17 de maio de 2009

Pandora e Prometeu

Para mim, os mitos (co)relacionacioados de Pandora e Prometeu são os mais simbólicos à humanidade. Vejamos, senão, Prometeu, o grande desafiador de Zeus, faz o que acredita ser o correto, dá a tecnologia (fogo) ao homem, retirada de seu local original (a morada dos deuses) para que os homens suportem melhor a existência, para que sofram menos. Ah!, mas os gregos não sabiam o que era viver sem sofrer, para que isso? Apenas para passar pela vida, sem realizações, superações, tragédias? Não há graça, a não ser que se busque o desconhecido, que os riscos inerentes à vida sejam aceitos. Isso é irônico vindo do titã que premeditava tudo, que conhecia o futuro antes deste acontecer e, mesmo assim, aceitava o determinismo e deixava o homem e os deuses cumprirem suas jornadas então imprevisíveis.

Pandora simboliza a punição do homem em decorrência da petulância de Prometeu. Ora, está aí o espírito ariano, da queda do homem, a tendência para o trágico e para o profundo, aceitar a vida de forma melancólica, mas viril. Por mais que o fogo seja valoroso para a cultura, ele deveria ter sido conquistado e não expiado, ainda por cima de seres superiores! Mas é um pecado originado da ousadia e não de uma resignação judaico-cristã. Ele aprende que o mundo é composto de inúmeras coisas, mas ele quer ser egoísta e uno, ou seja, deseja uma ruptura com o mundo, quer ser seu próprio mundo, por isso deverá sofrer.

Mas a ideia aqui é que o próprio homem é a causa de seu sofrimento e para apaziguá-lo é preciso tornar a encontrar a unidade junto com o seu oposto. Assim, vem uma punição externa, tanto Prometeu é punido com um suposto sofrimento eterno - ser queimado pelo sol e ter o fígado devorado durante o dia; ter a pele cicatrizada pelo frio da noite e pela regeneração do fígado; em um ciclo infinito - também o homem é punido com a figura da mulher. Esse ser tão oposto ao homem, mas que aprendendo a conviver e amar as diferenças intrínsecas do feminino, o homem encontra a sua redenção e pode então deixar de sofrer, temporariamente. Sem a figura feminina, a vida não seria viável, aí sim seria eterno sofrimento, só com a conciliação desses opostos é que se encontra alguma segurança. É isso o que pode a tragédia de Ésquilo "Prometeu Acorrentado" nos transmitir ao afirmar: "Tudo o que existe é justo e injusto e, nos dois casos, igualmente justificável". Afinal, isso é o mundo, a realidade humana.

Voltando a Pandora e sua caixa, ela simboliza tanto a curiosidade humana (assim como também o conhecimento de Prometeu a simboliza), quanto a esperança de que tudo ainda está por vir. O homem não consegue ser totalmente frio e desisitr das coisas se não tiver ciência de que não há mais chance, ele é teimoso e desejará cumprir seus desígnos e ter prazer. Dizem que a liberação dos males guardados na caixa significou o fim dos áureos tempos humanos e que agora tudo seria sofrimento, à exceção da bondosa esperança remanescente que acalmaria o espírito humano. Imaginem se até a esperança fosse embora, não haveria mais mistério na vida, com toda a previsibilidade, ao homem restaria apenas seguir um determinismo frio, sem qualquer livre-arbítrio. Entretanto, sem esses sofrimentos, o homem jamais poderia se transformar, encarar a dinâmica da vida, buscar o progresso inerente à sua natureza. Sabemos que morreremos, que seria melhor não nascer, mas é essa leda esperança que nos faz continuar batalhando. Podemos interpretar esse mito como o fim da zona de conforto e do paraíso, e o início da dura realidade, mas da vida leve e amarga, que nos obriga a aceitar seus infortúnios e adquirir um dia a sabedoria do que é viver plenamente, concebendo a vida como uma alegre tragédia. Afinal, em tudo a que nos deparamos está o paradoxal e o contraditório, aceitar a existência desta forma é o que esses mitos simbolizam.

Então, num primeiro momento pensamos que é injusto Prometeu ser punido por ter originado o bem ao homem e que Pandora é a causadora de nossos males. Todavia, ambos simbolizam o homem em sua jornada pela vida que motiva o esforço, a audácia, a atividade, e não a redesignação e uma esperança passiva de que um dia alguma força externa melhorará a nossa vida. Não! Isso tudo é existencialismo, o homem é o responsável pelo seu destino, ele que modelará a sua vida, que será senhor ou escravo, dependendo apenas de suas concepções e afirmações perante os desafios encontrados no caminho.

2 comentários:

  1. Que papo cabeça... INFELIZMENTE não tenho esta
    intelectualidadee potencial para escrever textos neste nível.
    Seguidores, perdidos entre os espíritos filosóficos, artísticos e científicos existem.
    A inquietude faz parte do nosso crescimento e amadurecimento... é um prazer buscar na filosofia, na leitura de grandes personagens históricos informações, dá um bom debate.
    Parabéns pelo blog e tenha certeza que o espaço será visitado por "malucos" e afins.

    Bjka da Veroca

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  2. Não sabia desse seu dom, o de escrever, e muito bem diga-se passagem.

    Será mesmo que as pessoas são senhoras de seu destino? Talvez existam fatores determinates que façam com que elas opinem por uma coisa e não outra.

    Mas também não estou (totalemente) convecida disso.


    Fernanda Quevedo

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