31 de março de 2010

Without Emotion

Tudo mudo

O medo muda um mundo mudo
Um ledo buda, no fundo, é tudo
Um mudo medo muda o mundo
Tudo é ledo a buda, no fundo
O mundo muda o medo, mudo
No fundo buda é ledo e tudo
Muda mudo, que medo do mundo
Buda, em tudo, é ledo e fundo


O palerma

Foba é afobado; bobou o abobado.
Em prosa de suposta elite,
Proselitismo com falso requinte:

Peraltice de blasonador
Bizarro janota roncador
Gabarolas ou potoqueiro
Casquilho, pábulo e gomeiro

Só o farofento se faz fanfarrão
Se o ferrabrás for um pimpão
Fala do farofeiro e farfante
Falha bazófia do jactante

Farra de farromeiro indolente
O pabola bufa ao bufador
A chibantes vãos e vaniloquentes
Alarmes que alertam o alardeador

Alerta que infecta e me veta
Seta que acerta a sua meta
Concreta é a reta, que na certa
Se afeta, conecta e não aperta


P.S.: Fazer arte é também trabalhar, é repetir, inspiração mecânica, um paradoxo da estética, ter paciência e não se entediar.

30 de março de 2010

Ideias Curtas

Com as mudanças visíveis e ostensivas do mundo atual, talvez as coisas mais familiares a nossos costumes sejam as nuvens e as estrelas no céu (que, como sabemos, são mais mutáveis que comportamentos humanos). Os objetos emanados do homem se tornaram tão metamorfoseados que só a intuição e a mania de organização da mente consegue identificar padrões, apenas para não enlouquecer e se situar num local qualquer. Não é questão de julgamento moral e não dá para pedir para parar o trem para poder descer, a velocidade – globalização e idade da informação – gera depressão e stress, como não ser atingido por uma (psico)patologia qualquer e tomar sua tarja preta como desencargo de consciência?
Quem sabe se admitirmos a contemporaneidade e não se cobrando tanto, um dilema para a exacerbada individualidade e o narcisismo pós-modernos, pois, apesar da concorrência atingir a todos, a felicidade permanece como teleológica, exceto se assumirmos que o niilismo negativo triunfou. Ou ainda, que alguém seja superficial a ponto de se julgar pleno com o mundo hegemônico da aparência e seu império de maquiagem, botox e silicone. Muita cobrança oprime, deve-se encontrar, ou mesmo criar, uma balança entre produtividade e satisfação. Frugalidade? Talvez os epicuristas e Thoreau estivessem certos, no mínimo, em parte.
Ok, tudo muda, indícios que nos lembrar disso a todo hora: o corpo, a informática, a virtualidade, a energia, os resets, os prédios implodidos e erguidos. Todos transformados, conforme sentença de Laplace.
Adaptar-se e aceitar a efemeridade do espaço, o fluxo das águas e o decaimento radioativo. Um paradoxo, saber que a superficialidade é ubíqua e ao mesmo tempo criticar uma vida que é areia na praia, escorrendo pelos dedos, se perdendo a cada ressaca. A tradição se foi, a relutância é ilusão e nada mais que teimosia. A memória tende a se tornar apenas uma parte da cultura, numa visão história, que a cada geração se faz menos nostálgica, seguindo a tendência de nosso ocidente. Considero uma visão otimista, em que a natureza e o homem se sustentam, paralelamente com o crescimento exponencial da tecnologia.

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Enquanto juvenis afirmam suas individualidades e compensam suas inseguranças através de atos hostis e grosseiros, no espírito de rebanho, por desejarem se enquadrar em um imperativo simples, mesquinho e excludente, como se só por meio da violência fosse possível ser homem, em seu espectro de virilidade e autoridade; eu contraponho essa mesma insegurança, a esse mesma necessidade de expor minhas idiossincrasias a quem se interessar – ideias, opiniões e artes; por mais que eu negue, algum exame é necessário, seja por elogios ou por críticas, afundo na areia movediça do relacionamento sem alguma atenção.
É inegável o sinal de interdependência, mas também de egoísmo; de liberdade, porém vaidade; peculiaridade, todavia, como mais um sujeito do contemporâneo. De fato, não existem convicções, o que há são defesas de e em fases da vida, cada qual em sua retórica, repleta de falhas e lacunas pouco eloquentes. É possível, então, eu continuar a defender que o homem é essencialmente político, mas não social? Querer ser diferente e teimoso, e posteriormente ver a realidade mais diáfana, ou o oposto, mais espessa; experiência que nos ensina a relatividade de qualquer prepotente e precipitada verdade. Pois é, tudo é poeira no vento.

