25 de dezembro de 2010

Internet: vingança comunista ou arauto do capitalismo?

A concepção da internet foi para interligar computadores a fim de formar uma rede gigante, com conteúdo gratuito para o maior número possível de pessoas, que colaborariam oportunamente, gerando um ciclo virtuoso de conhecimento. O que é caro é o hardware, ou seja, desktop, laptop, roteador, etc, e no momento a assinatura do provedor e da linha telefônica, mas há projetos (em alguns locais já efetivados) de tornar a banda larga acessível a todos gratuitamente. Na rede, qualquer um pode atuar como escritor, músico, programador, crítico, entre outras formas colaborativas, sem gastar um tostão além de eletricidade, bem como sem receber. É ou não é algo comunista? Conforme Adorno previu, com a cibercultura ocorre a transformação da apropriação técnica do social para a apropriação social da técnica, grande exemplo disso é o Linux e o Wikipedia.
Todavia, ao mesmo tempo em que é ruim para o capitalismo após maciços investimentos em algo que se tornou gratuito, é bom, pois os produtos e serviços decorrentes de tanta comunicação vendem mais. O dinheiro continua fluindo e o mercado continua ajustando as coisas. Tenho que admitir que a contemporaneidade tende a esvaziar existencialmente as pessoas, levando-as a preencher-se externamente, via consumo por novidades, fazendo-as se sentir culpadas pelo seu fracasso e/ou sua solidão. Como é preciso de tempo, de paciência e de vagarosidade para se conhecer, é cada vez mais comum a opção pelo comportamento de rebanho ou manada.
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A televisão sempre foi uma mídia dedicada às massas, as reclamações de que seu conteúdo e sua linguagem são pobres não procede, pois o público-alvo não são pessoas esclarecidas ou que desejam conhecimento, o objetivo é o lazer, a distração. Para encarecer seus espaços publicitários as emissoras devem “aumentar seu ibope”, porém com a perda de sua audiência, principalmente para a internet, a solução encontrada foi dialogar com os telespectadores, especialmente por meio do microblog Twitter, assim o público-alvo seria fiel e prontamente atendido. Isso fornece dados para atrair empresas que se alinham ao comportamento dos telespectadores, e a recíproca é verdadeira.
É o modus operandi do capital, não há interesse em arte, mas em lucratividade. Assim como pressiona esteticamente e socialmente por um padrão comportamental que homogeneíza ou rotula as pessoas – a famigerada alienação que os comunistas tanto alardearam –, dá chances a cada um, a partir de sua liberdade sempre restrita, encontrar novos meios de se expressar e de se entender. Eu entendo ser bobagem dizer que as pessoas estão condenadas a terem uma carreira, afinal não vivemos na Índia, porém entendo que a pedagogia dominante é a de massa, que incentiva o cumprimento de ordens. Em caso de frustrações e neuroses há sempre religiões, místicos, amuletos e palestrantes para curar, em troca de outra ajuda – financeira.
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Os EUA reclamam da censura do governo chinês, mas estão para aprovar uma lei que dá ao presidente Obama plenos poderes para desligar a internet por 90 dias, sob o argumento de resguardar a segurança nacional. É a cultura do medo e da arrogância que prevalece por lá. Precisam demonstrar que sua burocracia manda em tudo. São os maiores hipócritas do planeta, afirmam valorizar a liberdade, mas oprimem e condenam quem age da mesma forma que eles. Afinal, são jankes (termo holandês referente a antigos piratas), fizeram contrabando de bens da indústria européia e ergueram um império, agora condenam a pirataria chinesa, mexicana, paraguaia, brasileira e as redes peer-to-peer. Hollywood é ícone disso (cineastas fugidios para o oeste para não pagar licenças), assim como é ícone da atual sociedade burguesa e imagética.
Com o fim do inimigo soviético, o inimigo passa a ser a democracia, o poder que o povo tem de contestar e se mobilizar, a solução foi tornar a massa idiota, calada e resignada, e forjar o terrorismo como grande vilão, pois aumenta o sentimento de patriotismo, via medo. Enquanto isso, a CIA e os agentes secretos se tornam heróis, mesmo oprimindo seu próprio povo. Bem como a mídia se tornou extensão dessa política manipuladora e aterrorizante.
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A lei brasileira n. 9610/98 versa sobre os direitos autorais, ela é extensa e conservadora. Na prática impede qualquer divulgação pública e alteração em obras artísticas (mas o que é arte hoje, tudo?). Ou seja, um DJ que faz remix de uma música para uma festinha, uma foto postada num blog, um quadro rabiscado no paint e publicado no orkut, trecho de um filme num trabalho de faculdade, entre outros atos, podem ser tipificados como crimes. Pois é, se processasse todo mundo por esse compartilhamento haveria mais processo que formiga no Brasil. As marcas se tornaram parte do ambiente, como uma árvore ou uma casa, não há como controlar seu manuseio por milhões ou bilhões de pessoas.
As barreiras da lei sobre arte ou patentes impedem aprimoramentos ou continuidade. É como dizer que todo artista deve começar seu trabalho do quadro, página ou partitura em branco, porém as influências existem, ainda mais com a predominância da técnica. “Não existe propriedade privada no campo da cultura, já que esta se constitui por intercruzamentos e mútuas influências.” (André Lemos)
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Uma obra ser famosa e “bricolada” deveria ser motivo de orgulho ao autor da idéia original, pois o objetivo da arte é sensibilizar, motivar e influenciar. A chamada web 2.0 promove essa colaboração, a desmercantilização do conteúdo, a fim de formar uma inteligência coletiva. O próprio conteúdo programático educacional deveria mudar para uma formação vinculada ao uso das novas mídias, com políticas públicas que se adaptem a realidades e demandas totalmente diferentes das de 50 anos atrás. É a contracultura que mudou as regras do mercado e abriu canais tanto de consumo quanto de pensamento.
É claro que muitos artistas não vão gostar de tanta edição em sua obra, porém a “versão original” fica assegurada. Dificilmente mudará a maior valorização de uma obra original e autêntica em relação a uma inteiramente remexida. Então, que deixem as pessoas brincarem de artista. É fato que a geração denominada Y se serve da tecnologia de forma crítica, erótica, violenta, hedonista e comunitária ou até tribal. Ética é uma área espinhosa.
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Nada substitui a experiência, o contato tátil e visual, a presença do artista ou a tecnologia inacessível em casa. O show, a performance e o cinema em 3D são caros, mas impossíveis de serem pirateados. A arte libera um conjunto de sensações e idéias no espectador. O acesso gratuito à cultura estimula por isso, dando apenas um aperitivo de toda a peça. Se eu fiz download de graça de uma música e gostei da banda/músico, fico muito mais motivado de assisti-lo do que se eu não conhecesse sua obra. Basta ver o que aconteceu com o filme Tropa de Elite, o primeiro foi visto em grande parte pela versão pirata, como o público gostou e ansiava por sua seqüência, esta foi o filme nacional mais visto nos cinemas da história.
