28 de dezembro de 2014

The End

Acabou, that’s all folks, we’ll see you around. O post anterior prenunciava: “This is the end, beautiful friend/This is the end, my only friend, the end”. O ciclo se fechou, “see you in another life, brother!” É difícil cometer suicídio, dar um ponto final, admitir o desfecho, mas desta vez é o que está acontecendo. Não tive muita visibilidade, não tenho seguidores além do meu círculo familiar. A internet já tem informação suficiente, pode prescindir das minhas opiniões pouco abalizadas e dos reclames deste tolo que pela derradeira vez escreve/posta. Quero deixo fluir as ideias às altas da madrugada, num parágrafo apenas, pouco me importando para pontuação, coesão e formalismo. Tenho minha companheira destilada a meu lado esquerdo, fiel escudeira de tantas jornadas entre noites amargas, deste sujeito reiteradamente mal-acompanhado. Suicídio não é mais algo que eu cogite, portanto meu corpo está a salvo de sofrer danos de mim mesmo (que pleonasmo!), porém meu alter ego é quem pagará a pena pela guinada à normalidade. É possível que o lado da força tenha vencido, por isso não há mais graça em querer duelar contra um oponente que jaz inerte no solo quente sem poder compartilhar do calor tantas vezes amaldiçoado na terra das árvores retorcidas. Certamente levarei mais tempo que o previsto para compor o texto de despedida, o almoço de meio-dia de domingo que espere, será adiado por uma ou duas horas. O Nor-Mal de seis anos atrás (na verdade faz mais tempo, no entanto o que começou a gritar mundo afora tem mais ou menos esse tempo de existência) não existe mais, não poderei precisar quando ele partiu, faz alguns meses, sendo que o lançamento dodébut conseguiu adiar a ciência de sua partida, devido ao fôlego das palavras expressas em versos então impressas e lidas por umas sessenta pessoas. Eu sei que a grande maioria leu três ou quatro poemas, mas tenho a esperança de que lerão mais, afinal possuem o livro guardado em algum canto do quarto, assim como eu tenho os meus, que ocasionalmente folheio sem ânimo, em face da impossibilidade de captar seu conteúdo com uma rapidez de processamento avançado como o das máquinas high-tech. Contento-me em ler umas seiscentas páginas por mês das, sei lá, sessenta mil que se encontram no aguardo de serem lidas, assim como eu me contento em ter três poemas lidos dos, sei lá, trezentos já escritos. Algo eu realizei, produzi, expeli, adornei, exortei, revelei, desvelei, conforme aletheia heideggeriana. É motivo de orgulho, ainda que minúsculo, pois não fiquei com a boca escancarada esperando a morte chegar e nem me satisfiz, como muitos o fazem, em bater carimbos e assinar ofícios em série atrás da máscara do burocrata-padrão, leia-se Aspones, Dilbert ou samambaia conveniente. Não consigo mais me pôr no lugar do André de seis anos atrás – no que ele sentia, desejava, vislumbrava e compreendia. Fui enriquecido por experiências, sofrimentos e conhecimentos que me transformaram. Eu não apenas mudei, fui efetivamente transformado, não sem antes me ver transtornado, ainda que ninguém, além de mim mesmo, tenha notado tal emoção. Aquela mudança que a maioria passa na adolescência eu passei, como é de praxe, tardiamente, entre meus vinte e poucos anos. O que eu precisava escrever, desabafar e contestar naquela época não é possível mais se repetir. A página foi virada. O eterno retorno é um mito, serve apenas para impressionar os garotinhos juvenis. Minha memória não é muito boa. Há o lado ruim disso (não poder de bate-pronto resgatar no subconsciente os conhecimentos que se pensava adquiridos), assim como há o lado bom (não guardar rancor e nem criar raízes às convicções estúpidas que aprisionam muita gente). Quem sabe este texto personalíssimo sirva de mea culpa, para que eu mesmo relaxe com os erros que uma incipiente neurose não admitiria, bem como para aqueles que não me perdoaram até hoje por minha rispidez habitual possam dissipar a sua mágoa. Procure você também relevar, a maior causa dos erros é a ignorância, seguida da auto-afirmação, dois itens comuns a todos os homens, e que a vivência é capaz de aperfeiçoar e corrigir nos futuros conceitos e comportamentos. É disto que trata esse texto aparentemente non-sense: olhar para trás, fazer um balanço do que aconteceu e enxergar as melhorias que servirão de escada para um porvir sem ressentimentos. A culpa, a perfeição e o pecado são malditas ideias cristãs que destroem a psique de muito desavisado. Por favor, esqueçam-nas, apenas servem para derrubar a auto-estima do indivíduo que ainda não conhece o “para além do bem e do mal”. Não há divindades, nem inferno e nem reencarnação, há apenas pessoas desejando persistir, procriar e expandir. O homem não é necessariamente ruim por essa redução naturalista, porém é um ser para se desconfiar. Respeito, tolerância, liberdade e punição aos folgados. Simples. Mas o homem caça confusão e sei que jamais o que diz respeito a ele será tratado de modo frio, racional e impessoal. Que seja. Viveremos, aprenderemos e nos adaptaremos, tanto para que nossas próprias vontades sejam satisfeitas quanto para que nosso meio/sociedade/comunidade/humanidade possa se satisfazer minimamente. Não há equilíbrio nesse embate indivíduo x grupo/estrutura. Haverá sempre um mal-estar por ambas as partes, mas isso não é o mais importante. Há muito conteúdo para se revisar. E a lição que fica, quem sabe, é que enquanto cada um puxa a sardinha para seu lado, as sardinhas podem se reproduzir mais ou menos, depende de nós garantir esse ciclo de vida e morte. Um indivíduo (token) pode morrer, mas o ser genérico (type) deve permanecer. O espírito sobrevive. Uma vez que a flecha foi lançada, seu efeito irá reverberar, tudo faz parte de uma engrenagem ampla que não possuímos intelecto nem instrumentos para captar todos os seus desdobramentos (não chamo isso de Deus!), e espero que continue assim. Seria um determinismo, e sem a ideia (mesmo que ilusória) de liberdade é preferível não existir. Este foi o fim de um ciclo, mas não o fim de um processo. Todo córrego deságua em um dos três oceanos. Pode ser um grão, uma gota ou uma célula, se se fizer sentir, valeu. 

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