14 de abril de 2011

De volta às reflexões toscas

O existencialismo humanista afirma que todos devem se responsabilizar, e não apenas por seus atos, mas como se cada ação fosse realizada visando a humanidade e o bem comum. Logo, a angústia será inevitável, pois além de carregar o fardo de sempre ser culpado, não haveria como o indivíduo saber se as escolhas tomadas, de fato, melhoraram a vida do próximo e dos incontáveis desconhecidos. O livre-arbítrio é tido como irredutível, o homem é condenado à liberdade, não se admite justificativas ou desculpas pelos atos, ou seja, todas as pessoas têm consciência plena das circunstâncias e de suas decisões. E são sempre culpadas.
Ora, então não existe qualquer tipo de determinismo e nem se admite que pressões sociais, históricas ou políticas como condições superiores ao poder individual que, por vez, pode tecer a “linda” teia da humanidade. Portanto, ninguém pode fazer quaisquer concessões para ter benefícios, pois comportamentos radicais são restritivos. Pode-se chamar esta doutrina de estoica? É uma ética dicotômica, ou tudo está conforme se pensa e idealiza como justo e correto, ou deve-se optar pela abstenção, para não cair em hipocrisia. Pois bem, quem é que consegue ser um monge hoje em dia?
As paixões, o id, são maiores que nosso autocontrole, quem as reprime restringe sua capacidade de gozar a vida, e privilegia o logos em detrimento da vontade, que na verdade nos comanda. Acredito que decidimos antes de tomarmos consciência disso e que não há pensamento desinteressado. Porém, como adivinhar qual era a intenção, original, e de onde ela partiu? Somos passíveis de decifração, apenas não surgiram métodos filosóficos, ou antropológicos, ou neurológicos, suficientemente complexos para responder mais satisfatoriamente às idiossincrasias do homem.
A mentira e a tolerância caminham juntas, e como não há metafísica, não há dívida moral ao alcance de objetivos que impeça de se servir de meios em que ninguém se machuca ou perde. Eu mando o imperativo categórico para o lixo, afinal tudo é contingencial e hipotético, valores e princípios devem ser relativizados. O mundo das virtudes é platônico, kantiano, hegeliano – cristão; a práxis exige mais ação instintiva e menos hesitação moralista. Não há bem ou mal, há sucesso ou fracasso. Os dilemas emergem e não há resposta exata para eles. O que há são evidências e decisões baseadas em probabilidades.
A política é o jogo dos interesses, alguém – ou quem sabe todos – ficará insatisfeito, ou pelo menos não plenamente contente. Porém, a algum acordo, a alguma decisão, se chegará; a democracia é a maneira mais legítima de se estabelecer consenso. É claro que os nossos representantes políticos não espelham como a sociedade deveria ser, e muitas vezes nem o que ela é, mesmo em perspectiva de segmentos ou de nichos, contudo foram as peças postas à mesa, que melhorias sejam feitas. A menos que aconteça uma revolução, que na grande maioria das vezes é frouxa, visto que é deposta por outra, convivamos.
Fino equilíbrio, quem melhor agradar o povo, ou convencer de que está agradando, mais tempo ficará no poder. Os caminhos do indivíduo e da sociedade sempre se cruzam, todavia pensar que um ser humano que não se encontra no topo da pirâmide mude o mundo, como a fábula do beija-flor apagando incêndio, é prepotência. Pense globalmente, aja localmente. Mas, de fato, a mobilização tem um certo poder de provocar mudanças. Que cada um carregue o peso de seu mundo, e seja proporcionalmente fiscalizado por isso; chega da exigência de uma nação de Atlas.
Fatídico político sem mediador. A hierarquia continuará a existir, e a justiça, no caso, consiste em distribuir as benesses e as cobranças gradativamente, com punições burocráticas, além do inevitável julgamento subjetivo e efêmero do público. Contra a homogeneidade. Por um egoísmo responsável e por uma distribuição meritocrática e ligeiramente solidária de riquezas. Que os economistas respondam qual é o melhor modelo a ser adotado e que os cidadãos elejam quem os beneficie.
Bem, o exposto pode não ser um sistema filosófico, está mais para um desabafo anárquico, porém, interpreto como um ensaio que defende mais a liberdade que a doutrina que critiquei acima, e que faz mais sentido cobrar pela responsabilidade individual. Como deveria ser definida a humanidade, ou o humano? Pelo pensar, pela razão que o permite dominar quem não a possui ou não a utiliza? Tamanhas análise e racionalidade enxergam o mundo mecanicamente. Os instintos e os sentimentos também têm direito à liberdade. Somos mais prisioneiros do que homens livres. Nossa mente ainda não atingiu o potencial suficiente para dispensar o corpo e ultrapassar os limites atuais do livre-arbítrio.


P.S.: Falei e ouvi demais durante as últimas semanas, então justifico minha ausência, até porque costumam ser as pessoas próximas a mim que leem este incongruente blog.

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