Com os livros é mais non sense ainda restringir sua divulgação gratuita, pois é muito ruim ler várias páginas pelo monitor, muitas pessoas acabam imprimindo ou lêem um pouco e compram o livro. Por outro lado, eu acho absurdo tirar cópia inteira de um livro, às vezes fica mais caro do que comprar na livraria, além de não dar um centavo à editora e ao autor. E leitura só é estimulada com a prática, ao descobrir o prazer íntimo de entender e formular idéias.
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Fora do mainstream, a produção dos jovens se espalha pela rede, são pessoas que querem mudar o mundo feito por gerações passadas, como sempre aconteceu. Conservadorismo mais do que nunca está fadado a desaparecer. Também é verdade que as tradições permanecem: querem-se as benesses da liberalidade pós-moderna e querem-se os ritos de passagem das antigas sociedades. Qual a lógica em ainda se celebrar 15 anos, casamento ou batizado? Paradoxos de um meio mutável com pessoas nem tão mutáveis assim.
A lógica da cultura on demand é diferente do esquema industrial. A velocidade impera, lançamentos já nascem obsoletos, são modismos, é a realidade em paroxismo – o estado da arte da pós-industrialização –, porém as leis não acompanham esse ritmo. A regulação virtual deveria focar em crimes como pedofilia e tráfico de drogas. Assim como se deve debater sobre a produção técnica e cultural que deve ser estimulada e remunerada, que gera empregos e melhora a qualidade cultural, e o que deve ser liberado para interesse público, que também melhora a cultura, mas de forma quantitativa e pedagógica. Não sei a(s) resposta(s), mas esclarecimentos se fazem urgentes.
Contudo, não vejo uma solução nesse tema, no máximo pode-se respeitar o autor original, informando nome da obra e do autor (copyleft), porém o controle da manipulação de todos os trabalhos é megalomania inútil. A fronteira entre plágio e influência vai diminuindo com a saturação da arte, da técnica e da moda. Auferir lucro com a pirataria, como fazem os vendedores de CD e DVD copiados e o logo grosseiramente adulterado pelos camelôs, é sacanagem, mas as trocas por USB, bluetooth, P2P, entre outros meios, são válidas. Porém, é preciso considerar a realidade social de cada consumidor e usuário.
Como a arte se tornou algo reproduzível, que o caminho continue sendo trilhado, mas isso o capitalismo não admite, pois propriedade e lucro são pontos sagrados que não podem ser profanados. A elite se morde por não ser mais tão elite assim, vê perder suas altas margens de lucro e a influência de sua ideologia. Assim, em seus contragolpes ficam escancarados seu conservadorismo e sua violência.
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No mercado fonográfico era absurdo o poder das gravadoras e dos empresários. Não eram poucos os músicos que reclamavam de sua pequena fatia do bolo. Com a quase morte destas megacorporações, os artistas perceberam que podem ser independentes, felizes e ganhar dinheiro, mesmo sem serem rockstars. Além disso, é justo um músico fazer fortuna com seu trabalho? Para mim, é justo receber como um artista de jazz ou membro de orquestras e sinfonias, só que o glamour, os exageros é que contam para fazer sucesso na sociedade do status e da imagem. A música, a poesia e a originalidade são detalhes...
Como foi reduzindo cada vez mais o formato de distribuição da música (LP, K7, CD, MP3), ficou nítido o descaso com a qualidade, houve preferência pela praticidade. O público engoliu isso, porém quando impôs seu modo de consumo, os poderosos se sentiram ofendidos e reagiram nervosamente, tratando o público como mero apêndice de sua indústria. Fizeram restringir a cópia dos CDs, monitorando seu uso e até instalando spyware e rootkit nas máquinas dos usuários, tudo em prol do controle do mercado e da ganância de ricos mesquinhos. É assim, quem se acostuma a mandar não aceita ordens de quem vem de baixo...
Arte não é negócio, porém com a reprodutibilidade é inevitável a sua exploração comercial. Um artesão vai exigir direitos autorais do vaso, da sandália ou da cadeira que fez? Como a música, o cinema, a fotografia, entre outras artes, primam hoje mais pela técnica do que pelo conceito original, ou tradicional, de arte: “atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação”, considero justo o compartilhamento e a edição colaborativa. Cada pessoa tem o potencial de ser artista, só que os donos do mercado querem impor seus padrões para lucrar, então só o que lhes interessa se torna cultural, o que resulta na atual baixíssima qualidade musical. Se a música independente não tem muita qualidade técnica, por ser mais pobre, ao menos é mais autêntica e livre de influências comerciais. Entretanto, sei que conceituações, definição de qualidade e qual deveria ser o padrão ou referencial geram polêmicas, há discordância desse meu ponto de vista, e com argumentos consistentes.
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A partir do exposto surgem questões importantes na era da informação, que fogem deste escopo, como: se resultaram em problema social ou psicológico tanto lazer e ludicidade; se nos tornamos senhores ou escravos da eletrônica; se a superficilidade e o hiperconsumo mataram a arte, ao dividi-la e achatá-la; se impessoalidade e realidade virtual fizeram do homem uma máquina que não sente mais a intimidade, entre outras particularidades do relacionamento social; se a convergência de tecnologias exigiu dos artistas convergência de técnicas e idéias ou restringiu-os a agradar nichos de mercado; se é escapismo e covardia a preferência do contato com máquinas as invés de gente. Entre outras perguntas que o leitor deve também ter feito.
Percebo que a internet tanto pode ser uma forma comunista de contra-atacar o sistema, usando de meios ilícitos e imorais, mas talvez até justo, como pode ser uma grande arma capitalista a fim de ganhar mais dinheiro e manipular subjetivamente as pessoas para favorecer o sistema. É claro que o governo americano volta e meia dá seus chiliques com o uso anárquico da grande rede, mas isso se deve ao fato de ver seu poder contestado e até reduzido. A maneira deles se satisfazerem foi contrabalanceando por meio de mecanismos coercitivos e abusivos, fazendo-nos acreditar que privacidade é coisa moderna, que na pós-modernidade isso se tornou uma idéia infantil de comunista aloprado; com tanto GPS e equipamentos de fazer inveja a James Bond pelo mundo, deveríamos aceitar calmamente o crescente controle do quem vive no topo das pirâmides sociais. O pessimismo é grande, mas a luta, a vida e os protestos devem continuar.
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P.S.: Desta vez não quis dividir o texto, deixei grande (para padrões de blog, ainda mais este).
E desta vez indico uma leitura complementar, um texto clássico de Walter Benjamin, fique à vontade para lê-lo, ou não:
http://antivalor.vilabol.uol.com.br/textos/frankfurt/benjamin/benjamin_06.htm

