27 de setembro de 2011

Amor platônico ou ciumento

É importante efetivar desejos e necessidades, mais para um conforto físico e, posteriormente, psíquico, do que para a completude de uma metafísica que teima em imperar em um indivíduo, mas que é mais comum não ser plenamente satisfeita, ora pelo sonho ser exigente demais, ora pelo desencanto natural da realidade. Quando uma pessoa se sente incondicionalmente atraída por outra, devaneios, delírios e fantasias manifestar-se-ão espontaneamente, afinal o desejo é mais importante que o objeto desejado. Veja, às vezes é melhor manter o amor platônico; alguns protestarão com o argumento da covardia, outros pelo empirismo ou pela primazia da tentativa (”quem não arrisca não petisca”); enquanto os defensores da fantasia dirão que cultivaram um amor, ainda que não correspondido, infelizmente, por ora.
De perto todos têm defeito, quem sabe os ficcionistas ou pessimistas não estão prontos a conviver com o confronto com a realidade “nua e crua”; contudo, se não mudarem de perspectiva nunca estarão! O castelo ruirá, o conto de fadas se dissipará, o príncipe se tornará sapo e as princesas parecerão bruxas. Pois bem, se o importante é ser feliz, uma vida virtual, fantasiosa, figurativa ou superficial seria, definitivamente, escapismo? Ou apenas cascas e máscaras devem brotar, sendo forjadas a fim de encerrar a ingenuidade de adultos ainda infantis?
Uma religião diferente, pontos de vista contraditórios e inconciliáveis, manias e cacoetes que emanam da linguagem corporal, indisciplinas e indulgências, educação e origens diversas, que deságuam em discussões difíceis de contornar, são exemplos do desmoronamento da pirâmide de cartas que cada um cria para se iludir e obter bem-estar. Ora bolas, também quem se relaciona tem expectativas platônicas, este apenas se arriscou – o passo decisivo – em realizar seu sonho, que com certeza não será uma cópia fiel no mundo material, mas que poderá ser uma versão 2.0, isto é, se o desejante tiver poder suficiente para mudar e ceder até onde achar conveniente e ainda convencer o parceiro em se tornar quem ele conjecturou.
Deixe o romance platônico acontecer apenas no sublime mundo das idéias, que mal pode haver? Bem como, que deixem os sujeitos superficiais manterem relacionamentos quase que contratuais, se a transa é boa porque embotá-la ao se querer conhecer o outro? Que a imaginação flua e hologramas surjam, pois é o que a memória arquivará, sendo reabertos em momentos de boa nostalgia. A prática já é árida demais, pode haver retórica que impeça essa metafísica hedonista de existir?
As mulheres têm o costume bobo de apagar da memória e varrer do quarto as recordações de antigos amores fracassados, como se não tivessem sido importantes e não as tivessem tornado pessoas melhores e mais amadurecidas. Além de possuírem o corriqueiro ciúme mesquinho, uma mera insegurança: vergonha idílica de não serem rainhas para seus respectivos companheiros. Replicam com a tese de “quem ama cuida”, ou “só quem sente ciúmes ama”, entre outras falácias circunstanciais. Isso não passa de possessividade e tirania, corroborando a idéia de que o desejo é mais importante do que o objeto desejado.
Se não houver concordância, o enciumado faz uma tempestade, até que seja aceito seu tolo argumento, se não, partirá em busca de alguém “mais compreensivo”. A relutância do sujeito analítico do ciúme em aderir totalmente a essa premissa ilógica (ciúme é amor) não tem o incomum desfecho de obsessão/paranoia. A liberdade, então, só será permitida em companhia, a vigilância é contínua, para combater a desconfiança contrata-se um segurança. Isso porque o amor-paixão, o verdadeiro, aquele das almas gêmeas, é raro, para os demais o remédio é a tolerância. Portanto, aquele que ama tem que convencer o amado de que merece ser amado da mesma forma intensa, e será ensinado a tanto. Porém, isso é coisa que se sente, não é aprendida.
Por fim, a questão que se coloca: o primado é ser feliz ou ter poder?

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