Costumam me reprimir e admoestar por minha antipatia, como se eu estivesse fazendo algum mal ou causando algum sofrimento aos outros, além de indiretamente sugerirem que estou prejudicando a minha imagem; tende-se a julgar bem aquele que pratica o bem. Porém, como saberei a quem me dirigir mais estusiasticamente? Pratico apenas uma fria cortesia a desconhecidos com quem muito provavelmente não terei contatos contínuos nem profundos. Reconheço que às vezes exagero, fica aquém de um esforço de simpatia a quem eu deveria ser um pouco mais educado e gentil. Talvez eu seja muito interesseiro e realize esse esforço apenas com quem eu desejar algo em troca, todavia, costumam ser tão poucas pessoas que se tornou um traço de minha personalidade a indiferença, a ponto de ser natural. Tanto é que mesmo àqueles que eu intencionalmente tento agradar e transmitir atenção não reconhecem, e até estranham, a minha excêntrica sociabilidade dirigida. É rispidez?
Entretanto, pessoas que se julgam amistosas e educadas são capazes de transmitir antipatia e algum mal a mim, mas não sei dizer se elas fazem isso conscientemente ou não. Mas fazem. Pois, como eu tinha interesse nelas, e elas não correspondem, por qualquer motivo, grosseria que perceberam em mim, ou não entenderem a minha obscura comunicação, ou falta de atenção ou de polidez ou por conflitos vindo delas, ou ainda por não me ouvirem direito, eu também me julgo prejudicado. No fim, qual a diferença na atitude delas e na minha, enquanto simpatia? Só aquele que reclama poderá responder.
De minha parte, não passarei por hipócrita e conseguirei me justificar, enquanto os outros se esquivam. Sou discreto, mas se surgir uma situação comprometedora, torno-me desbocado e escancaro a verdade, como o personagem Salgado Franco, o super sincero. Apenas não caço confusão, mas não fujo da encrenca. As pessoas em geral tendem a ter medo de situações embaraçosas, elas são demasiado políticas, inventam desculpas para não ferir e magoar o semelhante. Receber isso, para mim, é pior, pois além de ser derrotado, não consegui sequer extrair a verdade e me interessei em alguém covarde. Preciso me esforçar para dar a impressão de que suporto qualquer verdade e inconveniente e que detesto a malícia do esquivamento compassivo.
Não há como saber a intensidade com que foi ferido o outro ignorado e/ou repelido. Em minha ética, evito máscaras, assim, entro em conflito com quem só sabe se esconder. Às vezes, toco na ferida só para ser xingado ou elogiado, dragando a honestidade. Não tenho mais medo da rejeição; a indiferença e o silêncio é que me angustiam. Isso significa que não despertei qualquer sentimento e não tive a mínima importância para aquele sujeito. É muito mais desestimulante que perder uma pequena batalha, pois retira a esperança. Como ver um horizonte sem ter potencial? Estou aprendendo a perseverar, mesmo com tantos fracassos e parcas vitórias. Afinal, não sou de todo pessimista.
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