Assim como publico minhas referências:
http://www.libertar.info/news/nova%20lei%20americana%20da%20a%20obama%20poderes%20sobre%20a%20internet%20semelhante%20ao%20sistema%20comunista%20chin%C3%AAs%20/
http://www.baixaki.com.br/tecnologia/2301-direitos-autorais-na-internet-e-o-comportamento-da-nova-geracao.htm
http://www.artigonal.com/internet-artigos/a-economia-da-dadiva-e-as-redes-colaborativas-novos-modelos-de-negocios-cultura-digital-e-capitalismo-cognitivo-ufrj-2010-3550627.html
http://super.abril.com.br/cotidiano/pirataria-salvar-capitalismo-447814.shtml
http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Castro.PDF

6 de dezembro de 2010

Crônica de +1 ateu

Mitologia pode ser entendida como o conjunto, ou estudo do conjunto, de mitos, geralmente se restringindo a uma determinada cultura ou povo. Os mitos seriam definidos também como invenção de estórias para entreter e transmitir valores à população, assim como os filmes, livros, games, entre outros hobbies de hoje o fazem. Pena que não se admite isso com as religiões e os livros sagrados que contam com grande número de seguidores.

É interessante como estudo antropológico, fonte de cultura e diversão. O resto é para amenizar as fraquezas e decepções da vida. Deus é obviamente invencionice humana e manipulação de massa. Assim como cada nova religião e igreja é reedição da anterior, pois ninguém cria do nada, todo ambiente influencia. Mas presumir as lendas como verdade é proclamar-se louco, em devaneios.

