22 de dezembro de 2009

Sobre Relacionamento Aberto

Qual a maior prova de amor, hoje? Seria a perda da liberdade do(a) amado(a)? O sentimento de posse/propriedade se sobrepondo à efemeridade da emoção. Realismo: em um mundo vulgar e líquido, talvez seja o único valor que restou. O ciúme como insegurança e medo de ter seu objeto (sic) perdido. A fidelidade como prova moral de comprometimento. A mulher e sua quase obsessão por casamento, que a reconforta, afinal há um contrato que não a deixará desamparada; além da vaidade, reputação assegurada e a - instituição - família. Ingênuo é aquele que acredita que a mulher é mais romântica que o homem, ela sempre foi mais prática.

Sinto muito, mas, mesmo que um homem se convença da praticidade que a família traz, ou de uma metafísica em que ele sublima o amor, ele continuará desejando, conscientemente ou não, outras mulheres. Nossa culpa não é grande, são os genes que querem se perpetuar; o que somos além de máquinas gênicas? Instrumentos de melhoria do quadro social? O superego, a moral vigente, quer e espera que o macho se resigne com sua posição monogâmica. Mas as fêmeas só não são iguais porque não possuem a garantia do afeto paternal futuro. Alguns primitivos garantiam isso vivendo em comunidade, sem posse patriarcal. Todos eram de todos e cada um cuidava do outro. Porém, a estruturação social mudou.

Atualmente, o crescente individualismo impossibilita esta provisão, diminuindo a confiança de um pelo outro. Quão poderosa uma pessoa pode sentir por ser a única a receber o amor da outra? Mas e quem deseja escoar ao máximo seus amores internos potenciais, na quantidade que for necessária, para esvaziar seu recipiente de sentimentos, para tornar a enchê-lo, em um belo ciclo, que afasta ressentimentos? Dopamina, oxitocina e serotonina são viciantes. É o naturalismo contra a burocracia da vida moderna. Uma tentativa de visão artística e de potência da vida, que é mais que nosso arrogante antropocentrismo. Quem ainda vê beleza e transcendência no sexo e no relacionamento? Eles se tornaram um problema de desempenho.

Haveria mais gente feliz? Ou não há mais retorno? Tornamo-nos duros demais para coisas tão singelas? O que endurece e finca raiz é mais difícil de ornar e esculpir. A possessão e o escrutínio público não permitem esquecer nossa individuação, colocando o orgulho e a vaidade como sentimentos intransponíveis à liberdade e à ajuda de fazer feliz quem se ama. É impossível a dedicação e o carinho, em profundidade – o que mais exigir? – a quem não se tem a posse (exclusiva)? Isso é tratar uma pessoa como objeto.

Mas talvez seja também ter muitas necessidades e querer preencher os vazios, um consumismo hormonal, ou uma posse descartável, ou ainda, uma histeria por experimentação?

Quem consegue ser feliz na estabilidade e no tédio da vida a dois por tanto tempo e com tantas preocupações a solucionar? Muito pouco amoroso transferir seu problema ao outro. “Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”, leia-se tolerância. Isto é, continuar admirando o que é contrário aos seus valores. É preciso completude e respeito à individualidade do outro, o que é diferente. O mundo já é cheio de motivos para sermos pessimistas. O romantismo é ser cego, ignorar defeitos, quando os percebemos e nos afetam, morre toda a fantasia. Isso é ser idealista? Que pena...

Para finalizar, um trecho de uma música-tema sobre isso, A Maçã: “Amor só dura em liberdade/O ciúme é só vaidade/Sofro, mas eu vou te libertar”.

Um comentário:

  1. Filhão vc é d-e-f-i-n-i-t-i-v-a-m-e-n-t-e um pensador.
    Um texto assim é para se pensar, refletir e dialogar.

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