Salvemo-nos, é Natal...
Um gato defecava e lambia seus pelos
Alheio aos suburbanos apelos
E um panfleto de mercado voava
Anunciando a garoa típica de verão
Era Natal, mas como é que não nevava?
Nos trópicos o frescor pode ser físico
Mas geralmente se faz metafísico
Nas fantasias de quem vive de migalhas
Há cigarros, álcool e mais entorpecentes:
As tentações de jovens vazios e carentes
Ou é isso ou é salvar-se como crente
Iludem-se: a salvação não se faz de repente
Papai Noel é a salvação do mercado
E Jesus a de nossos supostos pecados
Ambos, ícones duma falência psíquica;
Não influencia, não denuncia, não imagina,
Ao contrário da mente criativa e invicta
Enquanto regurgito esta complacência
Minha caneta rabisca um Saci-Pererê
Uma alegoria que representa você
Superatur aude!
O passado foi superado e não ficou para trás,
Foi capaz de inflar o orgulho de quem me tornei
Novos olhos captam antigos olhares, previsíveis,
De quem me ajudava a levantar, por isso adorei
Alguns longe mudam, já outros perto permanecem.
Sentimentos ficam e vão, e de nada se esquece.
Bebida aumenta angústia, e cigarro, ansiedade.
Não é fácil se livrar de tudo o que pesa na idade
É preciso experimentar e encontrar seu par
Um apoio preciso às carências inevitáveis
Juntos acham a sabedoria ao dialogar,
Entre outras boas coisas outrora inimagináveis
A autoanálise, a cultura, os julgamentos,
São chatos, teóricos e árduos aos apressados,
Que sempre se atrasam ao derradeiro momento
Da tragédia pessoal de adoecer em paz
Cânceres contraídos pelo medo contumaz
Relembram aquelas mal cicatrizadas feridas,
Dos rancores que remoemos por tola vaidade.
Sem fraquezas a sublimação seria perdida
Com toda a franqueza: coragem passa p’la humildade
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