Para mim é perfeita a comparação com a saga do Senhor dos Anéis e, mais especificamente, do Silmarillion: um mundo inventado e fantástico, com lições práticas e moralismos (só que mais subjetivo). Todavia, eu sei que é apenas fruto da imaginação de um nerd recluso. E não preciso concordar com nada, apenas admiro sua literatura. Infelizmente, é impossível convencer os fiéis disto: que não passa de fábulas e escritos de qualidade, ou não!
Fazer o quê se a melhor desculpa de deus é não existir?

As mitologias, ou coleção de lendas, são inúmeras, vastas e riquíssimas. Cada uma expressa o ambiente, os feitos e as projeções de um povo ou nação. É claro que todos se vangloriam de serem os melhores, donos – ou filhos dos donos – do mundo. Então eu pergunto: em que as grandes religiões expressam as necessidades e realidades de um povo que matou deus e venera a tecnologia?

Eu entenderia mais facilmente o culto a Windows, Linux ou Playstation do que a Jesus, Alá ou Shiva. Não somos mais guerreiros nem pecadores, somos hedonistas competitivos e ególatras. Nossos ídolos e santos são os mestres do esporte, dos negócios e das ciências.
Já há hinos, odes, templos, lendas e afins dedicados a eles, afinal nós somos uma sociedade imagética. Entretanto, parece-me que fundar uma igreja em adoração a tal pessoa/divindade seria exagero e insanidade. Até porque temos fontes de pesquisa e capacidade de contestar as origens. Diferentemente de outros idos, quando a contestação dos reis e faraós filhos dos deuses era punida com a morte.

Fica outra pergunta: qual a diferença dos feitos dos heróis e profetas modernos daqueles de Jesus, Maomé ou Moisés? Cada um superou os desafios impostos e foi modelo de atitude. Bem, antes o povo era cego e violento, e não tinha como checar os relatos, ou se acreditavam ou agredia. E hoje?

Pois bem, não faz sentido reverenciar figuras que têm pequenas antigas lições a ensinar. Eu adoro Homero, Aristóteles e Demócrito, mas não faço preces a eles. Para mim, basta todos esses homens e símbolos servirem de história, etimologia, alguma práxis e nomes no calendário. È justa a homenagem a grandes homens e povos.

Não existe pecado nem heresia e nem profanação; a crítica, a zombaria e os erros são permissíveis em qualquer lugar. Só que há pessoas iludidas e deslumbradas com as promessas dos imperialistas de plantão e aceitam ser gado. Pois é, poderiam fazer o favor de apenas mugir...

Liberdade de expressão ainda é um luxo. Na maioria dos países e grupos locais persiste a lei hierárquica de só o chefe ter direito a dizer verdades, enquanto o restante apenas assente. O frustrante é perceber a somatória dos que não se rebelam diante de tamanha opressão. Ainda temem ser condenados por lesa-majestade.

A punição física é nosso medo primitivo, por outro lado a punição psicológica e social é nosso medo moderno. Assim, se entende a homogeneidade que não parecia reverter a entropia iniciada pelo iluminismo. Ao menos os dissidentes agora têm seu espaço e sua voz, mas são massacrados e abafados por gigantes conservadores. Os novos jesuítas continuam exterminando ritos locais, através da globalização, substituindo-os pelo monopólio fútil do lucro ad hoc. Ou seja, o processo é lento, as revoluções são microscópicas socialmente.

Pode não haver mais condenação à morte por divergência de idéias, como outrora nos Estados Papais – apesar de ser semelhantemente aplicado nos atrasados Estados Teocráticos ou dos aiatolás –, contudo, há escárnio por posturas peculiares. Eu acho tão tolo alguém ir rotineiramente à missa ou a sessões de descarrego quanto alguém se achar um jedi ou um vampiro, só que os jogadores de RPG não moralizam suas atuações. Já os crentes são famosos por sua devoção e seu fanatismo e os católicos são coniventes com uma instituição que matou cerca de 10 milhões de “infiéis” ao longo de sua triste existência. (Não opino sobre religiões orientais por ignorância.)

Falta de fé é apenas falta de vontade para acreditar em lorotas, mas podendo rir delas. Não se pode confundir com qualquer atitude ou predisposição para o “mal”, provocadas pela pretensa “falta de deus no coração”. Todos recusam os deuses de outras religiões, os ateus apenas não aceitam divindades de alguma em especial. Qual obstáculo há para atravessar esta ponte? Ah sim, o do medo. Medo de caminhar com as próprias pernas e idéias...

27 de novembro de 2010

Potenciais Músicas

Prazer na Dor

Talvez resquícios da infância
Ou quiçá o perfume da matança
Matanza...
A herança do mestre Sade
Sei que brutalmente lhe invade
Sádico...

Dizem tortura nunca mais
Só que o terror muito o atrai
Atrativos...
Os masoquistas na prisão
Òbvia auto-flagelação
Masoch...

Apanhar, bater
Esganar, sofrer
Isto vai doer
Submisso a você

Prazer na dor
Homem entregue ao estupor
Prazer na dor
Anseia tanto por calor
Maravilha-se com o horror
A agressão se torna amor

Pain! Pain! Pain! Pain!

