24 de dezembro de 2011

Liberdade... pt 3

III

A moralina se serve de controle fundamental em prol da coesão social, o que na verdade é apenas manifestação do ressentimento entre aqueles que não têm a vida que quiseram, portanto precisam aliviar seus egos recalcados com tentativas hostis de impedir o sucesso e a felicidade dos talentosos, ou ousados. Que tipo de coesão é essa? A mediocridade e a observação da cartilha como valores máximos, coagindo todo mundo em volta a aceitar e a seguir a prática dos amuados. Em outras palavras, a igualdade é mais importante do que a liberdade. Ocorre um detrimento da distinção e da ambição de quem se vê com potencial de ser grande, e não suporta o papo furado e homogêneo de velhacos nostálgicos com um passado que nunca existiu e que, mesmo tornado real, não seria adequado aos subversivos.

É muito comum haver evangélicos que possuem um passado “manchado” por atos nem um pouco honrosos pregarem contra os ‘delinqüentes’, os ‘libertinos’, os ‘devassos’ e os ‘ímpios’. A explicação mais óbvia é que eles se arrependeram de tamanha bobagem que fizeram em suas vidas e buscam redenção no outro extremo, com a perda da liberdade (a prisão voluntária e condicional dos tempos atuais). Como diz a canção: “Isso pra mim é aposentadoria de malandro, foi sangue ruim a vida inteira e depois de velho quer virar santo”. Querem refazer a reputação, tão maculada, a fim de se tornarem puros, como se o objetivo da vida fosse a retidão...

Ora, se pensam que de posse da liberdade as pessoas em geral só fazem besteira, em especial as que não foram salvas e não servem ao ‘Senhor’, a culpa é de quem precisa de um bode expiatório para aliviar a má consciência. Se não compreenderam o sentido da vida e o valor da existência, porque perturbar aqueles que estão quietos e satisfeitos com o caminho ‘escuso’ pelo qual optaram? Parece até que as coisas são resolvidas na marra e no grito, e se não é assim, falta algo – longe de mim esse ímpeto traumático! Nem todos precisam de cabresto para “entrar na linha”, o intelecto já é o suficiente para diferenciar o certo e o errado. Deixem os grilhões de rituais e costumes religiosos a quem sente necessidade de rotinas letárgicas. O servilismo, embora egoísta, origina sentimentos de ódio ao ‘estrangeiro’, ou ‘bárbaro’. Ideais diferentes passariam a originar não só opositores ou diversidade cultural, mas inimigos de fato.

Personalidades diferentes demandam lideranças diferentes, mas os chefes, os líderes, os patrões, os senhores, conseguem ser versáteis? Há os mandões, os carismáticos, os democráticos, os liberais e os burocráticos. Cada um, em seu estilo, tem preferência por liderados que combinem mais com seu perfil, e vice-versa. A situação se foca, então, em saber a dosagem correta para uma relação mais aprazível, o que nem sempre é possível; paciência e aprendizado que só advém da prática. Errando e aprendendo progredimos, infelizmente não são todos que se mostram dispostos, humildes e maduros bastante para reconhecer esse princípio social para a boa convivência. Quando são envolvidas duas ou mais pessoas, a interdependência, invariavelmente, existirá. Todavia, algum grau de autonomia, podendo ser em grande percentual, também haverá. Todos querem algum poder, o mundo não é dividido entre ‘senhores e escravos’, mas entre quem manda mais e quem obedece mais, e todos transitam entre as duas estradas. A preponderância numa pessoa de o orgulho e a vaidade, a imposição e a submissão, a prepotência e a modéstia, entre outros sentimentos, poderá definir se esse alguém permanecerá mais confortável dando ou recebendo ordens.

Aqueles que se julgam bem-sucedidos cobram os mais novos e os que vagueiam para terem um objetivo em suas vidas miseráveis. E mais, não os permitem sair do “caminho correto”, nunca, sob pena de ouvirem sermão sobre boas maneiras, solidariedade e comprometimento. Como se a vida que eles tiveram fosse a almejada por seus aconselhados. Então, descobrimos que há todo tipo de pessoa; que mania que os homens têm, e principalmente as mulheres, de cutucar e cobrar os outros por atitudes idênticas. Cada um deveria se autogovernar e se preocupar quando o direito dos outros foi violado. O modo de ver o mundo é sempre diferente, até gêmeos univitelinos e criados juntos crescem de forma diversa, imaginem aqueles sob rotinas e costumes incompatíveis.

Penso que o melhor conselho que se pode dar é: “seja feliz, e se precisar de ajuda e de uma assessoria, estarei aqui para facilitar o alcance dessa teleologia universal”. As cobranças deveriam se resumir a questionamentos sobre a má consciência de comportamentos constantes e que enfraquecem e rebaixam o indivíduo ou que nunca elevam um terceiro. Pois bem, os limites, às vezes, são conhecidos após muito sofrimento, se a educação não bastou para tornar essa pessoa esperta, deixe estar, os percalços da vida complementará sua formação ética. Apenas quando a crise se instalar e só um fiapo de esperança restar é que o desespero tomará conta de amigos e familiares, e esse decadente terá provado que não mereceu a liberdade que lhe foi imposta, servindo, agora voluntariamente, a chefes implacáveis na missão de reeducá-lo à liberdade. E se após tudo isso ele se mostrar incorrigível, no final a visão da morte lhe trará amargor, pois verá que sua vida fora triste e inválida, digna de pena, aconselhando os outros, se houver alguém, a não seguirem os seus passos.

(...e vem mais)

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