30 de março de 2010

Ideias Curtas

Com as mudanças visíveis e ostensivas do mundo atual, talvez as coisas mais familiares a nossos costumes sejam as nuvens e as estrelas no céu (que, como sabemos, são mais mutáveis que comportamentos humanos). Os objetos emanados do homem se tornaram tão metamorfoseados que só a intuição e a mania de organização da mente consegue identificar padrões, apenas para não enlouquecer e se situar num local qualquer. Não é questão de julgamento moral e não dá para pedir para parar o trem para poder descer, a velocidade – globalização e idade da informação – gera depressão e stress, como não ser atingido por uma (psico)patologia qualquer e tomar sua tarja preta como desencargo de consciência?
Quem sabe se admitirmos a contemporaneidade e não se cobrando tanto, um dilema para a exacerbada individualidade e o narcisismo pós-modernos, pois, apesar da concorrência atingir a todos, a felicidade permanece como teleológica, exceto se assumirmos que o niilismo negativo triunfou. Ou ainda, que alguém seja superficial a ponto de se julgar pleno com o mundo hegemônico da aparência e seu império de maquiagem, botox e silicone. Muita cobrança oprime, deve-se encontrar, ou mesmo criar, uma balança entre produtividade e satisfação. Frugalidade? Talvez os epicuristas e Thoreau estivessem certos, no mínimo, em parte.
Ok, tudo muda, indícios que nos lembrar disso a todo hora: o corpo, a informática, a virtualidade, a energia, os resets, os prédios implodidos e erguidos. Todos transformados, conforme sentença de Laplace.
Adaptar-se e aceitar a efemeridade do espaço, o fluxo das águas e o decaimento radioativo. Um paradoxo, saber que a superficialidade é ubíqua e ao mesmo tempo criticar uma vida que é areia na praia, escorrendo pelos dedos, se perdendo a cada ressaca. A tradição se foi, a relutância é ilusão e nada mais que teimosia. A memória tende a se tornar apenas uma parte da cultura, numa visão história, que a cada geração se faz menos nostálgica, seguindo a tendência de nosso ocidente. Considero uma visão otimista, em que a natureza e o homem se sustentam, paralelamente com o crescimento exponencial da tecnologia.

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Enquanto juvenis afirmam suas individualidades e compensam suas inseguranças através de atos hostis e grosseiros, no espírito de rebanho, por desejarem se enquadrar em um imperativo simples, mesquinho e excludente, como se só por meio da violência fosse possível ser homem, em seu espectro de virilidade e autoridade; eu contraponho essa mesma insegurança, a esse mesma necessidade de expor minhas idiossincrasias a quem se interessar – ideias, opiniões e artes; por mais que eu negue, algum exame é necessário, seja por elogios ou por críticas, afundo na areia movediça do relacionamento sem alguma atenção.
É inegável o sinal de interdependência, mas também de egoísmo; de liberdade, porém vaidade; peculiaridade, todavia, como mais um sujeito do contemporâneo. De fato, não existem convicções, o que há são defesas de e em fases da vida, cada qual em sua retórica, repleta de falhas e lacunas pouco eloquentes. É possível, então, eu continuar a defender que o homem é essencialmente político, mas não social? Querer ser diferente e teimoso, e posteriormente ver a realidade mais diáfana, ou o oposto, mais espessa; experiência que nos ensina a relatividade de qualquer prepotente e precipitada verdade. Pois é, tudo é poeira no vento.

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