A mentalidade doentia
Bastante algolagnia
E agonize...
Ver toda a pele costurada
E a rubra nódoa na privada
Costuras...

Tem os tiranos predadores
Em seus servos bons atores
Recíproco...
Vinganças consensuais
Tem êxtases sexuais
Excitação...

Extremo pacto, por traumas
Imaturos orgulhosos, sem almas
Os castigos, os distúrbios, a raiva!
A si, a tudo, e a todos Mata!


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Culpado?

Culpas impregnadas
Não fuja da linha, eles sempre aconselham
Meu papel social – me formar bom rapaz
Multas demasiadas
Violento ostracismo, como se eu precisasse
Me passar por um tolo no meio de escravos

Fugas importunadas
Não há escapatória, na multidão digital
O mundo privado é tormenta de outrem
Chuvas indesejadas
Publicidade viral, intensa e vazia
Pois só o consumo vai salvar a nação

O ônus foi invertido
Prevento veredicto
Devo aceitar a pressão ao redor
E resignar-me em neurose

Culpa!
Já me fazem culpado (todos são culpados)
Culpa!
Já da capo culpado (se sintam culpados)
Mídia: o superego moderno


Mulas endinheiradas
O novo copia velhos atos grosseiros,
Emergem sem fim os idiotizados
Putas domesticadas
Meninas que sentem bem cedo o mercado
Moldá-las infantis e adultas, incultas

Influência fluente, eles mentem (comprem, comprem, comprem)
E as falsas promessas nos vendem (comprem, comprem, comprem)
Único anseio: ficar muito rico
Pertences, presenças, da alma a falência


Rusgas dissimuladas
Peritos em desviar a atenção
Anestesiam e amortecem minhas críticas
Lutas procrastinadas
Querem embotar existências insanas,
Mas não sou um fantoche corporativo

|.!
P.S.: Espero q ambas as letras se tornem músicas, faltam a dedicação para compor e a propulsão da banda.

1 de novembro de 2010

Só UMzinho...

Jovem Velho

Não queria aparentar tolice
Mascarada insegurança em sisudez
Bem, alegria é para os afeminados;
A circunspecção como sensatez

Não se gosta, teme os outros,
Sempre melhores; insatisfeito.
Eis que se torna o que então temia,
Mas não findam os seus defeitos

Faltam aventuras, provas, brigas,
Comunicação e um ermo mestre
Solidão tende ao solipsismo
Ele insolidário e implacável cresce

Não se é pleno e nem engajado
Vê que ninguém lhe dá os conselhos
Sábios e tão comum aos mais antigos,
Enquanto isso, caem os cabelos

Política é votação, apenas
Em relacionamentos é tatu
Percebe seu erro, redireciona
E desmistifica seus tabus

Senso comum é para incautos
Deseja estar preeminente
Como não nasceu em berço de ouro
Pequenas vitórias são suficientes

De questionável beleza, pensa
Os fracassos e a timidez alertam
Que a vida passa e nada é de graça
Coração e estômago não mais apertam

Tédio, frieza e razão: assassinos
Dos envolvimentos febris
Derrotas destroem obsessões
Que havia em tempos juvenis

Encontra um refúgio cultural
Refugo projetivo da infância
Seu jeito de ser apreciável
Resiliente ego infla e amansa

Tentam lhe convencer: é vencedor!
Porém é um bagre e não tubarão
Não se convence; viver é sofrer,
E a ignorância é uma baita bênção

Infeliz mente inquieta, todavia,
Pior seria no sossego frugal
Imenso, pois, é o mundo, ele, poeira,
Que se esvai na ampulheta de areia,
Só que a megalomania é seu mal

28 de outubro de 2010

Screaming out the lyrics of my song

No subsolo

Cá estou, no colo deste subsolo,
Há incitação da merencória agonia,
Esse é meu aviltamento soturno
Em irresistíveis juízos noturnos,
Eis que densos pesares me diriam
Para imaginar inúmeras ciladas
A resultar no triunfo do meu nada

Mas sem o dinamismo do dínamo
Que através da convecção magnetiza
Manto aquecido e núcleo comprimido
Decaimento radioativo em brisas
De tempestade solar protetoras
E das belas auroras formadoras

Natureza que fornece os abrigos,
As cidades e seus esconderijos
O covarde beberica seu gim
Após, dorme no amoníaco mijo.
Então, que posso abrigar comigo?
Eu, que não asilo sequer a mim...

Memórias, notas, ideias, lembranças
Ah, se ao menos houvesse uma matança
Algo a lamentar, vibrar ou gritar
Mas não, é apenas o pusilânime
Isolado na teimosa hipocondria,
Sofre pela acidez que em ninguém ardia
Porém, se compraz, sua mente é unânime

Apenas há corrosão invasiva
Dilemas da invasão corrosiva

987645321

Damn 'em be

Verses
Ninguém – sabe onde isso tudo vai parar (não... não, não)
Alguém – aproveita e manipula a nação (exploração)
Sabem – os pilantras que corrompem sem perdão (sem perdão)
Invadem – minha casa e me obrigam a calar (cão... cães, cães)
Também – caçoam e prometem se vingar (sem noção)
Além – de jogar seus desafetos no lixão