29 de março de 2010

Vasculhando...

As motivações são secundárias

Surjo para você como um anjo anticristão
Pecador, autônomo, a serviço da paixão
Apego sem posses, amor sem compromissos
Talvez saberemos o que vem a ser isso

Não se engane, houve relação mutual
Ambos escapando do passado abismal
Mudança de foco: meu problema a curar
Se tornou, pois, o seu árduo passado, ímpar

Exclusiva verdade pela confiança
Um fora damos à hesitação da balança
Demonstro erudição, recebo compreensão
Viés artístico, de prazer e beleza
Que seja amoral; não é através da tradição
Sublimes venturas, conquistas e surpresas
Advêm das nossas mais puras experiências
Emoções que regem esta nossa cadência

No fim, querida, celebramos a vida


Olhares

A dama vestia preto, tinha olhos cinzentos
Quis eu conhecê-la em um adequado momento
O poder místico exalou dela, me chamava
As chamas suscitadas em mim, acalentavam

Descubro-a com expansivos olhares
Encará-la faz surgir novos temores
Encontro nela próspera insensatez
As notas, ao fundo, soam milhares
A noite, de fato, será das melhores
Preciso superar minha timidez

Nós não nos expressávamos em palavras
Ao lado de outra, era nela que eu pensava
Eu, submisso, escutava seu comando
Recue! Avance! Dia de normando

Separadamente, unidos pelo silêncio
Ela falava apenas com vívidos olhos
Quem é a musa de primorosa visão, penso
Inspiração da versátil pintura a óleo

Arrisco-me a ser punido defronte ao muro
Por seu amor, pagaria a pena com orgulho


P.S.: Não era para eu publicá-las... Não quero conversar, por isso escrevo...

28 de março de 2010

Se fosse fácil se olhar quem diria Eu?

Saudade

Todos os dias preciso apenas de quê?
Dormir, comer, ouvir, talvez ler, de TV.
Alguém é indispensável? Não é, ninguém

Um motor que consome pouco as relações
Suja-se menos economizando ignições
A cada semana abastecimento e calibragem
Em alguns meses, fazer a troca do óleo e revisão
Em diversos meses, mudar, ou gastar em manutenção
Não são mais as mesmas engrenagens

Desgaste natural, erosão da convivência
Não há conveniência, esgotou-se a paciência
Virá saudade pelo rotineiro apego?
Com certeza, o tempo é remédio que cura
Tornar-se-ão histórias a essas alturas
Aprendendo a viver sem qualquer dengo

Dia a dia, o sentimento se enfraquece
Todo dia, assim a paixão se arrefece
Gastar tudo hoje ou poupar para amanhã?
Num amor intenso esse coração foge
Num caso insosso há delongas vãs
Eficiente Uno ou vigoroso Dodge?

Em calmaria e nostalgia a saudade é imensa
Em turbilhões, nossa vida se faz tensa
Pressa, frieza e imperativos dão cabo
A necessidades interpessoais, nunca queridas
Sem proteínas, a agressividade é perdida
É preciso do outro, sempre, da capo

Sentir, ou sentido? Ressentido.
Sentir, sempre, o sentido. Sensível.
Em sentido, é sem sentido sentir.
Não sinto, ressinto. Insensível.
Se vai, sem fim, a saudade
Sentindo, ou não, seu sentido.
É a dependência ou a liberdade.


