressado. Porém, como adivinhar qual era a intenção, original, e de onde ela partiu? Somos passíveis de decifração, apenas não surgiram métodos filosóficos, ou antropológicos, ou neurológicos, suficientemente complexos para responder mais satisfatoriamente às idiossincrasias do homem.
A mentira e a tolerância caminham juntas, e como não há metafísica, não há dívida moral ao alcance de objetivos que impeça de se servir de meios em que ninguém se machuca ou perde. Eu mando o imperativo categórico para o lixo, afinal tudo é contingencial e hipotético, valores e princípios devem ser relativizados. O mundo das virtudes é platônico, kantiano, hegeliano – cristão; a práxis exige mais ação instintiva e menos hesitação moralista. Não há bem ou mal, há sucesso ou fracasso. Os dilemas emergem e não há resposta exata para eles. O que há são evidências e decisões baseadas em probabilidades.
A política é o jogo dos interesses, alguém – ou quem sabe todos – ficará insatisfeito, ou pelo menos não plenamente contente. Porém, a algum acordo, a alguma decisão, se chegará; a democracia é a maneira mais legítima de se estabelecer consenso. É claro que os nossos representantes políticos não espelham como a sociedade deveria ser, e muitas vezes nem o que ela é, mesmo em perspectiva de segmentos ou de nichos, contudo foram as peças postas à mesa, que melhorias sejam feitas. A menos que aconteça uma revolução, que na grande maioria das vezes é frouxa, visto que é deposta por outra, convivamos.
Fino equilíbrio, quem melhor agradar o povo, ou convencer de que está agradando, mais tempo ficará no poder. Os caminhos do indivíduo e da sociedade sempre se cruzam, todavia pensar que um ser humano que não se encontra no topo da pirâmide mude o mundo, como a fábula do beija-flor apagando incêndio, é prepotência. Pense globalmente, aja localmente. Mas, de fato, a mobilização tem um certo poder de provocar mudanças. Que cada um carregue o peso de seu mundo, e seja proporcionalmente fiscalizado por isso; chega da exigência de uma nação de Atlas.
Fatídico político sem mediador. A hierarquia continuará a existir, e a justiça, no caso, consiste em distribuir as benesses e as cobranças gradativamente, com punições burocráticas, além do inevitável julgamento subjetivo e efêmero do público. Contra a homogeneidade. Por um egoísmo responsável e por uma distribuição meritocrática e ligeiramente solidária de riquezas. Que os economistas respondam qual é o melhor modelo a ser adotado e que os cidadãos elejam quem os beneficie.
Bem, o exposto pode não ser um sistema filosófico, está mais para um desabafo anárquico, porém, interpreto como um ensaio que defende mais a liberdade que a doutrina que critiquei acima, e que faz mais sentido cobrar pela responsabilidade individual. Como deveria ser definida a humanidade, ou o humano? Pelo pensar, pela razão que o permite dominar quem não a possui ou não a utiliza? Tamanhas análise e racionalidade enxergam o mundo mecanicamente. Os instintos e os sentimentos também têm direito à liberdade. Somos mais prisioneiros do que homens livres. Nossa mente ainda não atingiu o potencial suficiente para dispensar o corpo e ultrapassar os limites atuais do livre-arbítrio.


P.S.: Falei e ouvi demais durante as últimas semanas, então justifico minha ausência, até porque costumam ser as pessoas próximas a mim que leem este incongruente blog.