11 de janeiro de 2011

A Conversa Fiada

Conversa fiada, falar por falar, a vida é longa, é preciso preenchê-la com venialidades. Se o papo me incomoda, não posso mandar calar a boca, porém eu gostaria de estar em outro lugar, e penso nisso, enquanto o(s) outro(s) se distrai (em). Por isso falo tão pouco? Quando me empolgo e falo, relativamente muito, sobre um assunto, que eu tenho ciência que nem todos se interessam, pergunto se estou sendo inconveniente, só que nem todos fazem isso. Quem é o chato aqui?

Inteligência social foi a primeira inteligência especializada desenvolvida pelos nossos ancestrais evolutivos. O autista é uma evolução da racionalidade ou é um atavismo que foi evitado através da seleção natural? Frieza e mecanicismo são o que muitos pensadores do futuro desejam para a humanidade, especialmente por meio dos biônicos. Será, de fato, difícil definir os limites entre máquina e humano? Até parece que essa seria a prática dominante. Não será! Bem, ao menos se não houver genocídio e matanças em escala global...

Fofoca faz a alegria da mente menos trabalhada - por favor, isso não é machismo. É um paradoxo, pois foi a mulher quem pressionou por módulos intelectuais mais técnicos, vez que a criação e educação de filhos, por períodos cada vez mais longos não é para idiotas. Porém, talvez a restrição de locomoção pela sociedade a reprimiu, tornando-a curiosa com o resto do mundo e intensivamente interessada por seu pequeno círculo, já que seu status era tudo o que ela tinha. Mas isto é fixo: gente inferior fala sobre pessoas, gente medíocre fala sobre coisas e objetos e gente superior fala sobre idéias.

Quando estou em uma fase menos fértil em idéias, com a percepção menos aguçada; ou tão calmo que não tenho estímulo para criar, pois a paz é inimiga da minha arte; ou simplesmente entediado e desistente do mundo; assim vejo como a sociabilidade se torna imperativa. É bom, pois pensar é sofrer, então fico mais feliz, porém a felicidade não me pertence, a acomodação e a rotina me tiram do sério, então me encho de hobbies e preocupações. Então ouço reclamações de minha falta de alegria e inebriação. O que posso fazer com meus olhos que enxergam o mal, quando vejo tudo negro? Deixo o conto de fadas para meu inconsciente.

É um cabo de força entre a melancolia e a esperança, apesar de minha tranqüilidade aparente. Agradeço a meus momentos de tempos, mas prefiro as batalhas da guerra, que é sempre interna. Meu maior juiz é o morcego de minha consciência. Alguns se arriscam a me decifrar ou a me ajudar, mas eu discordo e me recuso, mesmo dando brechas, por vezes. Coisa de turrão.

Ou talvez seja um cabo de força entre o gosto por mimo e o apreço por dificuldades. Afinal, pertenço à sociedade mimada pela propaganda e que culpa cada um pelos fracassos pessoais. E nos resta o tédio e o consumo voraz. Isto é, ou se aceita o vazio da pós-modernidade ou se busca compulsivamente o preenchimento de si em objetos externos. Todavia, é perene o hedonismo e a falta de comprometimento da massa alvo do marketing.

E para aqueles que não desenvolvem a cura do câncer, o sequenciamento do genoma, o estudo teórico da astrofísica, as estimativas do aquecimento global ou da próxima catástrofe da Terra, a viagem a Marte, entre inúmeros outros desafios de nosso século, resta aos medíocres a conversa fiada. E a compra da satisfação. Ou a maratona pela fortuna. Contudo, quantos fogem da caverna, quantos cortam os fios que os ventríloquos prendem a todos, que já nascem marionetes? São sutilezas, desafios não tão óbvios quanto os já citados, mas que a oscilação de isolamento e interação pode fornecer respostas, a quem se decide responder, claro que sem muletas.

Um comentário:

  1. E daí guri!! Faz tempo que não converso contigo e, durante minha ociosidade entre meus deveres, resolvi buscar, descompromissadamente, por algumas informações de antigas amizades. Pelo visto você não mudou nada, no entanto cresceu em conhecimento e descobriu uma maneira interessante de se expressar, já que não se expressa(va) muito através da fala.
    Espero que esteja tudo bem com você e sua família!
    Quando quiser tomar uma cerveja, estou à disposição.
    Um abraço!
    Laerte Scalco (laertescalco@hotmail.com)

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