28 de dezembro de 2011

Em suma, posto isso, noutras palavras...

I

Transparecendo chistes, um psicólogo vê e observa, compreende e entende, então conclui sobre o analisado, podendo este ser ele mesmo. A atenção flutuante da livre-associação alheia é o melhor instrumento para uma boa análise psicológica. Quem sabe ver está em constante viagem, mesmo que só, em casa.

Esconder traumas debaixo do tapete da psique resolve o problema ou acumula frustrações que crescem como um câncer maligno? A cura pela fala, ou por outra forma expressiva, sempre ajuda, no mínimo em parte.

O inconsciente deve ser um inimigo ou um aliado? Não é o Id quem deve ser suprimido pelo Ego, a batalha deve ser travada em conjunto contra o Superego, esse repressor contumaz. É como se ao se retirar a polícia das ruas a violência diminuísse, os muros agora sendo feitos de papel manteiga, com a vigilância e a desconfiança se arrefecendo e a tranqüilidade emergindo.

Quando arrancamos ou obturamos um dente que incomodava, passamos a língua sobre ele, para sentirmos a dor de volta, essa antiga companheira que não volta mais, para alguns este sofrimento é maior que o anterior. Quem sente essa falta possuirá um desejo, que será compensado ou projetado em outro objeto, logo esse alvo é inferior e posterior à vontade, que é propulsora e dominadora do ser.

Os detentores de acrofobia, também conhecida como vertigem, costumam possuir uma perda de equilíbrio do ouvido interno. E os que são desequilibrados internamente, sem ouvir seu interior e muito menos o exterior, costumam ter medo da vida, a distância entre o chão e sua cabeça costuma ser um abismo aterrador, tudo roda e enoja. Qualquer causa desagradável dispara o gatilho do medo, até então dormente, todavia à espreita.

Todo medo é uma defesa a uma ameaça pessoal. Por que ter vergonha de não existir, de perder-se? É um mundo desértico, vazios nos habitam, é preciso um esforço radical e incondicional para viver, ainda que de passagem, e sempre trabalhando o desapego. Sejamos ousados, flexíveis e realistas, esse otimismo converterá os problemas em oportunidades.

A autopunição é uma reação à má consciência de quem não tem traços psicóticos, mas pode ser a vingança interna, refletida em gestos, por um amargor sádico de neurótico perturbado. Apesar disso, deve-se haver um tempo introspectivo para uma fossa esporádica; os atos de gastar e usufruir são os objetivos do mercado, nunca foi um padrão de comportamento.

Vamos acabar com o autoengano, essa infantilidade disfarçada de azar e/ou infelicidade: “ó vida, ó mundo”. Paremos de apontar o dedo para outras pessoas, outros objetos e outros fatos, e passemos a assumir a responsabilidade pelas decisões tomadas. Ao deixarmos a posição de vítimas, e com ela as reações agressivas, evoluímos pela via da cortesia.

O depressivo melancólico convive com a falta de algo supervalorizado, contudo, por não querer sofrer e nem deixar o hábito do sofrimento: torna-se um covarde moral. Enquanto que uma autoanálise profunda e, na medida do possível, imparcial, torna a pessoa mais íntegra e sincera. Quando deixar de haver esse ódio, ou desprezo, a si mesmo, os outros (humanos, animais, objetos) passarão a parecer agradáveis, o passado será apenas um retrato na parede da memória, e a simpatia à rotina da vida florescerá. Aquele que junta os cacos e as cinzas do passado deixa a prisão da nostalgia e se expõe apto ao futuro.

O prazer hedonista é usado como tática para fugir do contato com a crua realidade de nosso destino: o não controle sobre as coisas, inclusive sobre si próprio.

Os jovens buscam novos vínculos, suas identidades estão fragilizadas pela confusão hormonal e pela transição à vida adulta – os rituais de passagem foram quase todos obliterados e os que surgiram não cumprem bem a sua função. Qualquer tola novidade tem o potencial de encantar esses incautos que querem se agarrar a qualquer bóia que os salvarão do afogamento. A liberação da angústia via gritos e explosões (rebeldia) serve de acolhimento/proteção.

Um pai bebaço serve de espelho para a autoafirmação juvenil. Não é incomum esses jovens apresentarem condutas impulsivas e violentas, culpa de um inconsciente selvagem reprimido que aguarda por estas brechas para escapar, porém essa pessoa pensa erroneamente que se liberta, e na verdade se aprisiona mais. Os vícios alimentam uma ansiedade difusa.

O que é novo nos inquieta e violenta com a rotina e com o hábito; na fase de transição sofremos com as dores do parto, e ai daquele que pensa que não muda.
Pelas experiências pessoais e subjetivas são formados padrões perceptivos, podendo dirigir-se a: ciclos virtuosos ou viciosos; forças centrípetas ou centrífugas; expansões ou contrações. Memórias, vontade e intenções ditam o quê e como vemos o mundo à nossa frente. A projeção desses referenciais internos constrói as cenas num telão imaginário. No caso de haver envolvimento emocional os detalhes e as cores serão mais vivos, e a gravação, mais veloz.

Enxergar sob a ótica de um cavalo domado e com viseira sobre os olhos impede significações expansivas e criativas, pois não há como conhecer o que não se vê e quando não está sob condições propícias ao exercício do intelecto. E alguém pode se vangloriar de estar plenamente sob essas condições, sem pedras e sem limites à razão?
(...)

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