Quanto mais se tem algo a perder, quanto mais esforço dispendemos na conquista de algo, quanto mais amamos ou valorizamos as nossas propriedades, considerando-as como nossas, únicas e insubstituíveis, quanto mais competimos no sentido de auto-afirmação, enfim, quanto mais incrustamos a noção de que a nossa vida é uma jóia a ser preservada, mais sentimos medo. Basta a sensação de perda, do perigo que está próximo, da tragédia que parece anunciada, do desastre inevitável, da segurança aparentemente impossível de ser definitiva, para enraizar na mente, conscientemente ou não, essa figura terrível que insiste em nos acompanhar – o medo, o pavor, a fobia, o temor, o terror, o pânico, o desespero, entre outros sinônimos.
O progresso científico e tecnológico parecia prometer a resolução deste “problema”, garantindo que a natureza (1) estaria sob controle, que psicólogos e comprimidos revolveriam nossas angústias e perigos internos (2) e até que os outros (3) seriam passíveis de vigília (1984?). Esses três grandes e antigos “perigos” que afligem a humanidade desde a sua existência, foram promessas de políticos, filósofos e cientistas de que o homem poderia se livrar de seus medos, uma vez que bastaria conhecimento e planejamento para evitar imprevistos “indesejáveis”. Ah, arrogância positivista! Não conseguem admitir que o acaso existe, que o homem É limitado para saber e prever tudo, que a natureza tem seus “truques”, que nós podemos ser ou não perigosos a nós mesmos, não que isso necessariamente seja ruim, que a ameaça do outro pode mudar minha vida para melhor ou para pior e que nenhum homem é totalmente racional, logo, imprevisíveis emoções podem gerar ações inimagináveis, mesmo em um ambiente controlado. Além disso, ter medo é um problema? Não é o estado de desequilíbrio que nos move e nos faz superar desafios importantes?
Câmeras, seguranças, revistas, aparelhos de última geração, satélites, sistemas computacionais de rastreamento: tudo isso, de fato, aumenta a sensação de segurança, inibe criminosos, favorece o controle da natureza, diminui a probabilidade de atentados e atrocidades. Todavia, não é um preço muito alto a ser pago pela nossa liberdade? Viver com esse monitoramento não dá a impressão de uma falsa segurança? Afinal, é quase como viver numa ilha ou num recinto hermeticamente fechado a ameaças naturais, humanas ou virais. É uma esquizofrenia da sociedade pós-moderna, ultra-desenvolvida, que para se livrar do medo do externo precisa ficar doente, só que sem admitir isso. Ela sempre julga que a causa de seu infortúnio é outrem, pois ela se precaveu de todas as formas. Há uma linha divisória de difícil acordo entre a segurança e a liberdade. Quem decide para que lado a balança vai pesar mais? Qual o sentido em sentir-se seguro e não ter liberdade? Vale mais viver como os primitivos, inteiramente livres, mas com segurança quase zero? A segurança foi a causa (ou efeito) de nossa “evolução/progresso”? Enquanto que a liberdade sempre foi sonho de idealistas?
Quanto mais imprevisível, difuso, flutuante é o perigo, mais assustador ele nos parece. É a mania de saber de nossa sociedade. Não saber é uma loucura, pois o conhecimento se tornou universal e acessível de qualquer lugar. É o Fear of the dark, a incerteza que causa dúvidas agonizantes. Estar preparado, pelo aprendizado e/ou pelo dinheiro, às ameaças é a única forma de termos conforto, quem é capaz disso – ou que deposita no estado ou em uma guarda particular – pode então viver em paz. Qual o sentido disso tudo? Ter mais, apenas para proteger sua opulência, sentindo-se infeliz da mesma forma que quando se tinha pouco? Diminui ou aumenta o medo? Não seria um círculo vicioso e um desejo absurdo de ostentação, uma vez que por dentro a pessoa está sempre insatisfeita? Na hipótese de que o medo cessasse, não seria um tédio?
