28 de fevereiro de 2013

E Mais Inutilidades Ruminadas


Se for à Floresta Use Capacete
 
Se der cana ao capeta, usará a caneta;
Se der na carpa um cacete, sujará o carpete.
Sinal do palacete que se cala é capacete;
Se um canalha retirar o valete
Surgirá cavalete, ou canalete.
 
Sob a capa a vedete parece um cadete,
Sem colher comum almoça a mulher.
Sempre as flores estarão em festa na floresta;
Sobre aquela garrafa gigante
Sei que garante andar a girafa.
 
Cochicho de Carrapichos

Do cochicho à rixa basta ser prolixo,
Pixa o muro, mas é esguicho do lixo,
Enquanto Garrincha de amplo fecho pechincha
Com seu capricho, bem fixo – tornado prefixo.
 
A bicha lixa sua unha mixa
E destrincha um rabicho entre buchichos.
Logo o nicho suplica: “lincha ela”,
“Afixa no crucifixo”, “deixa que eu guincho” –
São os relinchos do povo carrapicho.

 

23 de fevereiro de 2013

Você, minúsculo grande homem que hesita


Você reclama ou reclamou de várias coisas, mas agora se vê aí, limitado por suas escolhas e incapaz de reclamar de si mesmo, pois julga sempre ser consciente e responsável pelo que faz. Você então lê sobre o poder do inconsciente e sobre a consciência e o eu como mitos construídos para evitar a loucura e identificar alguém para honrar ou punir. Você então percebe o abismo diante de si e gostaria de se jogar lá dentro, mas sua educação burocrática o impede de fazer escolhas intempestivas e abusivas. Portanto você se tornou insensível às emoções que antes, via lampejos, cativaram-lhe, mesmo a indignação pelos erros alheios (agora facilmente tolerados), e tudo por causa das repetições, essa praga que martela ao homem os fatos do mundo e o sentido da vida, como se o hábito fosse a maior necessidade e causa de prostração que pode haver. O hábito lhe habita e não há nada que você possa fazer, a não ser andar pelado pela rua, mas isso seria um crime, além de alvo de chacota, por maior que seja seu pinto e por mais belo que seja seu conteúdo. Você não admite ouvir sons que deixam os outros em transe, os jovens especialmente, porque isso é se entregar ao império dos sentidos e do efêmero, como se as suas manias não tivessem a mesma intenção de alucinar e ao mesmo tempo sentir seu firme papel no mundo. Ou seja, todos querem ter controle sobre a própria vida, a diferença é que você não admite que esse controle se dê por fatores externos, como se os objetos que você manipula não o tornassem escravo de alguma forma. Você apenas permite em sua casa sons que lhe remetem às antigas e corriqueiras fases de raiva e frustração, prolongando esse estágio de insatisfação indefinidamente, exceto quando dá brecha às musicas que não combinam com sua personalidade, mas teimoso que é, recusa-se a dança-las.

Você fica adiando seus desejos, suas vontades, suas obrigações, como se num dia afortunado fosse efetivamente realiza-los, de forma intensa e satisfatória, como se ao finalizá-los lá na frente não surgissem outros anseios e imperativos que sugam parte desse prazer que sempre escapa pelo corpo, até mesmo nessa procrastinação, tornada hábito pela promessa de prazer, tão irrisória, mas que lhe convence. Você não quer pagar pra ver sua incompetência, então prefere manter o potencial obscuro de grandes feitos, como se as ideias não realizadas fossem mais do que ilusões e metafísicas, como sempre inventadas para fazer o homem se sentir superior aos demais (humanos ou não, desde que abaixo dos deuses). Você finge que toca, que escreve e que pensa, só para não se sentir incapaz, mas como seus parentes lhe elogiam, você internaliza essa competência amadora, temendo o fracasso público quando se tornar profissional, pois os mimos dos interessados pouco valem, então você não ultrapassa a linha do amadorismo.

Você acumula e acumula o que já usufruiu, para algum uso posterior, a fim de repetir o regozijo ou simplesmente captar trechos que marcaram sua vivência, porém raramente usufruirá desse material estocado na dispensa de seu recinto, e mesmo que venha a fruir, jamais será a mesma coisa, mas você alimenta essa esperança de que o prazer nunca irá lhe faltar, por mais ferrado que esteja. Talvez só o desespero seja capaz de motivar esse gozo intenso de tudo o que é promessa de prazer, seja nas coisas que já foram usufruídas, seja nas que você guardou para esses momentos de pânico. Talvez falte a você reconhecer que sua situação é precária, o suficiente para desesperar-se continuamente, porém isso seria andar à beira da insensatez, algo angustiante demais para ser suportado em paralelo a outras demandas, tão exigente de equilíbrio e frieza de espírito. Você quer A junto com B, por mais incongruentes que sejam, ampliando seu horizonte e reduzindo seu foco, numa fórmula eficaz para a melancolia, ao gerar inúmeras expectativas e frustrar a maioria, sem conseguir se contentar com as realizadas, pois inferiores às deixadas para trás. E mesmo assim você se acha alguma coisa, pois conseguiu mais que a maioria, e sabe que alguns lhe invejam; compara as vidas e torce para que elas não se cruzem, no máximo entrecruza olhares; esse ouro de tolo não é o final de sua mísera existência, então você traça objetivos, para cumpri-los pela metade.