Pre-chorus
Nada será igual
Ele ludibriará
Espalhará o mal
Aguarde pelo final

Missing Chorus

Verses
Por quem – os sinos novamente dobrarão? (aos irmãos)
Amém – cada seita jura poder nos salvar (circo e pão, circo e pão)
Ardem – os malditos que devoram corações (e que se vão)
Cantem – os rituais dos grandes índios kaiovás
Aquém – os bandidos que desejam nos roubar (onde estão?)
Vintém – pouco mais do que o merece o bufão

Bridge
Usam, abusam, gastam, desgastam,
Desgraçados!
Fazem, desfazem, rapam, derrapam,
Desgraçados!
Cobrem, encobrem, matam, desmatam,
Desgraçados!
Mentem, desmentem, contam descontos,
Desgraçados!

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P.S.: Na falta de uma mente criativa, posto pigarras de uma mente incompleta.

8 de outubro de 2010

(um pouco de) Raiva

Muita gente no mundo

Não se pode viver sem respirar
Sem comer, se proteger, ou se cuidar
Tudo bem fenecer quem não preservar
A muitos é um fardo ter que pensar

Seja por questão moral, ou social,
Eles só pensam na própria redoma
Indômitos ao descaso ambiental
Insustentável práxis. Surge a agonia.

Queimam, corrompem, destroem
Mais aqui, mais ali, é sem fim
Terrenos, sistemas, os planetas
Não há praga que seja ruim

Superpopulação
É aniquilação
Insana nutrição
De espécies extinção

O irresponsável é intolerável
Muitos direitos e poucos deveres
Vão os governos provendo poderes
Compõem sua massa de psicopatas

Acabou-se o paraíso na mata
Selva de pedras, uma desgraça
Quanta natureza para usurpar
Eis o esbanjamento assassino

Pré-histórica nostalgia
Lógica e a tecnologia
Em exponencial expansão
Nós, desmedidos cupins

Superpopulação
Aniquilação
Insana nutrição
De espécies extinção


eƏ€ẹẻẽếềểễệәєёзэεέǽœěęėĕē

Cores cadavéricas

Ouvia-se o coro
Em vestes de couro
Em cor de coral,
Ou de falsa coral

Corais sem sabor
Em águas hostis
Definham igual
Em pares acinzam,
Em mares sem naus
Pilotos alijam

Jogam malabares
Preparam ardis
Devem decorar
As rotas do mar

Há mortos a decompor
Nos corpos não há mais humor
Foi arrastado Heitor
O teucro perdeu seu calor

Espere um segundo
Profunda essa dor
Segue-se o imundo
Que infunda o vapor
Nas viscosas entranhas
Do furioso cadáver
Nada ele estranha,
Sua peculiaridade

Há de haver, há de rever
Perspicaz conhecimento
Deste semblante informe –
Há no angular momento
O intento de jugular
Deformação singular

Os mortos irão decompor
Nos corpos se foi todo o humor
Extasiado Heitor
O teucro já sem seu calor

22 de setembro de 2010

Envelhecimento, Vaidade e Finitude

Envelhecemos, seja na dimensão biológica ou na psicológica, após da maturação sexual, da idade reprodutiva, porém a sociedade não é tão implacável quanto a selva, os mais velhos permanecem. Benesses da civilização. Mas como tudo tem dois lados, o papel do idoso, principalmente no ocidente, é estigmatizado, pelo menor desempenho e maior dependência, e vinculamos as rugas, calvície e cabelos grisalhos a essa negatividade.

Apesar das perdas, onde ficam a sabedoria adquirida, as experiência vividas, os ensinamentos compartilhados, cadê seu valor? Inevitável sentimento de fracasso para quem sempre se preocupou apenas com a própria vaidade.

Ora, é tão bom aproveitar as regalias da terceira idade, de rir da pressa juvenil, de gastar a poupança acumulada e fazer o que quiser com o grande tempo livre. E, claro, brincar com a morte. Mas a imagem do asilo e de cadeiras de roda e muletas apavora alguns.

Na mulher o ressecamento e as rugas têm um peso mais forte, pois seu papel que é valorizado no ocidente, de provedora, fértil e atraente, torna-se nulo, logo ela também se anula. Adiante vai procurar distrações simples, contato social e atividade intelectual, ou recusar as paredes que a comprimem e agir como adolescente tardia. Sem devaneios e exageros pode-se mandar o sistema e supostos padrões opressores à merda e aproveitar a vida.

O segredo é a mente, o corpo é apenas seu instrumento. Aprender a viver é também aprender a morrer.

O tempo, em si, não produz efeitos biológicos, são os organismos que reagem à sua maneira e que envelhecem a seu ritmo. Cada órgão tem seu relógio próprio, logo não só cada pessoa pode parecer mais velha que outra da mesma idade, a mesma pessoa tem partes do corpo mais velhas que outras. É o excesso de variabilidade individual. Algumas variáveis facilitam a análise de riscos de morte, mas não influem no envelhecimento. Fumantes, por exemplo, não ficam velhos antes, simplesmente morrem mais cedo. Como renovamos nossas células constantemente, com exceção das nervosas, cardíacas e esqueléticas, cada cópia tende a não ser fiel a outra, então aumentam os riscos de falhas, logo de morte. É apenas questão estatística, uma negligência da seleção natural.

