20 de maio de 2009

O belo e o amor

"Se o belo tem como base o sonho de ser, o sublime tem por base uma embriaguês do ser." (Nietzsche)
Para criar é necessário também morrer...

Minha metafísica do amor

O que posso dizer do amor?
Sei que dicotomia não vou sobrepor
Às famigeradas Razão e Emoção

Quero ser transformado
Sem deixar de ser fiel
Não usar máscaras, não usar painel

Pela primazia de meu instinto
Se o racional interveio
Que faça ser bonito
O que sempre achei feio

Que o Eu não apareça mais
Enquanto o Nós existir
Que o Yin Yang seja capaz
Não separar o que unir

Duas almas se tornam uma
E não é preciso tolerância
Cada ação visará somente
Ser Uno, com perseverança


Versos de Amor
(Augusto dos Anjos)

Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não estar pegando!
E a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias - o inventor da flauta -
Vou inventar também outro instrumento!
Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!
Para que, enfim, chegando à última calma
podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d'alma

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