O diálogo como desenvolvimento pessoal
Conversar, debater, dialogar, enfim, a arte grega da dialética como processo de autoconhecimento e resolução de conflitos ou impasses, ou apenas um agente de mudança de perspectiva, a fim de alcançar uma unidade que de outra forma não seria atingida. Para tanto, é preciso haver dois sujeitos de opiniões distintas e, se não convictas, bem embasadas, além de humildade para reconhecer a força da argumentação contrária. À primeira vista pode parecer, mas não é para ser uma queda de braço com objetivo de subjugar o adversário por meio da retórica. Pontos de vista de longa duração dificilmente serão alterados após um confronto de ideias, o importante é a tomada de consciência de que a própria opinião pode ser enriquecida com detalhes não percebidos antes das formulações postas pela outra pessoa.
O imperativo de se sentir e de querer ser valorizado através da exposição dos argumentos, ou dos princípios professados, pode gerar a impressão de que se está sendo arrogante; às vezes se está sendo mesmo, mas não conscientemente, é apenas a necessidade de poder se manifestando através da fala mais prolixa e incisiva. Para muitos falta o conselho de alguém dizendo para pegar leve, que se está exagerando, que ninguém precisa ouvir sentenças impositivas e achá-las agradáveis, além de que dificilmente uma opinião será alterada desta forma: na marra. Assim sendo, o prepotente poderá se tornar alguém cortês, mesmo com opiniões fortes e pouco ortodoxas, e desejável num círculo de debates, sendo mais observado e influente com a nova atitude.
Em um relacionamento isso se apresenta como fundamental, afinal a maioria das discussões provém de ideias ou atos reprováveis que antes não foram esclarecidos como detestáveis. Pode acontecer de um dos dois querer passar por cima só para irritar ou demonstrar que está em situação superior ou independente ao outro, algo que não aconteceria se tivesse havido uma predisposição para deixar bem claro o que se pretende ou quem se é. A individualidade, a sinceridade e os dilemas são subjetividades que quase todo mundo prefere fugir a enfrentar de uma vez, postergando para um futuro qualquer, é claro que no formato de uma bola de neve.
Não vou ser tolo para afirmar que a solução é ser totalmente sincero, porque todos sabem que muitas coisas escondemos até de nós mesmos, imagina para um outro que inevitavelmente é diferente e provavelmente estará contrariado em ouvir ou ver algumas verdades. Porém, um meio termo entre as partes pode ser acordado, de preferência antes que aconteça a situação desagradável. É difícil, gostamos de manter as aparências, de olhar para as coisas boas e de ignorar os defeitos, sofreríamos se convivêssemos, o tempo todo, com a dura, crua, terrível e tenebrosa realidade, sem as fantasias metafísicas que nos consolam e nos convencem de que o amor existe. É isto, temos medo do que poderá nos incomodar e entristecer a ambos; a fase de desencanto e término de namoro nós preferimos manter embaixo do tapete, que é quando a crise irrompe, magnífica.
Atualmente, com tantos seres mimados espalhados pelo mundo, essa minha premissa (queremos fugir a enfrentar as dificuldades) se torna evidente. Todos se acham certos, pois são o centro do mundo, e desejam apenas usufruir do outro em seu melhor, e quando os defeitos começam a emergir, tanto do outro como de si, a maioria foge para sua redoma confortável, no colo da mamãe ou do computador. A humildade de receber críticas, ou somente opiniões divergentes, para melhorar a própria personalidade ou conduta, encontra-se ausente. Após bastante dengo, aplausos e aprovações, as pessoas se arrefecem, optando por seguir o fluxo do mundo, que tende a forçar todos a se adaptarem – seja para mudanças de comportamento na aparência ou na ética –, apenas naquilo que lhe for mais conveniente, que não à toa costuma se resumir à postura externa, mais facilmente percebida e elogiada.
O poder, que traz o sentimento de glória, provoca na maioria dos sujeitos mudanças externas, contudo o padrão mental permanece; as modinhas vem e vão e o pertencimento (pela aceitação dos demais), ao se aderir a tal tendência, é o suficiente para essas pessoas, pois já cumpriram com seu dever de retribuição social ao sem coniventes com o que vem sendo feito. Elas não se aprofundam e acabam não mudando o mundo e nem si mesmas. O motivo é claro, não quiseram ouvir impactantes ideias que mudariam seu caráter, logo estão ainda numa zona de conforto, e não se fizeram ouvir, ou por não terem personalidades ou por não aceitarem o desafio de pôr à prova desejos e anseios que provavelmente a maioria discordaria ou faria pouco caso.
O etnocentrismo é um padrão universal de comportamento das culturas. Cada indivíduo tende a ver as coisas a partir do grupo em que está inserido, em especial a família, os vizinhos, a escola, o trabalho e os amigos, e chama o que vem de fora de “bárbaro” ou de algo semelhante. A globalização e a mais intensa troca de informações e acesso a diversos saberes e culturas deveriam ter reduzido essa mania de se achar sempre certo em relação aos demais, porém a teimosia em não dialogar com o diferente permanece. Talvez pela importância demasiada que cada indivíduo dá a si mesmo, ou então porque as relações que se dão com os mais diferentes indivíduos são superficiais, sem alterações de fato na mente e nos julgamentos morais. Enquanto isso vou debatendo e dialogando, claro que sem a frequência devida, mas ao menos de forma crônica e observando a importância disso para meu desenvolvimento. Creio que está sendo positivo, apesar de já ter sido acusado de ter me tornado outra pessoa, quase irreconhecível, embora eu insista que a minha “essência” permanece.
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P.S.: Post sem qualquer consulta bibliográfica, exceto a do Aurélio, que sempre me acompanha.
Interessante, André!
ResponderExcluirAs discussões humanas seja lá o seu contexto provem mesmo da aleatoriedade das palavras. Cabe a nós uma dose de compreensão e paciência.
Igual o papo do budismo! ^^
Bom final de semana, rapaz!
*Seguindo*