Uma sociedade neurótica como a americana, que vive com medo, e talvez até pelo medo, sente mais ou menos medo que os habitantes do terceiro mundo (em desenvolvimento ou estagnado na miséria)? Creio que haja uma cultura do medo, retroalimentada pela mídia e pelo capitalismo: As pessoas sentem algum medo, o marketing aproveita essa oportunidade e vende seus produtos (games, notícias, filmes, livros, séries), o público compra e amplia tanto o seu medo quanto o daqueles quase sem medo, que volta a ser alimentado por mais produtos, com nova roupagem, tornando-se uma overdose, talvez até uma neurose na população. Dificilmente algo dá mais lucro que o medo: as compras são por impulso, a demanda se eleva repentinamente, sem possibilidade da oferta acompanhar, assim os preços são inflacionados. Não seguir o rebanho parece suicídio! Companhias de seguro e especuladores se deliciam. Que ótima ferramenta para o capitalismo!
Entretanto, é inegável que a sociedade industrializada e rica é mais segura que uma pobre, cheia de conflitos e desigualdades como a latina, árabe e africana em geral. À exceção de catástrofes naturais que são relativamente iguais em todos os lugares, criminosos são, proporcionalmente, em número muito maior e o de detentos é muito menor, o que parece incentivar um cidadão a se render ao crime. No entanto, as manchetes parecem transmitir que a violência nas sociedades é nivelada – ou até maior nos países desenvolvidos. Para mim, justifica-se na venda da notícia e na mídia sensacionalista, que se espalha, e no sentimento de perda: um rico parece ter se esforçado muito mais para conquistar seu patrimônio, além de sua vida e de suas riquezas valerem mais que as do pobre.
Assim, o medo parece que nunca morre. Se alguém está sem condições de ter segurança, se não deseja perder o que se tem ou se está à mercê do destino, motivos não faltarão para se sentir medo. A solução é aprender a conviver com ele e torná-lo um aliado do progresso. Saber diferenciar propaganda de um perigo real e imediato é útil também, um cândido feliz e despreocupado é ruim, pois esquece que há ameaças práticas. Tenhamos medo, sem ser covardes; aprendamos a conviver com ele, sem ser conivente; sejamos atuantes, com consciência de nossa limitação.
O progresso científico e tecnológico parecia prometer a resolução deste “problema”, garantindo que a natureza (1) estaria sob controle, que psicólogos e comprimidos revolveriam nossas angústias e perigos internos (2) e até que os outros (3) seriam passíveis de vigília (1984?). Esses três grandes e antigos “perigos” que afligem a humanidade desde a sua existência, foram promessas de políticos, filósofos e cientistas de que o homem poderia se livrar de seus medos, uma vez que bastaria conhecimento e planejamento para evitar imprevistos “indesejáveis”. Ah, arrogância positivista! Não conseguem admitir que o acaso existe, que o homem É limitado para saber e prever tudo, que a natureza tem seus “truques”, que nós podemos ser ou não perigosos a nós mesmos, não que isso necessariamente seja ruim, que a ameaça do outro pode mudar minha vida para melhor ou para pior e que nenhum homem é totalmente racional, logo, imprevisíveis emoções podem gerar ações inimagináveis, mesmo em um ambiente controlado. Além disso, ter medo é um problema? Não é o estado de desequilíbrio que nos move e nos faz superar desafios importantes?