Você não percebe que tudo fica para trás, mas que de alguma forma marca o caminho, como pegadas para algum perito assalariado atestar que você passou por ali, porém isso só interessa aos forenses, sempre à espreita para ferrá-lo no caso de se tornar bandido ou por ter feito alguma cagada séria na vida. Parece que você gostaria de congelar o tempo e esfregar na cara dos transeuntes, tão apressados e distraídos, sobre a grandiosidade de seus atos, como se eles não quisessem fazer a mesma coisa, tanto que entopem a internet e a televisão com coisas fugazes e banais, comprovando que todo mundo quer um espaço no mundo, todavia só as 24 horas do dia são capazes de limitar esse espaço cada vez mais apertado. “O que realmente fica dos meus atos nesse mundo natural que parece tão estranho ao projetado em nossa juventude?”, você pergunta. Eu não sei como lhe responder, somente asseguro que é assim mesmo, sufocante e cheio de oportunidades, que permite alegrias aos que não querem mais do que não podem ter. “Eu quero sempre mais que ontem, mais que hoje, mais que amanhã”, você confirma a famosa música dos Rolling Stones e impede sua satisfação nessa passagem única por este fantástico e pequeno planeta.

Você se esquece de quase tudo o que viu, sentiu e falou, tendo sempre a impressão de que não viveu, mas saiba que a memória conservada não consegue perdoar, ela rumina tanto os fatos e ideias que abre as portas para o rancor lá se instalar, pois a mente tem esse costume de mais se incomodar com um dado ruim do que se jubilar com um bom, o regozijo se apresenta quando os bons superam os ruins, desde que não haja uma catástrofe aí no meio. Você jura que quer ser feliz, contudo fica inventando subterfúgios e se ocupando de obrigações que sua razão tirana sussurra como as maiores fontes de justiça, nascendo assim a moral que diferencia o certo do errado, mas que parece muito oposta à vida artística e autêntica, onde efetivamente está a fonte de felicidade. Você então trava e adia o sorriso em seu rosto para um momento oportuno, quando as coisas se encaixarão e tudo fará sentido, como num passe de mágica. Mas você sabe que isso não existe.

Agora volta a reclamar das coisas, dessa vez de si, indignado com a própria pequenez, incapaz de transcender, com os pés fincados na terra e a cabeça boiando no mar ou flutuando nas nuvens, sempre atrás de algo que na verdade está logo atrás, na nuca ou na orelha. Então parece ouvir algum chamado, apenas não está pronto para senti-lo em toda a extensão de sinfonia primorosa. Mas é um começo: melhor um vislumbre do paraíso do que uma temporada no inferno, porém sem essa segunda não haveria a primeira – mero efeito de comparação.

P.S.: Às vezes é preciso o anúncio de um peido para fazer florescer um texto.

18 de fevereiro de 2013

Um Hiato


Entre papos e sopapos
Uns políticos pútridos,
De posse de maças marciais,
Tossem regalias esdrúxulas.
Nunca endosse anomalias mixurucas!
 
O lema do sistema é:
Venha, trema!
E teima se puderes
Ou se pudores tiveres.
 
Nas vias dos reveses
Seguiam disputas estúpidas
Ao invés do que a lei, ou o rei, regia;
Todavia se viam entupidas.
 
Apostólicos e históricos
Estoicos cachaça rechaçam
E troçam das nossas galinhas –
Essa joça que fossa abolia.
 
Vão melando o não lindo hindie
Nos meandros de seu melindre:
O arbítrio do sátiro,
Como árbitro sabido,
É um hábito saído
De um sítio com salitre.
 
De mentes mortas
Uma mosca é amante,
Sente que há amostras
Aos montes. Lá, avante!
 
A frenologia e seu frenesi
Enfim tiveram um fim.
E não foi bem assim
Que você veio até mim
E eu vim frenar por aqui?
 
Vós, vôs, foi dez
A foz de oito pés.
Há algoz e morbidez,
Vós vos fodeis.
 
Peçais peças à beça,
Só o besta não presta
Da cabeça, apressa...
O resto é destro,
Nem presto nem canhestro;
Destoou dos sestros,
Posposto que testa
Mais às pressas?
 
Estatística sem mística
E analítica sem características
Não esticam nem criticam,
Serão sempre balísticas.
 
Sigo meu faro e atalho
Pelo bromedálio vendo otários
E um dromedário macabro.
Abro o calendário,
Evito atos falhos,
É como um candelabro,
Descaro vários.
Meus caros, me calo.
 
P.S.: Hiato duplo, um bom período sem publicar algo e um mais longo ainda sem publicar algum poema non sense.