24 de junho de 2013

O Homem 3.0: Só a Cabeça Biônica mais os seus Eletrônicos


Imagine você como uma cabeça voadora. Só a cabeça, alguns braços retráteis e um compartimento do tamanho de um notebook servindo de ombros e pescoço. Os braços são resistentes e maleáveis com alguns metros de extensão e três dedos em cada um que mais parece um canivete suíço ou a mão do Inspetor Bugiganga. O compartimento eletrônico o permitiria dispensar meios de transporte e pernas, movimentando sua cabeça poderosa em alta velocidade e sem muita preocupação com eventuais batidas, pois ela estaria muito bem protegida por um capacete blindado. Coração, ossos, músculos, garganta e pulmões só dão trabalho e podem ser facilmente substituídos por membros numa estante, escolhidos dia-a-dia como se eles fossem roupa ou maquiagem, dependendo do humor matinal para serem utilizados. Imagine só isto: seu “corpo” tão veloz quanto um carro!

Mas essa parte física seria pouco utilizada de qualquer forma, pois sua mente estaria muito mais conectada num mundo virtual de infinitas possibilidades, pois as mentes de outras cabeças etéreas estariam conectadas numa nuvem wi-fi globalizada, como em Matrix, com a diferença que esse mundo paralelo pareceria mais o Grande Lar ou outra coisa bonitinha que se pudesse imaginar. Para quê ficar com o feijão com arroz quando se pode comer escargots e lagosta de café-da-manhã? Isso para quem ainda sentisse vontade de comer, essa coisa primitiva superada por nanopartículas que eficientemente captam toda a energia necessária para se viver a partir do sol e da água mineral, e nada mais. Até porque metabolizar um corpo de alguns quilos não demandaria muitas calorias.

Para quê nariz quando não há pulmões para processar oxigênio? O compartimento faria esse trabalho, como ventoinha de computador. Nem por isso o olfato precisa deixar de existir, muito pelo contrário, você perceberia odores que nem o mais arguto animal farejador a vagar pela face da Terra hoje consegue. Um sensor em qualquer lugar da sua cabeça faria esse nobre trabalho para você. Olhos veriam em raio-x, infravermelho ou com lentes de telescópio, bastando para tanto trocá-los, como unhas postiças de travesti. Orelhas com qual finalidade, quando as ondas sonoras são mais bem peneiradas a partir de aparelhos do tamanho de uma ervilha implantados no lugar do ouvido? Um programa poderia ser modulado para captar as frequências mais agudas, que sequer os cães conseguem ouvir; as mais graves, que se aproximam ao som do Big Bang; ou simplesmente ignorá-las (mute mode on), quando você for meditar e se concentrar em um sentido apenas, como o olfato, ou em ideias grandiosas, atualmente impossíveis para nossa capacidade intelectual. Isso mesmo que você pensou, Darth Vader é fichinha. E ele não estará numa galáxia tão, tão distante.

Seu cabelo poderia ter o penteado da moda ou o mais exótico possível, seriam tantos formatos que ninguém mais estranharia. Uma vez dado o comando para seus braços mecânicos, dê adeus à ida aos salões de beleza: sem cansativas filas, irritantes fofocas ou mal entendidos. Suas mãos seriam mais precisas que as de Edward mãos-de-tesoura, qualquer cor, condicionador e demais cosméticos seriam prontamente entregues em lojas de departamento na esquina. Mas como eu disse, é provável que no mundo físico poucos estivessem realmente ligando para o decadente corpo. A ação de fato se desenvolveria em redes, com os malucos iniciando e encerrando existências como videogame; starts seriam dados a todo o momento por milhões de birutas comodamente encerrados num quartinho protegido por aí. Afinal, para quê casa se não é preciso cozinhar, deitar em camas, sentar em cadeiras, estirar-se em sofás, tomar banho, trocar de roupa, alimentar os peixinhos ou rolar com o cachorro? Móveis domésticos seriam itens de museus como ferro a carvão.

