A Moça e o Corvo
Pousou
o corvo no umbral em paz
Ela
fitou a criatura negra
e
ignorou sua voz macabra
a
repetir “nunca mais”.
“Aqui
não, seu bicho feio”
fechou
a janela e voltou-se ao espelho,
lhe
era urgente a maquiagem
contra
olheiras, sardas, rugas.
O
pássaro de mau agouro
paciente
aguardava a sua hora,
observando
a infausta vaidosa
se
distrair pra ser levada embora.
Há
remédios contra toda
desventura
ou imperfeição.
Nem
desconfia a moça fútil
que
a morte é sem apelação.
Adentrou
ao quarto róseo
um
vendaval e uns vaga-lumes,
seguidos
do lustroso ser negrume.
Não
se suspeitava desespero.
Direto
na veia do pescoço,
tão
delgado e perfumado,
perfurou
e insuflou veneno.
Após,
o sangue escorreu em seu dorso.
Esboçou
um sorriso o corvo cínico
com
bico exultante e rubro
gotejando
o suco vívido.
Crocitava
“sempre mais”
A porra de um soneto
Escrever
os versos todos certinhos
Por
muito tempo foi esse o caminho
Mas
proibido pra mim, algo preto
E
agora esboço a porra de um soneto.
Conhece
a chata contagem da métrica
Qualquer
e todo poeta, aspirante
Reduzido
às velhas linguagens fétidas
Não
faz arriscar nem ir adiante.
É
poesia de museu, tardia
Ao
incauto e apaixonado irradia
Algum
tipo de lírica blasée
Porém,
sente logo no bucho azia
O
experimentado, ali em companhia
De
quem tem loucuras para escrever.
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