12 de novembro de 2009

“A filosofia de um século é o bom senso do próximo”

Mais um texto antigo (mas nem tanto, somente alguns meses):

Ao ler, parcamente, sobre história e filosofia - e história da filosofia -, e ao refletir sobre a frase-título (sinceramente não sei a quem é atribuída, provavelmente é de domínio público), sugiro que o melhor seria dizer: A filosofia dominante em um período será a dominante em uma sociedade daqui a um século, aproximadamente. Afinal, um século consegue se resumir em um período? Ou, filosofia é bom senso? Ou ainda, de que região geográfica é essa filosofia e essa sociedade?

É inerente à filosofia estar na vanguarda. Ser contrapelo do contemporâneo. É essencial a ela a extemporaneidade, ser, assim, inatual. Ou por contemporizar e conjecturar em demasia a ponto de adentrar em outra realidade ou por nostalgicamente relembrar os mestres e ensinamentos que foram oráculos que previram os efeitos dos enigmas que angustiavam a humanidade. O filósofo se recusa ser moldado por seu contexto, ele quer por o tempo sob sua medida. Só depois do tempo que for necessário, a compreensão de suas idéias serão difundidas, apreciadas e efetivadas socialmente.

Vejamos a efervescência intelectual e teórica do período de 1750-1850 – iluminismo, idealismo e positivismo, por exemplo. Apesar de embasada no contexto da época, não se refletia in lato na sociedade, mas apenas em determinados círculos. Muitas novas idéias e práticas surgiram nessa fase, como os grandes compositores e as revoluções e a independência generalizada na América, entre outras. A Revolução Francesa e a Revolução Industrial representaram rupturas práticas, que passaram por um período de transição, característica da dialética da história, com resistências de diversos grupos. A sociedade ainda não havia apreendido essas “idéias modernas”.

Vejamos dois dos maiores filósofos do século XIX: Marx e Nietzsche. Poderíamos trazer à tona outros pensadores influentes, como Adam Smith e os utilitaristas, Kant e Voltaire. No entanto, vamos nos ater a esses dois em face da ponte que será feita entre o fim do sonho revolucionário em 1968 e o dito pós-modernismo da sociedade contemporânea; assim como foi a ponte entre o idealismo social de Marx e o ápice do movimento idealista alemão iniciado em Kant e que culmina em Nietzsche.

Marx influenciou fortemente o século XX, em parte pelo modelo capitalista não solucionar graves problemas sociais. Ativistas que desejavam transformar a sociedade viram na filosofia marxista as soluções às disfunções do modelo capitalista vigente. As duas principais obras do autor, Manifesto Comunista (1844) e O Capital (1867), atingiram seu ápice nas tentativas de revoluções pelo ocidente (EUA, Brasil, França) em 1968. Ou seja, houve um período de, praticamente, um século exato. Excetuamos Cuba, que conseguiu êxito e aplicou política e economicamente, em toda nação, os ideários marxistas, ou, pelo menos, grande parte deles.

Nietzsche, tido como o grande expoente do pós-modernismo, com idéias de individualismo extremo, de antidemocracia e de libertação de moralismos cristãos, hoje em dia é o filósofo mais lido, substituindo Marx. Suas principais obras situam-se entre 1878 e 1888, ou seja, novamente, a sociedade o “digeriu” cerca de um século depois. É claro que nem toda a sociedade adere esses valores, assim como nem todos os que podem ser classificados como pós-modernos lêem Nietzsche. Porém, assim como muitos dos revolucionários de 1968, mesmo sem lerem uma linha de Marx, apoiavam o movimento e tendiam a concordar com os ideais marxistas, a atual sociedade tende a concordar com os valores nietszchianos, mesmo sem ter consciência disso. É um mimetismo social que faz com que intuitivamente cada sujeito se predisponha a acompanhar o fluxo do sistema.

A dialética da história humana entra novamente em cena, os valores marxistas de comunhão, solidariedade e valoração da sociedade em supressão ao individualismo foram substituídos por valores de individualismo, indiferença social e política e comportamentos dionisíacos e inconseqüentes. Assumimos que essa abordagem é reducionista e analisa apenas o viés da expressão clássica do título. Isso significa que vários outros fatores emergem e infuenciam; a sociedade é muito complexa e dinâmica, assim como eram esses dois filósofos clássicos. No entanto, verifica-se a clara influência de suas filosofias nos jovens de épocas distantes a cerca de um século das obras filosóficas. Isso significa que só grandes pensadores que vêem as sutilezas da sociedade e do homem, assim como conseguem apontar para o futuro, conseguem criar uma obra explosiva cujos efeitos fazem-se sentir apenas muito tempo depois.

Exposto isso, o que podemos esperar do futuro? Quais foram os grandes pensadores da primeira metade do século XX que serão os grandes influentes da geração que virá? Arriscamos dizer que pensadores tradicionais, como Foucault, Sartre, Dewey, Bergson e Russell influenciarão na primeira metade deste século. Porém, serão os visionários heterodoxos, ficcionistas, que refletirão a sociedade do final deste século. São escritores como Clarke, Dick, Heinlein e, em especial, Asimov, que serão considerados os profetas da tecnologia. Resta à sociedade resolver problemas morais e existenciais, que poderá ocorrer no período de transição de influência de filosofias de Sartre e Russell, bem como de Nietzsche, Deleuze e Derrida. Isso se faz necessário para que o homem possa entender a importância e a inevitável dominação dos robôs e da inteligência artificial no planeta. Eles serão economicamente muito mais viáveis, e caminhamos a passos largos para tornar a Economia a principal estruturante do mundo plano.

A humanidade será instrumento dessa vida criada pelo homem, o oposto do que acontece hoje e do que o homem espera. Será a efetivação do monstro Frankenstein. O homem em toda a sua arrogância será superado. A guerra que poderá ser desencadeada entre essas duas formas superiores de inteligência poderá formar um cenário apocalíptico como o exposto em Matrix, mas é para isso que servem os períodos de transição, para aplainar o terreno para a síntese. A menos que alguma metafísica volte a superar o frio materialismo, então o homem perceberá que o racionalismo enviesado e o cientificismo niilista não o tornou mais feliz, como já havia prevista Goethe.


P.S.: Estou postando essas coisas antigas por falta de inspiração mesmo e para manter o blog atualizado. Achei superficial, mas eu não consigo me aprofundar em nada, sou um pedante.

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