27 de fevereiro de 2010

Nothing to Say

É assim, não há nada a dizer, escrevo para relembrar, que significa sentir que aconteceu, ou não faria sentido viver com amnésia, sem história. Ou isso não importa, deve-se viver visando o futuro, aproveitando e deixando o presente para trás e como uma dádiva de oportunidade.

Algo mudou, não sei explicar. Sim, houve fatores externos. Só que o sentimento interno foi mais importante. O pessimismo permanece, mas a angústia não. Significa que me tornei resignado? Apolo me livre disso! Quem sabe amadurecer seja apenas perder a rebeldia juvenil que emana dos hormônios.

Talvez fluidos renovados com novidades arrefeçam nosso espírito. Quero continuar indômito e incomodado com algo, com ou sem explicação. É claro que quando há um alvo definido a aflição diminui, há utilidade em se conhecer o inimigo ou o destino.

O ímpeto e a veemência de explorar o que é novo e bom passam depressa, sim, depressa demais. Mas como saber se é paixão ou amor? É mais fácil dar um salto de fé em algo com potencial do que condenar a priori ao fracasso a situação, por falta de coragem. Pode-se aprender a amar ou isso só existe à primeira vista, com a ganância de satisfazer sua enorme vontade?

A vida é como uma rapadura, doce, dura e disponível para todos. Mas nem todo mundo a aprecia. Sou um canastrão com essas velharias que não funcionam? Acho que não, apesar de que a sinceridade tem um custo tão elevado quanto à mentira, assim como o ostracismo e a popularidade, cada um faz uso da estratégia que se adaptar melhor em seu relacionamento interpessoal.

Acho bom remexer em coisas antigas que se encontravam paradas, enferrujando, embolorando e amarelando. É a nostalgia de rir, chorar, se espantar em como mudamos, para melhor, pior, ou apenas diferente. É certo que não ficamos indiferentes. O tempo só existe para o que não dura, e nós somos o que há de mais efêmero no mundo. Como encarar naturalmente que o ontem é só o que fazemos dele hoje?

Psicopatologia contemporânea: Antidepressivos – Viagra do ânimo; Analgésicos – alívio superficial de dores profundas; Opioides – drogar-se sem culpa; Anfetaminas – bulimia por um suposto padrão social e obsessão por stress; Neuroses – histeria narcisista. O corpo aprende a tolerar e vem a dependência. Para a mente preparada não é preciso grandes estímulos, o pavio é curto, sutilezas resultam em explosões.

Enfim, alimentou o ego, surgiu o homem com disfunções psicológicas. Era de se esperar que poucos suportassem a morte de Deus. Queremos nos sentir grandes, mas não podemos nos achar os maiores, é preciso um chefe. Por isso socialmente a ciência não é eficiente para as angustias existenciais. A cura é interna e não vem em cápsulas.

Por que fatos e conhecimentos importantes se perdem, enquanto ninharias e casos que não fizemos a menor questão ficaram gravados? Sem dúvida, estranha fenomenologia. Quem realmente comanda nesta potência? O inconsciente persiste como enigmático.

Galadriel e estórias do anel. Melkor e estórias de terror. Mundo fantástico que me cativou tardiamente. Mesmo inútil, somou-se a meu background, que antigamente era focado em notas sonoras e agora se concentra em notas literárias, até em demasia para minha capacidade de processamento. Vejo que se originam daí as minhas atuais, ou nem tanto, agonias. Overload informations in an old and limited software.

Por isso minha indolência com este diário: cerca de 2000 páginas lidas em 2 meses. Sem propósito algum além de curiosidade. Se bem que há um imperativo qualquer que me impele a isso. Mas nesse ínterim não vieram grandes idéias, nem mesmo fantasias criativas me entusiasmaram. Mas tenho a insegurança de me achar ultrapassado e clichê. Fazer algo só por volume me acomoda, e acabo parado. Que eu me inspire e perceba originalidade em mim.

Um comentário:

  1. Palavras apenas
    Palavras pequenas
    Palavras, momentos
    Palavras, palavras
    Palavras, palavras
    Palavras ao vento
    (Cássia Eller)

    Palavras não ditas, a quietude do silêncio, falam muito mais que as palavras verbalizadas, que as vezes aniquilam, intimidam, perturbam e desnorteiam...então, palavras pra quê?
    O mistério, a voz interior, o olhar, o toque, o sentir, o silêncio que diz tudo... muito mais do que todas as palavras
    Qualquer paixão não serve, precisa ser especial, precisa comungar, precisa de carinho, precisa de companheirismo... a lua, as estrelas, a saudade, o desejo... tudo vem ao vento, ao tempo, é o recomeço daquilo que nunca se foi embora, daquilo que sempre existiu e permanece mesmo na distância.
    A velha música, o cheiro e aquele quadro... dispensam as palavras, é a sensação de um futuro juntos a volta da cumplicidade, o encontro,a ternura, a plenitude ... ah, o silêncio falará por nós.
    Como dizia o grande poeta:
    Por muito tempo achei que a ausência é falta.
    E lastimava ,ignorante, a falta.
    Hoje não a lastimo.
    Não há falta na ausência.
    A ausência é um estar em mim.
    E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
    que rio e danço e invento exclamações alegres,
    porque a ausência, essa ausência assimilada,
    ninguém a rouba mais de mim.

    Os pensamentos são mudos, carecem de sons, o silêncio é a melhor resposta, é dar ao outro a oportunidade de pensar em sua vida, em suas atitudes e em seu comportamento.

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