Esqueça como o homem fez sua história e prepare-se para o futuro. Mundo pós-humano. Esquisitices à parte, um cenário semelhante ao exposto é bastante viável. Em poucas décadas (5, 10 ou 15), acredite, a tecnologia pode muito bem avançar a ponto de realizar (quase?) inteiramente esse panorama, que soa como excentricidade a nós – humanos limitados pelo aparato corporal ineficiente, a tal prisão platônica. Como não existe outro mundo (ou pelo menos a certeza dele), alguns cientistas doidões resolveram projetar o mundo das ideias por aqui mesmo. Ou no mínimo logo ali, além das conexões de internet – ou por outra alcunha certamente batizada. E nem tão longe, aqui mesmo, pois o corpo/a cabeça seria bastante remexido: dentro dele haveria tantos chips, softwares e partículas minúsculas que a parte eletrônica talvez suplantasse a orgânica. Tudo objetivo e correto, beirando à perfeição. Cabe questionar: ela existe? Para alguns, parece-me que sim.

Viagem minha? Infelizmente (para mim, sujeito analógico e anacrônico), não. Busque autores pancadas como Ray Kurzweil, Nick Bostrom e Edgar Franco. Saber sobre Cybercultura ajuda também, e a referência é Pierre Lévy. Pesquise sobre futurismo, transhumanismo, promessas da nanotecnologia, imortalidade humana, backup da mente e outros temas correlatos que nos remetem aos ousados e fascinantes livros e filmes de ficção científica. É assustador, mas para muitos é promissor. Homem (?) sem amarras. Ou ser biônico plenamente satisfeito e realizado (!). Para mim, é mais o triunfo da objetividade fria e hedonista que julga haver uma resposta definitiva para a vida: progredir tecnologicamente e inundar os sentidos de informações muito além de um oceano terráqueo. Uma galáxia seria pouco. Uma vida não é o suficiente para explorar o universo.

Ou quem sabe seja simplesmente crítica de alguém atrasado que tem medo das inúmeras implicações que uma revolução, uma gigantesca mudança de paradigma e uma novidade imprevisível podem trazer. Sem dúvida, há muitos pontos positivos, como redução de conflitos, sustentabilidade ambiental, erradicação da miséria, educação (ainda que meramente técnica) e previsibilidade comportamental. Mas nada possui só lados bons e tem unanimidade entre os sujeitos pensantes. Penso que o grande problema seja ético, bioético. A máquina é superior ao homem? A razão deve predominar sobre as confusas emoções, custe o que custar, doa a quem doer? Se bem que estamos falando de um conjunto de seres insensíveis e autossuficientes. Não se aplica?

Fica a dica para você refletir sobre conjecturas possíveis e que podem ser comparadas com casos mais concretos e próximos de sua realidade, cada vez mais mutante e acelerada. Esforce-se e concordará comigo. Até onde você quer ir? Querer será poder. Desejou, conquistou. Simples assim. Simples? Nunca é simples quando se fala de vontade. Vá pensando aí, para mim foi útil, espero que para você também seja. Enquanto isso, aproveite este mundo, onde querer é só o primeiro passo para poder.

Para encerrar, fico com esta frase de Giacoia Jr: “Uma das acepções do niilismo é esta: o ideal do humano reduzido à intensidade minimalista da sobrevivência; o ideal de felicidade rebaixado ao hedonismo consumista, à incapacidade de elaborar uma experiência de sofrimento, ao desejo obsessivo de bem-estar, conforto burguês e segurança, o acobertamento no anominato do coletivo, a diluição de toda verdadeira personalidade, a negação da diferença pela tirania identitária do uniforme”.

 

P.S.: Eu deveria ter pesquisado mais, para escrever com mais embasamento. Deixarei essa tarefa a meus leitores. Quis liberar o fluxo de ideias de uma vez só. Estava represado, achei o assunto instigante e, como uma criança, me empolguei, mais agi que pensei. Deixarei o cuidado reflexivo para o tempo.
 