Após tantas conquistas do homem nos últimos dois séculos, parece que houve uma arrogância sem limites, tudo é possível, basta querer e investir. Mas não é bem assim. A natureza é implacável, e já começa a cobrar o preço das práticas insustentáveis de exploradores devassos. A fórmula da juventude é mais uma dessas megalomanias; narcisismo material, porém o que é corpóreo perece.

Parece-me que os jovens sofrem cada vez mais pressão social, em face do modelo de sociedade do espetáculo e por haver aglomerações, assim um indivíduo pensa que só terá expressividade em grupos. Ao mesmo tempo deve-se enquadrar em padrões de aceitação e ter um mínimo de diferença para ser visto como alguém especial, e não como um idiotizado wannabe. Além disso, no mundo tecnológico juventude é tudo, a velocidade e a pressa, ubíquas, oprimem, aparentar-se velho ou ultrapassado é falência do status. Todavia, isso está partindo de fora, ninguém pára para refletir.

Alguns pensam que só podem ser felizes com vaidade, como se fossem sinônimos e uma questão quantitativa, querem ser mais alegres e para isso tornam-se mais vaidosos, resultando em psicopatologias. Isso é fábula, a bela princesa é a bondade e a bruxa idosa é a maldade. Nega-se o envelhecimento, e com ele a morte, esse insuportável fantasma que os contemporâneos projetam apenas nos fracassados.

Qual seria o cenário mais correto: a paranóia pela beleza gera insegurança ou a insegurança pessoal leva a uma paranóia pela beleza, devido às exigências sociais? São tantos mimos aos jovens que largar a vida pela estética por uma vida dura e cheia de responsabilidades é difícil para muitos. Portanto, os diferentes caminhos do amadurecimento levam a diferentes focos, nesse caso.

Pessoas bonitas ganham melhores salários, dizem as pesquisas: causa e efeito enganoso.

Há expansão acelerada de cirurgias com fins estritamente estéticos: pode até haver aconselhamento médico, mas poucos vão se recusar a ganhar dinheiro, que fala mais alto que a ética. Riscos são sobrepujados por obsessões e recordes. É nisso que acaba se resumindo, porque falar em perfeição é só discurso, cada um vê o que a mente neurótica manda ver. Imagem é tudo para alguns, assim como ser modelo. Estilo caro e, infelizmente, causador de inveja a juvenis.

Para as mulheres, especialmente as brasileiras, cosméticos e demais cuidados com o corpo e a imagem não são artigos de luxo, mas necessidades básicas (impostas por quem?!), é sobrevivência, como beber e comer. Ter e manter seu poder de sedução é indispensável às fêmeas, seja com alto ou com baixo poder aquisitivo, claro que algumas exageram, mas é unânime a vontade de se cuidar e ser atraente, nem sempre usando a lógica nem sendo eficientes. O uso de cremes anti-envelhecimento começa cedo, se antes era aos 30 anos, agora é aos 20 ou até mesmo na adolescência. Inclusive no uso do polêmico botox! Hedonismos...

Culpa também da expectativa de vida. Assusta imaginar-se com 70, 80 anos parecendo o senador Palpatine. Nem mesmo esperam chegar à meia-idade para ter crises ansiosas, estresse e depressão. Tolices, pois são exterioridades, maquiagem para quem só julga aparência – pretensa felicidade.

Hormônios, como o GH – que produzimos naturalmente, por meio do sono –, prometem retardar, ou ao menos disfarçar externamente, o passar dos anos. Até há efeito anabólico, mas pára por aí. Enquanto isso, surgem pesquisas relacionando-os a câncer, diabetes e aumento de colesterol. Quem os defende jura que esse será o futuro, a fronteira da medicina, o elixir tão almejado. Mas há grana e compulsões em jogo, então ações desse tipo soam como picaretagem – perigos à vista.

Muitos sabem que os radicais livres (nossa ferrugem) são os maiores vilões de nossa reposição celular incorreta, além da predisposição genética. Nesse âmbito sim podem surgir “curas”, como a nanotech – deixo isso aos escritores de ficção científica. Ademais, é questão de estilo de vida.

A natureza é sábia, não há shakes ou poções mágicas. Talvez engenharia genética tenha êxito, mas ela é tão complexa que vai demorar muito ainda para se firmar. Milagres de pessoas sem qualquer formação científica sempre foi eficiente para desesperados e ignorantes, o efeito placebo permitiu que esses curandeiros conseguissem alguma credibilidade. Muitos precisam apenas de atenção, suas mentes são frágeis, logo qualquer pretensa cura comove.

O segredo sempre esteve à disposição: evitar excessos, alimentar-se corretamente, exercitar corpo e mente rotineiramente, ser bem-humorado e equilibrar o estresse. Só que grandes períodos de indisciplina cobram seu preço, todavia, num estalo a pessoa quer reverter instantaneamente seus erros, é petulância. A chave é a constância e a tranqüilidade atenta.

