17 de novembro de 2014

Sutis e perspicazes pensamentos avulsos



I
Com o que nós realmente nos importamos? Com objetos que retratem o nosso “eu” e que, pelo caminho inverso, moldam-no, através de hábitos e rotinas a que nos apegamos. É mais difícil abdicar deles ou nunca tê-los pego? Nada parece muito errado. A inércia é uma força diminuta, simplória e colossal. E o “eu” é um depósito de entulhos, como toda curva de rio. A identidade pode ser uma ilusão, “eppur si muove”.

II
A ambição do homem empurra os supostos limites da natureza sobre ele mais para longe de si. A imaginação, a vontade e o prazer humanos podem sempre ser ampliados, até o dique arrebentar – leia-se crise. “Lei natural” é algo com que o homem gosta de brincar. Lei de fato é proveniente do contrato social. É o Estado quem define o que é justiça. Há homens que exercerão sua liberdade, julgando como justas as suas conquistas, e há os que se prenderão ao que o aparato jurídico, além da moral divina, lhe preceitua como justo. Encontram-se todos nesse terminadouro, entre a fruição da natureza selvagem e as amarras da burocracia que policia, impossibilitados de convencer que a justiça, metafisicamente falando, existe.

III
Quem você acha que está preocupado com você? E saberia dizer até que ponto? Família, amigos, colegas, vizinhos seria sua provável resposta. Em tempos de relações líquidas muitos optam por querer tornarem-se máquinas, apesar da base orgânica, no intuito de dispensar as aflições advindas desse aspecto demasiadamente humano. O prazer e as conveniências, ou hipocrisia social, comandam as relações na sociedade. Porém, quem mais está sóbrio nesse ponto é quem mais se ferra, ou ao menos se angustia. Em excesso, a lucidez e a fadiga podem derrotar uma pessoa.

IV
Se eu morrer em breve, algumas coisas ficarão incompletas. Mas afinal, o que está acabado? Que mania é essa de perfeição e controle da própria vida? O mundo já foi um lugar atraente, enquanto hoje é bastante solitário e árido. Os simulacros nos distraem para que não vejamos esse aspecto inóspito da vida contemporânea. O pior é que ninguém liga pra isso, ou pelo menos procura não se importar, pois ampliaria seu sofrimento – princípio do prazer. Se eu morrer em breve permanecerei incompreendido, talvez só um pouco mais admirado – a morte tem suas vantagens.

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P.S.: Merci les bleus!

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