Participem. Ei, participe! O que você acha que vai
conquistar na vida, ficando aí parado? Quem hoje está aí ao seu lado, e se diz
grande amiga, se mexerá e amanhã partirá num cavalo alado. Mente Ocupada. Vamos
embora, camarão que dorme a onda leva! Todo aquele que se enerva sucesso
alcança. O restante contempla o objeto, inferindo pra que lado pende a balança.
Mente ocupada. Mente ocupada. Ninguém fará algo que tu almejas, os outros
tomarão por ti as decisões, depois não culpa o destino ou os signos por
supostas conspirações. Quem não arrisca não petisca e quem deixa a vida lhe
levar acaba sendo por ela levada. Mente ocupada. A correnteza do rio tudo
apanha e transporta, deixando as tranqueiras em sua curva que nunca transborda.
A natureza sempre dá um jeito em seus excessos, mas o homem raramente sabe o que
fazer com os dejetos. Recicle. Reciclemos. Eia! Mente Ocupada. Cada ação gera
uma reação, cada ato nosso é um treino. Inteira, meia, mais, menos... Menos?!
Pela sinergia, sigamos trabalhando; dados à base somemos. Se a quantidade de
informações aumenta exponencialmente, como então separar o joio do trigo? Ah, o
que é importante costuma encontrar seu abrigo. Mente ocupada. Mente, ocupada.
Mente ocupada. Ocupada do que ainda nem veio, tampouco se
vislumbra surgir, mas está para um dia emergir, e prontamente em todos irá
acoplar, a fim dela acabarem por sugar. Regra do mercado: novidade obcecada por
gente, gente compulsiva por novidades. Assim é ditada a vida na vazia e
populosa cidade. Mentes ocupadas. Há sempre um pouco mais de caldo numa polpa
não o bastante explorada. Obstante a distração, a manada de búfalos
ensandecidos carrega consigo poeira e os seres por predadores e coletores
esquecidos. Inda não consigo ver a saturação que anunciaram, talvez tenha sido
um lapso. Temos que ir, rápido! Vamos lá, a caravana não para e as aberrações
descartáveis assumirão em breve outra roupagem, mais cara. Mente ocupada. O
demente não é de todo culpado por sua flagelada condição, aqueles que o
criaram, deveras ocupados com o zelo de suas obrigações, deixaram vaga a
carência arduamente sondável. A sociedade gira feito patinadora de pistas
alvas, e girando evita que a inércia produza um desastre insanável. Se o
planeta se recusasse a rodar, vidas não seriam salvas, pois vagariam pelo
espaço sideral. Oh, sem ritos fúnebres: a derrocada do bem e o triunfo do mal!
Mente ocupada. Ocupada, ela não mente. Mentes culpadas só há quando desligam
seu piloto automático; ao seguir o sistema cada prenúncio de má consciência
dissipa-se de imediato. A rede corporativa trata de encontrar o bode para os
remorsos de seu grupo num subúrbio expiar, afinal existem profissionais
exclusivos para indicá-lo. No fim, a massa conhecerá só o canto do galo. Mente
ocupada.
Não conteste, obedeça! Tente, compare, ande, ou melhor,
corra! na esteira, você verá que não é tarefa difícil. Que o deserto dentro do
seu peito cresça. Até os grãos saírem por todos os seus orifícios. Vendê-los-á
como se de ouro fossem feitos. E não é assim que todo o Executivo vem sendo
eleito? Mente ocupada. Hoje os corvos pairam sob a luz do sol, acabou-se o que
um dia se nomeou respeito. Cultivam na selva de pedra o que jamais foi coisa
nativa. Estripulias à parte, jogar o jogo com as regras dos bichos de preto poupa
os amadores das brigas. Observam a sombra projetada até constatarem que é
aquilo que deve ser: verdade induzida. Mente ocupada. Gente ocupada com
serviços braçais, e seus patrões nem ligando para os repetidos “uis e ais”.
Porque logo atrás deles há uma fila indiana dando volta no quarteirão; a
ignorância é fruto dos ciclos e das manias, nunca da subversiva reflexão.
Enquanto isso, chefes e subalternos mantêm os pulmões estufados e as faces
longe do chão. Mente ocupada. Suposta mente racional, suposta gente liberal, a
mão-de-obra continua sendo lucrativa; encher faminta barriga é preterido quando
há bolsos a preencher. Coisa dita reiteradamente na tevê, mas quem é o
audacioso que dessa forma a lê? Não as mentes mal ocupadas. Ocupada mente,
falando e se achando. E outras mentes dela rindo e debochando.
Replique os rabiscos à mão na porta: jovem adora pensar que
choca, pois convive com montes de bosta, que desconhecem o político em quem
votam, seguem apenas pegadas da trilha da tropa. O juvenil, a cada esquina que
dobra, julga o que passou como sobra, somente vale o aqui e agora, ao vento e
ao relento formulários solta. E doravante ocupa-se com esta frota: repetição
incessante de gestos duma mosca já morta. Sai! Enxota daqui, vire suas costas a
essa gente tão torta, que pretensiosamente diz que de boas coisas gosta,
enquanto desgasta a nobre madeira com sua viciada rosca, sem porca. Mente
ocupada! Consuma, pois bem, não é disso que o mercado precisa? Sim, também.
Precisa de gente ávida pelo que a maioria já tem e pelo que pode ser que venha.
A técnica utilitária descobriu esta nossa senha: desfrutar daquilo que convém e
tratar um infeliz com desdém. É forçoso a mala estar cheia. Mente ocupada.
Pessoas tão ocupadas, o processo que antes desafogava em prazer, então é
tratado como dever. Sem balada não posso ficar, meu videogame tenho que jogar,
não saio de casa sem me perfumar, minha garota logo vou descartar. Fetichismo
em evidência: tudo visível é objeto. Foi-se a suposta má consciência. Gozo o
máximo que puder, meu corpo pede submissão, e seja o que Deus quiser. Pergunto:
quem foi dominado? Mesquinho garoto abusado, jogue a moeda, tudo tem dois
lados. Mente ocupada. Mente danosamente ocupada. Danos na mente, danos no
corpo, psicossomático. Não preciso ser doutor, xamã ou matemático, os índices
falam por si. Olhe, mais uma farmácia, logo ali, homens de branco atendem doentes
sem fim. E quem, na sua aconchegante caverna, percebe a própria loucura?
Ignorância é bênção, feridas ela sutura. Iludir-se com as convicções é inventar
sua cura. A mentira repetida verdade se torna. O engodo a face abobada adorna.
Felizmente, a realidade sempre retorna. A menos que a mente nunca deixe de se
ocupar. Sendo assim, encontra outra mente a culpar. Mente ocupada.
P.S.: Tentar ler cada § numa talagada só.
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