Câmeras, seguranças, revistas, aparelhos de última geração, satélites, sistemas computacionais de rastreamento: tudo isso, de fato, aumenta a sensação de segurança, inibe criminosos, favorece o controle da natureza, diminui a probabilidade de atentados e atrocidades. Todavia, não é um preço muito alto a ser pago pela nossa liberdade? Viver com esse monitoramento não dá a impressão de uma falsa segurança? Afinal, é quase como viver numa ilha ou num recinto hermeticamente fechado a ameaças naturais, humanas ou virais. É uma esquizofrenia da sociedade pós-moderna, ultra-desenvolvida, que para se livrar do medo do externo precisa ficar doente, só que sem admitir isso. Ela sempre julga que a causa de seu infortúnio é outrem, pois ela se precaveu de todas as formas. Há uma linha divisória de difícil acordo entre a segurança e a liberdade. Quem decide para que lado a balança vai pesar mais? Qual o sentido em sentir-se seguro e não ter liberdade? Vale mais viver como os primitivos, inteiramente livres, mas com segurança quase zero? A segurança foi a causa (ou efeito) de nossa “evolução/progresso”? Enquanto que a liberdade sempre foi sonho de idealistas?
Quanto mais imprevisível, difuso, flutuante é o perigo, mais assustador ele nos parece. É a mania de saber de nossa sociedade. Não saber é uma loucura, pois o conhecimento se tornou universal e acessível de qualquer lugar. É o Fear of the dark, a incerteza que causa dúvidas agonizantes. Estar preparado, pelo aprendizado e/ou pelo dinheiro, às ameaças é a única forma de termos conforto, quem é capaz disso – ou que deposita no estado ou em uma guarda particular – pode então viver em paz. Qual o sentido disso tudo? Ter mais, apenas para proteger sua opulência, sentindo-se infeliz da mesma forma que quando se tinha pouco? Diminui ou aumenta o medo? Não seria um círculo vicioso e um desejo absurdo de ostentação, uma vez que por dentro a pessoa está sempre insatisfeita? Na hipótese de que o medo cessasse, não seria um tédio?
Uma sociedade neurótica como a americana, que vive com medo, e talvez até pelo medo, sente mais ou menos medo que os habitantes do terceiro mundo (em desenvolvimento ou estagnado na miséria)? Creio que haja uma cultura do medo, retroalimentada pela mídia e pelo capitalismo: As pessoas sentem algum medo, o marketing aproveita essa oportunidade e vende seus produtos (games, notícias, filmes, livros, séries), o público compra e amplia tanto o seu medo quanto o daqueles quase sem medo, que volta a ser alimentado por mais produtos, com nova roupagem, tornando-se uma overdose, talvez até uma neurose na população. Dificilmente algo dá mais lucro que o medo: as compras são por impulso, a demanda se eleva repentinamente, sem possibilidade da oferta acompanhar, assim os preços são inflacionados. Não seguir o rebanho parece suicídio! Companhias de seguro e especuladores se deliciam. Que ótima ferramenta para o capitalismo!
Entretanto, é inegável que a sociedade industrializada e rica é mais segura que uma pobre, cheia de conflitos e desigualdades como a latina, árabe e africana em geral. À exceção de catástrofes naturais que são relativamente iguais em todos os lugares, criminosos são, proporcionalmente, em número muito maior e o de detentos é muito menor, o que parece incentivar um cidadão a se render ao crime. No entanto, as manchetes parecem transmitir que a violência nas sociedades é nivelada – ou até maior nos países desenvolvidos. Para mim, justifica-se na venda da notícia e na mídia sensacionalista, que se espalha, e no sentimento de perda: um rico parece ter se esforçado muito mais para conquistar seu patrimônio, além de sua vida e de suas riquezas valerem mais que as do pobre.
Assim, o medo parece que nunca morre. Se alguém está sem condições de ter segurança, se não deseja perder o que se tem ou se está à mercê do destino, motivos não faltarão para se sentir medo. A solução é aprender a conviver com ele e torná-lo um aliado do progresso. Saber diferenciar propaganda de um perigo real e imediato é útil também, um cândido feliz e despreocupado é ruim, pois esquece que há ameaças práticas. Tenhamos medo, sem ser covardes; aprendamos a conviver com ele, sem ser conivente; sejamos atuantes, com consciência de nossa limitação.
P.S.: Sem dúvida, há mais o que ser dito, mas para um post está bom.
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