6 de dezembro de 2010

Crônica de +1 ateu

Mitologia pode ser entendida como o conjunto, ou estudo do conjunto, de mitos, geralmente se restringindo a uma determinada cultura ou povo. Os mitos seriam definidos também como invenção de estórias para entreter e transmitir valores à população, assim como os filmes, livros, games, entre outros hobbies de hoje o fazem. Pena que não se admite isso com as religiões e os livros sagrados que contam com grande número de seguidores.

É interessante como estudo antropológico, fonte de cultura e diversão. O resto é para amenizar as fraquezas e decepções da vida. Deus é obviamente invencionice humana e manipulação de massa. Assim como cada nova religião e igreja é reedição da anterior, pois ninguém cria do nada, todo ambiente influencia. Mas presumir as lendas como verdade é proclamar-se louco, em devaneios.

Para mim é perfeita a comparação com a saga do Senhor dos Anéis e, mais especificamente, do Silmarillion: um mundo inventado e fantástico, com lições práticas e moralismos (só que mais subjetivo). Todavia, eu sei que é apenas fruto da imaginação de um nerd recluso. E não preciso concordar com nada, apenas admiro sua literatura. Infelizmente, é impossível convencer os fiéis disto: que não passa de fábulas e escritos de qualidade, ou não!
Fazer o quê se a melhor desculpa de deus é não existir?

As mitologias, ou coleção de lendas, são inúmeras, vastas e riquíssimas. Cada uma expressa o ambiente, os feitos e as projeções de um povo ou nação. É claro que todos se vangloriam de serem os melhores, donos – ou filhos dos donos – do mundo. Então eu pergunto: em que as grandes religiões expressam as necessidades e realidades de um povo que matou deus e venera a tecnologia?

Eu entenderia mais facilmente o culto a Windows, Linux ou Playstation do que a Jesus, Alá ou Shiva. Não somos mais guerreiros nem pecadores, somos hedonistas competitivos e ególatras. Nossos ídolos e santos são os mestres do esporte, dos negócios e das ciências.
Já há hinos, odes, templos, lendas e afins dedicados a eles, afinal nós somos uma sociedade imagética. Entretanto, parece-me que fundar uma igreja em adoração a tal pessoa/divindade seria exagero e insanidade. Até porque temos fontes de pesquisa e capacidade de contestar as origens. Diferentemente de outros idos, quando a contestação dos reis e faraós filhos dos deuses era punida com a morte.

Fica outra pergunta: qual a diferença dos feitos dos heróis e profetas modernos daqueles de Jesus, Maomé ou Moisés? Cada um superou os desafios impostos e foi modelo de atitude. Bem, antes o povo era cego e violento, e não tinha como checar os relatos, ou se acreditavam ou agredia. E hoje?

Pois bem, não faz sentido reverenciar figuras que têm pequenas antigas lições a ensinar. Eu adoro Homero, Aristóteles e Demócrito, mas não faço preces a eles. Para mim, basta todos esses homens e símbolos servirem de história, etimologia, alguma práxis e nomes no calendário. È justa a homenagem a grandes homens e povos.

Não existe pecado nem heresia e nem profanação; a crítica, a zombaria e os erros são permissíveis em qualquer lugar. Só que há pessoas iludidas e deslumbradas com as promessas dos imperialistas de plantão e aceitam ser gado. Pois é, poderiam fazer o favor de apenas mugir...

Liberdade de expressão ainda é um luxo. Na maioria dos países e grupos locais persiste a lei hierárquica de só o chefe ter direito a dizer verdades, enquanto o restante apenas assente. O frustrante é perceber a somatória dos que não se rebelam diante de tamanha opressão. Ainda temem ser condenados por lesa-majestade.

A punição física é nosso medo primitivo, por outro lado a punição psicológica e social é nosso medo moderno. Assim, se entende a homogeneidade que não parecia reverter a entropia iniciada pelo iluminismo. Ao menos os dissidentes agora têm seu espaço e sua voz, mas são massacrados e abafados por gigantes conservadores. Os novos jesuítas continuam exterminando ritos locais, através da globalização, substituindo-os pelo monopólio fútil do lucro ad hoc. Ou seja, o processo é lento, as revoluções são microscópicas socialmente.

Pode não haver mais condenação à morte por divergência de idéias, como outrora nos Estados Papais – apesar de ser semelhantemente aplicado nos atrasados Estados Teocráticos ou dos aiatolás –, contudo, há escárnio por posturas peculiares. Eu acho tão tolo alguém ir rotineiramente à missa ou a sessões de descarrego quanto alguém se achar um jedi ou um vampiro, só que os jogadores de RPG não moralizam suas atuações. Já os crentes são famosos por sua devoção e seu fanatismo e os católicos são coniventes com uma instituição que matou cerca de 10 milhões de “infiéis” ao longo de sua triste existência. (Não opino sobre religiões orientais por ignorância.)

Falta de fé é apenas falta de vontade para acreditar em lorotas, mas podendo rir delas. Não se pode confundir com qualquer atitude ou predisposição para o “mal”, provocadas pela pretensa “falta de deus no coração”. Todos recusam os deuses de outras religiões, os ateus apenas não aceitam divindades de alguma em especial. Qual obstáculo há para atravessar esta ponte? Ah sim, o do medo. Medo de caminhar com as próprias pernas e idéias...

Nenhum comentário:

Postar um comentário