25 de agosto de 2011

Apenas duas opiniões (doxas)

1 - Questões metafísicas persistem, as neurociências, que passaram a assumir o encargo (momentâneo) da filosofia contemporânea, o de acabar de uma vez por todas com a agourenta metafísica (para os lógicos, racionalistas e materialistas), parecem se julgar – sem qualquer modéstia – detentoras da teoria de tudo, assim como ramos especulativos da física, que já dão sinal de desistência dessa empreitada hercúlea, para não dizer onipotente. Basta aceitar o perspectivismo e a psicologia tradicional, que admitem subjetividades únicas, que por vezes são classificadas no mesmo rótulo ou padrão apenas por analogia, uma necessidade imperativa da nossa lógica maníaca.
Se fossemos apenas a matéria, ou seja, o cérebro destituído de mente/alma/espírito, um conjunto, mesmo que complexo, de processos físico-químicos, estaríamos reduzidos a um órgão, isto é, o eu, o indivíduo, o ser humano, seria a sua massa encefálica, e qualquer afirmação no sentido de efetuar projeções, imaginações e ideologias seriam quimeras de um maluco metafísico; que coisa ultrapassada há tanto tempo! E olha que quem simplificava e reduzia em generalizações interessadas a realidade (aparente e/ou efetiva) eram os primeiros cientistas e pensadores. Sugestões e conclusões oferecidas por filósofos da mente devem servir como contraponto ao reducionismo acima criticado, a fim de compreender melhor o que é humano, que com certeza é mais do que algoritmos e gráficos extraídos de ressonâncias magnéticas.
Enfim, eu defendo que temos que acreditar em alguma coisa, pois o cinismo e o ceticismo, que são radicais no sentido estrito, ficam parecendo atitudes de idiotas, um escapismo, uma avocação de posturas supremas, porém sem sentido, apesar do rigor lógico intrínseco a essas correntes de pensamento. Porém, o homem não é uma máquina que só executa ordens, mesmo que internas (da própria psiqué), é preciso conviver com as contradições, oras; só os tolos desejam e advogam nunca cair em paradoxos. Afinal, o princípio da não-contradição não resolve problemas existenciais, um pouco de pragmatismo é importante.

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2 - Em problemas e realidades tão atuais e recentes, sob mudanças e transformações provenientes especialmente da rápida evolução tecnológica e das invenções e traquinagens que mais servem para fins hedonistas do que utilitários à sociedade em geral – leia-se desfavorecidos de primeiras necessidades –, velhos hábitos, antigos conceitos, ultrapassadas práticas, deslocadas atitudes, noções démodés, todos eles permanecem, portanto não realizam efetivas mudanças. Assim como a legislação não acompanha, na mesma velocidade, as mudanças sociais, as pessoas não se associam ao avanço técnico das máquinas e teorias científicas, mundos paralelos emergem e submergem continuamente.
Na tentativa de pensar sobre temas demasiado contingentes, autores elaboram teses e expõem conclusões incipientes, que pululam a toda hora, dessa forma é possível que diminua o hiato entre o que acontece e o que é inferido historicamente (de forma verdadeira), devido ao crescimento exponencial do número de análises – mesmo eu sabendo que quantidade não significa necessariamente qualidade. Todavia, é óbvio que antes de dez anos nenhuma tese se solidifica, se surgem obras que influenciam fortemente alguma área do saber, é de se desconfiar, é provável que houve um mero comportamento de manada.
A aparência, que no mundo da imagem parece ser tudo o que pode haver (num primeiro momento), domina e influencia; afinal, instintivamente tendemos a favorecer os apelos visuais, e quanto mais chamativos eles forem, mais a memória atuará em esforço conjunto com as específicas redes neuronais para guardar a lembrança, e os sentimentos e seus hormônios correlatos atuarão identicamente, para que deem a impressão de lembranças vivas e frescas, quando de seu resgate. É o mundo da pose que insiste em se sobrepujar ao senso crítico. Contudo, sobre a prevalência dos sentidos ou da razão abstrata, fico com o antigo ditado “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.

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