Quando você percebe que não é mais tão jovem, tão bonito, tão superior, não é mais tão protegido, querido ou desejado? A névoa, por fim, adelgaçou-se. Que o auge passou; triste decadência do apogeu. Ápice esse inferior àquele idealizado...
Quando você percebe que não tem mais tantos amigos, tantos parentes, quiçá colegas ou conhecidos, não tem mais amantes, mestres ou aprendizes?
Quando você percebe que não tem mais tanto a aprender, a ensinar, não há muito mais motivos a lutar ou a desejar, tampouco a fazer, a se esforçar, não mais sonhar ou debater.
Quando você percebe que não terá a mulher dos seus sonhos, jamais – ou a capa da revista, sequer a coelhinha -, o emprego, a casa, nem o cachorro ou a pia, não comprará o tênis ou o celular almejado, na época correta?
Quando você percebe que não é possível abraçar o mundo, não importa o tamanho dos seus braços? Que carregar o peso nas costas só lhe rendeu escoliose. A alegria não consiste em querer mais do que pode-se ter, mas em não querer mais o que não se pode ter.
Quando você percebe que a tosquice não atrai mais, que somente o conforto é tolerável?
Quando você percebe que não é talentoso como costumavam dizer, que não há oportunidades para explorar seu potencial, ou se existiu, elas já passaram? Quando você percebe que talvez nunca teve um dom, mas haviam lhe jurado que todos têm um? Quando você percebe que o que você fez e julgou genial, só importou a você e a mais ninguém, pois a fama jamais virá, tampouco a glória? Tudo é fracasso.
Quando você percebe que o certo agora é errado, e o mal de repente é bom?
Quando você percebe que a vida é apenas isso, ou até que seja mais que o que você pensava? Quando você percebe que não há mais volta, ao mesmo tempo em que parece não haver um futuro promissor? Que sonhar sem realizar é pior que realizar sem sonhar.
Quando você percebe que não vibra como costumava vibrar, ou como pensasse que iria vibrar por alguma vitória ou conquista? Quando você percebe que o que você sempre valorizava não é tão valioso assim e o que você nunca deu valor, talvez seja o “bem” mais precioso? Quando você percebe que todos seguiram as suas vidas, inclusive você!, mas a grama deles parece-lhe mais verde? Que nada lhe satisfaz como quando criança ou em momentos de euforia.
Quando você percebe que o tempo antes parecia não passar, depois parecia não acabar e agora parece voar? Quando você percebe que você se atola, jura que vai sair do lamaçal em breve, mas acaba indelevelmente caindo em outra areia movediça?
Quando você parou para pensar que você não pára para pensar? Então percebe que isso é ser parado, e segue. Quando você notou que suas notas não lhe dizem nada, o que dizem são as suas anotações e as listas? Listadas por outros, claro, que lhe listram, porém você se lixa. Mas nunca se acha o lixo, exceto em momentos que você não se lixa.
Quando você percebeu que simplicidade e complexidade são estados de espírito?
E qual a sua reação perante tudo isso? Foge, fica, luta, esquece, tolera, encara de frente, de lado, ou de costas? Pensa em assassinar, ou em suicídio? Sabe que é capaz de ser homicida, mas não o é, por puro medo da punição? E o suicídio – punição a quem?
Qual o valor que, enfim, dá à Vida? A sua vida, a dos outros, da sociedade, do planeta, do espaço e da prática – ou teórica.
Se você já passou por todas essas divagações, dúvidas, indagações e duas vidas, ou é um velho que já viveu muito ou é um jovem já velho, que não quer viver muito. A esperança acabou? Ou sua mente é que já era? Fazer sem pensar ou pensar sem fazer – só isso é possível.
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