P.S.: Reconheço que anda escrevendo pouco, são vários os motivos. Mas não deixo de pensar e de criar, apenas é correria, pressa, falta de disciplina, achando sarna pra coçar e curar, relacionamentos a cuidar, entre outras coisas. Percebo que em muitas coisas eu deveria me focar, coisas úteis e que influenciariam diretamente pessoas próximas e até melhorariam a minha vida, mas quem disse que eu sou prático; quando me tornei abstrato? Vejo também que ando bastante racional - meu ímpeto se perdeu? Há um pouco de explicação para isso, mas, como sobre outros assuntos, é melhor ficar quieto para não criar problemas e discussões. Ser conivente não é mentir, mas não deixa de ser covardia; é tanta complexidade e vida de curto, médio e longo prazo a preservar, que adiamos as ações para um 30 de fevereiro qualquer. Às vezes quero chutar o balde, mas como eu disse, ando frio, atitudes passionais não andam me acompanhando; desculpas adiantadas pelo meu silêncio e desculpas atrasadas pela minha falta de carinho e atenção. Maldita hora de tudo ao mesmo tempo agora, imaginem se eu tivesse responsabilidades e contas a prestar, iria surtar, não nasci para ser líder, sou indolente em demasia para isso, não chego a ser o pacato cidadão, mas sinto-me em momentos de resignação, aceito a mediocridade, sei, é ridículo. Quem sabe um dia renove minha inspiração por megalomanias? Enquanto isso, vou plantando, em doses homeopáticas; não deixa de ser uma prática, ainda que deslocada do ideal, ou ao menos, da grandiosidade. Enfim, só retórica.

15 de março de 2010

Sim, duas insânias

Purificar a arte

A tradução de informática:
Da informação matemática.
Limitação programática:
A programação automática

Com sua ideia de corporificar,
Tentava ela no balé verificar:
Poderia pela cor purificar,
Para então, só no chalé, ver e ficar?

Pressiona, aperta o play ou o start.
Resolve e vê a vida como arte,
Através da morte da forma,
Que deforma, bem como, informa

Reuniram-se em torno do morto
Lá, no entorno do aeroporto
Uns defuntos vivos normais,
Que cairão, cada um em seu cais

Afinal, finaliza e analisa, enfim
A fim de sinalizar este final
Está lá a tala, afim de uma sina tal
Qual as das tuas talhas finas; é o fim


Indo e vindo

Sem hino ia indo o índio
E o lindo vinha vindo com vinho
No linho o limbo do limo foi lido,
É tido como tipo cipó, sem corpo

O copo de coco era oco, eco!
Com seu eco um pouco rouco ou mouco
Num muco mudo, eu mudo o medo
É o fedor do feto, perto do teto.

A vespa é vesca? Ou é mania?
De insânia, de vesânia?

10 de março de 2010

Fardo

Trabalho, jogos, TV e festas; vícios em potencial
Incapacidade em refletir e em dar sentido existencial

A inércia, ubíqua lei, a mais forte do universo
Irredutível, imortal, implacável, perversa
Não se consegue deter essa ave de rapina
A sair do repouso, só com a ajuda divina
Culpa ou graça dos deuses, dizemos, sem pausa
Pesam-nos nossas formulações e explicações
Criam-se respostas, ora, pra todo efeito há uma causa
Transfere-se, herda-se - retornos eternos, tradições
Ciclos, neurose, e mais pressa! Não pare a mania...
(Como se fosse possível) A fome não se adia

Impossível viver parado, descanso é quimera
Pessimismo de um perfeccionista, bem pudera
Hipóteses suicida, sociopata ou homicida
Nada mais do que decepção, orgulho e frustração
Convenientes bajulação e pertencimento
Não há na criação em um suposto isolamento

É preciso de quê? Necessita-se de quê?
Diversão e prazer - panaceia hedonista
União no poder - ilusão comunista
A razão com grana - vãos capitalistas
Comunhão na grama - vesano naturalista

Tudo como perspectiva e decisão política
Servis à potência, intra ou interrelacionada
Sentir-se superior - uma visão mística
As contradições não podem ser evitadas
Dualidade em tudo; emerge, de novo, a escolha
Se você julga como melhor à sua vida, acolha
Só o cético recusa esses ardis, se julga sábio
Inócuo, cada decisão corresponde exclusão
Refuta a felicidade sem a esperança fácil

É difícil viver, é perigoso, já se dizia,
É sofrer. O fardo de nossa polimeria


P.S.: A caveira ri, enquanto a semente não cabe em si; o guarda guarda aqui dentro do lado de fora; saia de mim, abandonado pelo abandono, pois não vou me adaptar, mas o pulso ainda pulsa. (Pequena homenagem a Arnaldo A.)