21 de julho de 2010

Crise de Identidade Masculina (pt. I)

Finalmente me dediquei a escrever sobre este tópico. Vai parecer mais um relatório de faculdade, mas foi o jeito que eu achei de expô-lo, mais científico que artístico, afinal, ando assim. Dividirei em 3 partes para não ficar (tão) cansativo e para fácilitar a edição.

A crise, ou limiar, ou ponto de ruptura, ou no mínimo mais um momento de valores tradicionais em cheque, no que se refere à masculinidade, ao patriarcado e ao conceito de ser homem/macho alfa se apresenta com nitidez. Basta ver e se deparar com tendências e bizarrices que há apenas alguns anos não existiam – vide os metrossexuais e os transexuais gays (p.e. homem que se tornou mulher e se relaciona com mulher). Sendo assim, o que resta das diferenças? Viveremos num mundo andrógino? A moral é tida como difusa e indefinida ou como rígida e ortodoxa?
Dicotomias: homem ou mulher; postura diagonística ou domesticada; guerreiro ou pai de família; yang ou yin; aventura/nomadismo ou tradição/sedentarismo; excessos ou ordem; riscos ou calmaria; antissocial ou sociável; razão ou emoção; egoísmo ou altruísmo, atividade ou passividade. Qualidades ou valores que habitam em todo mundo e que simbolizam diferenças que cada um optará por seguir, para assumir uma reputação que o precederá. E apenas do lado masculino haverá a possibilidade de heróis e anti-heróis reverenciados, arquétipos de juventude, coragem e honra.
.
Rousseau, em seu pedagógico livro "Emílio", expôs preceitos de como o homem/garoto e mulher/moça deveriam agir no mundo laico a se formar (o honrado pensador e a pudica esposa), um precursor da educação repressora da era vitoriana. Esta, em especial, teve como conseqüência o excesso de casos de histeria e o aumento dos escândalos por adultério. Afinal, ninguém consegue viver contente numa clausura. A literatura tirou proveito disso, em personagens clássicos, como Mme. Bovary, Capitu e Anna Karienina, damas cheias de culpa e vergonha por seus atos subversivos. Educação que ainda ressoa: uma inércia do machismo sem que as mães percebam, criando filhos que se sentem superiores, sem respeito às garotas, treinados para catar mulher.
Antes da II GM era comum a mulher precisar do homem para qualquer realização, o que fugisse à esfera das ordens dele seria segredo. Ele exigia controle absoluto, queria saber de tudo e mesmo assim desconfiava, apesar de todos os mimos. Hoje em dia, para ela tudo seria prescindível do homem, em especial as suas conquistas pessoais? Talvez sim, e assim sendo, eles se encontram confusos e perturbados; o papel antes exclusivo de provedor é então compartilhado.
A família seria o último refúgio de poder para esse homem acuado, melancólico e esgotado. Porque ele quer ter aquilo que sua mulher quer, e acha que tem! Enquanto que ela sempre acha que falta algo, ficando ciumenta, e por vezes paranóica. Nem todo homem assimila que nem sempre (ou quase nunca?) o que as mulheres querem é aquilo que ele tem a oferecer.
.
Pode-se afirmar que os papéis sociais encontram-se foscos para ambos os sexos. (É correto dizer que só existem dois sexos?) As conquistas de bens e direitos do movimento feminista no pós-guerra gerou maior competição no mercado de trabalho, além da grande inserção de mulheres em locais antes de predomínio ou até de exclusividade masculina, inclusive pela morte dos maridos em batalhas. Entre outras revoluções sociais, que costumam ter por alvo a contestação e a queda das hierarquias dominantes.
Pregar igualdade é gerar eterna tensão, em um exaustivo trabalho de justificar as pirâmides forjadas, como foi o papel do positivismo e dos publicitários da industrialização, típico do fim do século XIX. A única desigualdade aceita é a biológica, de natureza ou, para alguns, divina. Igualdade que passa a aumentar os privilégios das mulheres e a diminuir os dos homens.
Ser Pai de família não é mais um destino, assim como não há mais um modelo único de família, cada um planeja seu futuro como quiser. À primeira vista pode parecer mais fácil ao jovem, por diminuir a pressão dos pais e parentes nas escolhas pessoais, mas em outra visão significa maior responsabilidade e capacidade de tomar decisões solitariamente. It’s do or die!
.
O olhar masculino simboliza seu poder onisciente e invisível de objetivar, como a torre central das prisões ou o big brother de Orwell ou o olho de Horus, ou ainda de Sauron, vendo tudo sem ser visto, entrando na intimidade e punindo. Se fosse de outro modo seria encarar, um chamado à briga, coisa que o poderoso não faz com quem julga inferior.
A questão primordial, enfim, não é quanto ser homem, mas como ser homem num ambiente rapidamente mutável. O herói executivo e o revolucionário foram algumas das opções que eclodiram em meados do século XX. A admoestação por não ser “cabra macho” permanece.
Essa reafirmação do papel de macho tem como o efeito a violência “amorosa”. Leis, como a “Maria da Penha”, elaboradas para coibir práticas arcaicas e não condizentes com a civilização almejada são evidência de um sintoma social do momento de confusão. Reivindicar normalidade é absurdo; tecnologias, implantes e esvaziamento moral fazem surgir inúmeras peculiaridades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário