Mamoeiro
Ó, mamoeiro,
meu mamoeiro,
Por que não
foste um limoeiro?
Talvez
parreira ou laranjeira?
Qualquer pé
de frutas acres
À minha
língua e à minha barriga
Satisfazer
acidamente
Um pássaro
com sementes planou
Sobre meu
quintal anos atrás,
Tinha planos
d’alguma terra semear.
Eis que
nesta hortinha depositou
O gérmen
negro d’outro pomar,
Extraído por
um bico certeiro
Lá no alto,
além das cercas,
Vejo mamões
já putrefatos,
Fora do
alcance de gatunos braços.
Reservatório
de varejeiras,
Dele nem as
aves se alimentam,
Um dia há de
cair e adubar
O solo
enegrecido igual
Folhas com
dedos longos, nove,
Caem do seu
braço molengão
Semanalmente
– lástima da nudez.
O caule
denuncia a amputação
Naturalmente
operada a tez,
Indiferente
e apressados
Brotam
quatro outros galhos
Doo mamão às
mamães
Que já muito
me deram pães;
De receitas
é ingrediente.
Filetes
verdes amarelam
Até se
alaranjarem nas vasilhas,
Mas no
invólucro não se estragam
A cada dia
mais imponente:
Mamoeiro,
parece que zelas
Por mim e
por meu par
Ali, entre
as duas janelas
Que mal se
prestam a contemplar
A formosura
de crescente fruta
...azar da
concretude.
Dançando, ela evidencia a expressão do seu ânimo
Mais elogios deve receber o vestido,
Se não, revolverá a censura, decerto unânime,
Com a gola, o lençol e a toalha umedecidos.
E à solta, com seu desatino, com seus lagartos,
Descarregará as acumuladas frustrações;
O troco: paroxismo da ira num reles prato.
As descargas embaralham nossas dejeções.
O constante sorriso sofreu interferência
As faces alvirrubras encararam-se tensas,
Pois faltou sintonizarmos a exata frequência
E incorremos nesta programação semanal:
Irritadiços pela desatenção usual
Eu refuto, denuncio a tola intolerância.
E o refluxo das más emoções origina ânsias.
Os olhos simplesmente se prestam a hidratar
O que o coração não prontificou-se a regar.
Penso: em todo lar ocultam-se esconsos defeitos.
Lento curso da paz – ainda há luz em meu peito