15 de junho de 2013

Tententender


A Alaíde
 
Alaíde, vosso alarido é chororô
Sentis repulsa por tudo que não vos pulsa.
Essa fleuma é causa da grande celeuma
e do tumulto transformado em insultos.
Minha asserção: caminhais sem tanta aversão!
 
Sabeis que algazarra não precisa ser farra,
Após as injúrias restará a lamúria
diante do penhasco, a vós o meu asco.
É nossa dissonância, pois carrego esta ânsia:
Demonstrar repugnância por vossa flanância.
 
Batuques
 
As bagunças de um lúgubre burguês:
Badulaques de butique e buquês;
Uns lacres, dois baques e laquês.
Basbaque por batuque luandês!
 
Aversão
 
Vê, sentir aversão ao Ave César
é conversa de quem vem versar
em Versalhes por falta de asserção
Faz tergiversar e dispensar
seus haveres, não quer averbar
só quer o que é adverso conservar.
 
Convém rever esta confusão:
As aves como a veraz versão
daquele que sem ver malversa
até haver de ceder em convulsões.
Então ele teve de reversar,
senão, para ele deserção!
 
Antevê o são de tenaz visão:
Na conversão haverão de adversar
sem as enviesadas lições
os adversários, pois é de César
o dia – Ave! –, seu aniversário...
 
 
P.S.: Foram esses os versos, sentiu aversão?

9 de junho de 2013

Eu também faço Rap


No subúrbio tenha sempre seu ardil
 
Ando pelo bairro e paro na esquina
Está pichado o muro, maior cheio de urina.
Sigo o meu rolé, não suporto essa caatinga;
O buraco é tenso, não te explico, é só vendo
A cinquenta passos eu percebo um moreno
Chego perto dele, o malaco tá fedendo.
 
Nesta noite, sei, carniça é minha sina,
Parto para o bar, que o goró me alucina.
Que infelicidade, me oferecem cocaína.
Tenho cara de burguês?
Um perdidão talvez?
Não quero ser freguês
De malucos, sim, vocês!
 
No subúrbio tenha sempre o seu ardil
É a lei da selva bem no meio do Brasil
 
O tiozinho no sinal se levanta, é um alento,
Dirige-se até mim, passos em câmera lenta
E pede um real, eu recuo – só lamento.
Seu bafo de cachaça não tem vivo que aguenta
A morte é mais um caso, apenas um intento.
As ruas da cidade é esse tipo que frequenta
 
O conselho de milhares serve de alerta
Infortúnio coletivo é o que a voz projeta
Que nosso excluído a sombra o proteja
Pois lixo voltará, no prato ou na bandeja –
Não seja o que ele enseja
E veja no que o fim despeja.
Não seja o que ele enseja
E veja no que o fim despeja.
 
Relaxo todo o corpo, prossigo mó intrépido,
Não demora muito, quase piso num decrépito.
Aqui por essas bandas desgraça é em avalanche
Não dá nenhuma Chance, agiliza uma Revanche,
Sou macaco velho, tenho sempre meu ardil:
Longe mês de Abril, fugidio, nem me Viu!
 
No subúrbio tenha sempre o seu ardil
É a lei da selva bem no meio do Brasil
 
Se eu fosse engravatado, fodão do Ministério,
A vida desses manos não teria mais mistério.
Retirava da gaveta plano gasto, já bem velho:
Distribuía a Renda, acabava com a Tristeza,
Não haveria um moleque sem jantar e sobremesa.
Por enquanto ele chora: ou almoça ou reveza,
Ou almoça ou reveza.
 
Em assuntos tolos todo povo é bem sincero
O papo é furado; lá a tia, vem com lero.
Quem dera com o tráfico grau de sigilo zero
É pow, pá, pum! Não vai sobrar nenhum...
 
Barbárie e violência, tretas que não tolero.
Ciclos retomados e infantes sem futuro.
“Um peito com três Furos, assim é que eu Faturo”,
Diz o vagabundo, com fuzil, atrás do muro...
 
No subúrbio tenha sempre o seu ardil
É a lei da selva bem no meio do Brasil