14 de agosto de 2010

Poema a um clássico da literatura

Aparição na Inquisição

Queimando ad majorem gloriam Dei!
Venerando o profeta salvador
Ou acatando o poderoso inquisidor
Punido como o bandido pior: Avisei!

O papa, o padrasto; paternalismo, papai!
Desgraçado, não antes do tempo, sai!
Teus Discursos destroem nossa obra,
Melhorada a partir da tua, que hoje é sobra.

Fome, tirania e depravação
É para fugir à desgraça, senão
Corruptos tornar-se-ão divinos
Alegoria mordaz em Sevilha
Sacrifícios realizados a pino
Árduos devotos fervilham

Podem ser felizes eles, tão rebeldes?
Falou o espírito da destruição
Tentando trair-te, tamanha tentação
Das profundezas, o profundo Elder

Pelo pão um dócil rebanho é formado
Liberdade escamoteada por charadas
Obediência e ignorância são moldadas
Famintos desconhecem o pecado

Você delegou poder à massa e sumiu
Desesperada, ela clama por migalhas
Ciência não alimenta, opta-se por fuzil
Crê-se naquilo que o cardeal farfalha

À distância seres enganados veneram
Formam filas e então se aglomeram
Necessidade universal de inclinação
Morte, bazófia e estupidez pela oração

Pela vulgar cobiça romana
Se corrompe, mente e idiotiza
A dádiva de outra vida ojeriza
Pois o homem é vil, só reclama

Criaturas inquietas e infelizes
Não eram os preferidos matizes
Da obra-prima de seu pintor
A elas restou a fala e a dor
Sísifo sabe o que é inútil labor

Morrem os deuses, ídolos nascem
O domador pacifica as mentes
Mister a todos uma vida coerente
Mistério resolvido, se não falhassem

Sedutora moralidade pessoal
É dolorosa sua angústia, o que é o mal?
Sagrada imagem-guia é contestada
Reino dos céus reduzido ao nada

Eis as três forças que subjugam:
Mistério, autoridade e milagre.
Os poderosos o homem alugam
Seguem os sacramentos do padre

Cães de caça de apurado faro
Césares vêem na humanidade
Uns vermes com instinto gregário
Satisfeitos na tranquilidade

Leguelhés que rastejam por comida
Perante a autoridade preferida
Não contrariam mais a submissão,
Aos humildes há eterna salvação
E aos rebeldes há infinda danação

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