Na legião de solitários a política é o labirinto dos egoísmos. Tio Ari já dizia “o homem é um animal político”. Um jogo coletivo, um equilíbrio em discórdia, uma comédia do poder. Todo poder é violento e opressor: comunismo é conto de fadas, é impossível superar a dialética do socialismo, democracia é submissão, da minoria pela maioria, assim como aristocracia é o oposto. No entanto, democracia é o estado mais próximo à liberdade que a natureza reconhece a cada indivíduo.
Estado: monopólio da violência legítima, apesar disso, sem Ele a anarquia emergeria. As contradições são inconciliáveis, para isso o estado civil, onde não existe direito natural, mas acordos em prol de segurança. Poder que impõe os limites da ordem e se insula, como qualquer bureau. O estadista não renuncia, a revolução é frouxa, só muda a direção dos vetores.
Governar é preferir e preterir e só há política de desejos, deseja-se o que deveria ser e não o que é. Como acreditar que não é o povo que dá poder ao partido, mas este que distribui poder no povo? O Estado não é sintoma, não é porque se supõe ter universalizado a verdade que todos serão da elite, logo sem poder. O homem adora e detesta hierarquias e símbolos, por ele mesmo criados.
Sociedade de Narcisos, racional, claro, mas desarrazoada; pacifista, ok, mas não pacífica; combate, sempre, sutil ou declaradamente. Ilusão social é a verdade humana. História – sempre aventurada – é o conto dos vencedores das guerras, sem final e sem início; dominação e orgulho – antropologia. Sociologia: explicar como o egoísmo solitário se torna (ou deveria se tornar) o egoísmo de todos, juntos, concomitantemente.
Só a morte é o fim; só o prazer é o objetivo; Ares e Afrodite em aproximações perigosas. Nem a paz nem a guerra são absolutas, infinitas ou nulas, e a política é o denominador comum. A paz só é melhor porque todos preferem a vida à morte. No entanto, só há paz aos mortos, entre os viventes há sempre luta. Usar a política é defender o direito à vitória, que se vier terá uma singela e efêmera celebração, pois novos duelos se seguirão. Não há paraíso, o que existe é sonhar a vitória, projetar o futuro e criar ilusões.
Solidão: em toda inserção social o indivíduo cede, nenhum grupo é perfeito, escolhe-se o que menos parece pior, alguns se cansam e se isolam em suas redomas. Na escuridão da noite, nas trevas dos pensamentos, nas imersas consciências, a coruja hegeliana se transforma num morcego materialista, as sombras são iluminadas pelo radar de apurados sentidos, evoluídos por séculos de vivência escusa.
A justiça não existe, é apenas remédio para a morte, mas os religiosos acreditam nela. Enquanto isso, pensam que o mundo todo é Sodoma e só eles deveriam morar em Atlântida, pois não haveria punição divina. Nostalgia do idealismo: o passado é melhor porque é mais próximo da origem e do criador, livre dos pecados do homem. Na religião tudo é decadência. Entropia negativa: o progresso é absurdo (o passado seria pior que o presente), a física não pode contra o poder absoluto do ideal, do saber e da verdade. Contudo, não há centro do Universo, cada mundo gira em torno de um sistema qualquer de massa maior.
A ilusão permeia os homens, é a trama, negá-la é um drama. Não se pode viver sem ilusões, mas pode-se pensar sem mistificações. Ética materialista: não há valor que não seja ilusório e só a verdade sem valor é capaz de desilusionar. Perspectivismo: pensar a peculiaridade de cada ponto de vista e saber que todo julgamento moral é o meio da potência se sobressair. Afinal, a natureza é indiferente, a ciência não é democrática e a verdade é apolítica, enquanto o homem é político, não há como ser niilista.
Ontologia: a solução não está nos objetos (observado), mas no sujeito (observador). Saber que a Terra gira em torno do Sol não retira a ilusão de observar o inverso. Enfim, o homem é a medida de todas as coisas. Perder a ilusão é conhecer as leis e não jogar a responsabilidade sobre o eco das aparências. Saber que se sonha é começar a ter paz.
Dogmatismo: meter os pés pelas mãos, erigido em verdade absoluta. Mas não passa de uma abordagem. Convicção: ilusão de ter razão, mudar de opinião dói e o orgulho não admite a derrota para a melhor retórica, mas ambos acreditam defender o que consideram o melhor (sinceridades tolas). Ou então mentem em prol de um bem maior, prontos para se sacrificarem pela meta.
Desconfiar de todo discurso interesseiro, sempre, os meios são detalhes. Enquanto isso o superego sussurra para haver serenidade. Os mártires nunca morrem sozinhos, causas os acompanham. Toda ideologia é religiosa e está de cabeça para baixo.
Quando se teoriza e assume que há A verdade, nasce o fundamentalismo, e seu militante tem o conforto da coerência e da fé, por isso a Jihad é justa - escatologia. Do outro lado, o prático não admite qualquer valor absoluto e milita sozinho, o seu céu é o que para si inventa, sabe que não há A verdade ou O melhor. Ele é o exército de um homem só. Verdade não passa de um sonho.
Utopia: desejar uma sociedade que é supostamente boa, mas que está sempre ausente. A realidade é um esboço (pré-história) e o porvir é a verdade (história) – profetas científicos. Militar: convencer os outros de que esse mundo pode vir a existir – questão de retórica e de propaganda. Dialética: subverter a situação dominante, onde se é dominado, para outra onde se domina, e segue a história. Os valores são disfarçados sob a forma de descrições; a pedagogia substitui a democracia, a ignorância passa; as massas se animam com as promessas de felicidade; os líderes são tão bonzinhos, mas passam faca.
A essência é a realidade, então encontre, a partir e além das aparências, uma verdade que as explique e as supere. As verdades se encadeiam, paradoxalmente, logo tudo é verdadeiro, mas não da mesma maneira. Ou, ao menos, tudo pode vir a ser falso. Silogismo, relativismo, anarquismo, perspectivismo, niilismo ou ceticismo? Escolha...
=) :p
Nenhum comentário:
Postar um comentário