31 de julho de 2009

(Sem) Noção de contemporaneidade

Alguns gostam do passado (eu?), que viveu ou não, desde que julguem como bons tempos e lembranças de épocas outrora gloriosas (como se fosse gostar de ter vivido em tal tempo). Sentem nostalgia, têm tendência pessimista, o passado é mais facilmente controlável que o futuro, por isso se sentem seguros com suas maleáveis e incredíveis memórias. Escolhem o que foi bom e dispensam o que foi ruim. O que passou e o que passará podem ter a mesma qualidade e gerar medo (trauma passado e angústia futura). Porém, a teimosia do nostálgico, ou do esperançoso otimista, formará a personalidade nesta questão.

Quem consegue gozar mais o presente, aproveitar mais o momento e a oportunidade – únicos – conscientes ou não disso? Os otimistas, ao que tudo indica? Pois não ficam comparando ao que antes foi bom e se irresponsabilizam por corriqueiras falhas, visto que são partes de qualquer trajetória?

É, talvez eu devesse ser menos idealista, pessimista e lógico. Muitas vezes digo que só o presente importa, mas sou um hipócrita que não consegue usufruir das benfeitorias da juventude. Um idoso em corpo de rapaz, que de qualquer maneira se arrependerá por não ter sido mais inconsequente, pois tudo se ajusta, principalmente a quem faz parte das estatísticas da elite.

O que é o contemporâneo? Quem são os contemporâneos? Apenas aqueles que se inserem, participam e fazem girar a roda das conversas populares? Em um mundo com tantos nichos, todo nicho é contemporâneo. Só quem é um tatu fora de qualquer nicho (isso é possível?) consegue escapar de ser “moderno”?

É mais fácil quando a sociedade ou grupo em que se está inserido dita o tópico, o envolvimento é maior, há sentido de pertencimento e assuntos da “pauta” para conversar. Ser tão autêntico, a ponto de pensar temas que ninguém se importa, seja assunto arcaico, batido, ou visionário e ficcional, é mais difícil e frustrante. Esse é meu caso? Negar-se a ser sociável indica falta de contemporaneidade? Leio as notícias, quase nada me atrai, mas não consigo parar de ler; leio e escuto muita coisa de 50, 100, 200, 3000 anos atrás, atrai-me muito mais, embasaram uma época e com certeza influem até hoje, apesar da quase inevitável taxação de “assunto ultrapassado”. Se quero viver do passado, como suportar o presente e o futuro?

Modismos explodem, sempre foi assim, até o esgotamento, hoje é mais intenso e móvel, como uma estrela gigante azul – faz história? Em retrospectiva, essas modas são melhor julgadas que temas mais modestos, só que mais profundos? Entretanto, é possível algo não-científico não fazer sucesso a seu tempo, nunca ter estado na voga da moda, e ainda assim ser histórico? Atualmente então, é impossível? Mesmo assim, modas são reinventadas, sob nova roupagem apenas, e também dificilmente fazem um marco.

Ou seja, a absurda transitoriedade de hoje não permite que qualquer assunto se torne parte antológica? Só os processos e métodos revolucionários, como a internet e a comunicação instantânea, que deixam seu legado tão a fundo, ou nem isso? Ou estou muito afobado também, afinal, de qualquer forma, é preciso uma boa amplitude de tempo para afirmar que algo é clássico? Desculpem-me, mas essa correria, vagabilidade e descartabilidade de quase tudo, como fast foods, me deixam perplexo.

Entretanto, o que importa nesse mundo de capitalismo reinante é o lucro, a rentabilidade; o consumismo é o maior incentivador do contemporâneo sugado pela maioria? Se está fora, é um nada; se está dentro, é mais um; somente os destaques, reduzidos, podem sonhar em ser alguém; nada é garantido, a lembrança duradoura menos que qualquer coisa.

Após várias gerações de modismos, sempre rimos da “distante” moda que nos cativou, ingenuamente, e que uma substituta teima em nos seduzir, hoje e amanhã, inefavelmente. Tudo que é mercadoria se torna fungível como o dinheiro. Tornamo-nos mais um bem de consumo (isso que não sou marxista!). Para quem reluta a ser “homem-fungível”, revolta-se, mas a máquina está forte, revoluções que emanam da sociedade não voltam mais à moda.

Há a inércia de sermos classificados por quanto compramos, valemos, gastamos, temos, investimos, enfim, somos estatísticas financeiras. Se gostamos do contemporâneo, como aparentamos, aceitamos essa contemporaneidade. E assim comprovamos que não faremos história; somos o estado da arte do descartável e do superficial, queremos isso? Conscientemente? Talvez nunca fomos tão tolos; liberdade escolhida, todavia, renunciada em nome do prazer, da moda, do bem-estar e de ser mais um passageiro, paradoxalmente, não querendo sê-lo.
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Para provar que não estou mentindo, quero indicar 3 conjuntos de 3 livros que adorei ler, e que com certeza quem gosta ou concorda com meus textos, aprovará, hei-los:

O Nascimento da Tragédia, Além do Bem e do Mal e Assim falou Zaratustra, de F. W. Nietzsche (fiquei em dúvida se deveria incluir A Gaia Ciência, de qualquer forma, se puder, leia esse também);
O Idiota, Irmãos Karamazovi e Crime Castigo, de F. Dostoievski (ainda não li Os Demônios, talvez eu o substituia pelos Irmãos);
Admirável Mundo Novo, de A. Huxley, Laranja Mecânica, de A Burgess, e 1984, de G. Orwell (livros da mesma época, sob temas semelhantes que se tornou quase uma trilogia da repressão e da manipulação).

De preferência leiam nestas sequências. \m/

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