O ideal cristão de espírito puro e elevado foi substituído no mundo laico e materialista pelo do corpo perfeito e poderoso. Pode-se julgar como uma perda do romantismo, como futilidade, porém é mais realista. Como deus morreu e tudo é permitido, cada indivíduo é tentado a se achar o próprio deus, forjar imagens de grandiosidade e emergir bizarrices. Mesmo aos pragmáticos o ideal não os abandona, assim como a moral é vinculada a cada ser racional que se relaciona.

Uma forma de ver beleza e transcendência em nossa efêmera existência é que os átomos dos quais somos formados são os mesmos desde a inflação cósmica, então, de alguma forma somos eternos, existíamos antes de nascer e permaneceremos após o falecimento. Assim como não passamos de rearranjos genéticos, o DNA foi herdado e será herdado (em caso de sucesso reprodutivo), então, apesar de sermos uma combinação única, nossa materialidade não é única. Não somos exclusivos como supõe nosso egoísmo absurdo. É a nossa reencarnação sem misticismo, afinal, somos insumo de vermes, é a crueza da reciclagem natural.

+_)(*&¨%$#@! WOW

17 de setembro de 2010

Peleja, Bazófia e Pedantismo (?)

Prélios

I

Túrbido pelo convício e descoco, edaz
Díscolo rebolca ao toutiço lasso a vira;
Perlustrará o Orco da Dite pingue roaz.
Galardão ao rábido e estrênuo, então refocila.

Robora, ao supitar no estelífero luco
Urbífrago e palreiro galeato hirsuto.
Dos baixéis aleia às veigas o furibundo;
Nímia caligem, mas conculca o sitibundo.

Sem pejo esposteja encastoas, aleivoso!
As venustas êmulas soltam cuquiada;
O atalaia e o assecla lobrigam, buliçosos,
Mas antoja o entono do ignavo a cachinada.

O iníquo brandíloquo azoina toda a chusma,
Enfuna acérrimo e insonte a prisca ultriz bruna,
Assoberba inexorável, poltrão minaz.
Opróbrio e labéu que afeleiam o bestunto,
Do então sólito laudo, opima, almo e jucundo!

Sua alfanje o infando aflige no morrião
Do imberbe somenos, que vem a restrugir
De rastos nesse alqueive lhe afuma o bulcão
À voragem, não há mais vascas a lhe aluir...

As áscuas coruscam no tergo do giboso;
Como incude, a truz no estulto o faz rechinar,
Crebro o escarmento trescala e faz estilar;
Hiante, nuta no conspecto paludoso.

Ele acaudilha a arcana insídia, o volantim
E encasa seu gládio. A cúspide jaspeada
É lestamente, por seu provecto, amolgada
No pando mento do fedífrago chatim.


II

Procela dimana entre falésias fragosas;
Clade e alvedrio de linfas, como que ignívomas
Açodam a vasa dúctil, empeço omnígeno.

A facúndia do fâmulo, no imo, compunge;
Blandícias que podem increpar os incautos.

Gáudio do garfo, vergôntea de um preclaro áugure;
É prosápia aos íncolas de sólios e de aras
E não de zagais em desdouros, mas fastígio,
Pois açula encômios no adito vasto, o nado
Do ubérrimo Stix que acoroçoa as Piérides
Pulquérrimas, comborças de nênias canoras.

Desdita do crestador protervo, que arrosta
O alcácer com estrepes túmidos e ingentes;
Os solertíssimos êmulos nos merlões
Rebuçam um amplexo, invitos, todavia,
E medram seus semotos amentos – virentes.

O creste dealba o zerbo de cróceo horrente,
Abroquelado pospõe, mesmo cruentado
Petrecha-se de ginete, ou frisão, esfaimado

Ele moteja com arengas, pois empece
Mas não é balhesto nem mendaz, amanha o corro.
E as Parcas vulpinas azorragam-no, mesto,
Não mais puníceo obumbra, devido a seu morbo?

14 de agosto de 2010

Poema a um clássico da literatura

Aparição na Inquisição

Queimando ad majorem gloriam Dei!
Venerando o profeta salvador
Ou acatando o poderoso inquisidor
Punido como o bandido pior: Avisei!

O papa, o padrasto; paternalismo, papai!
Desgraçado, não antes do tempo, sai!
Teus Discursos destroem nossa obra,
Melhorada a partir da tua, que hoje é sobra.

Fome, tirania e depravação
É para fugir à desgraça, senão
Corruptos tornar-se-ão divinos
Alegoria mordaz em Sevilha
Sacrifícios realizados a pino
Árduos devotos fervilham

Podem ser felizes eles, tão rebeldes?
Falou o espírito da destruição
Tentando trair-te, tamanha tentação
Das profundezas, o profundo Elder

Pelo pão um dócil rebanho é formado
Liberdade escamoteada por charadas
Obediência e ignorância são moldadas
Famintos desconhecem o pecado

Você delegou poder à massa e sumiu
Desesperada, ela clama por migalhas
Ciência não alimenta, opta-se por fuzil
Crê-se naquilo que o cardeal farfalha

À distância seres enganados veneram
Formam filas e então se aglomeram
Necessidade universal de inclinação
Morte, bazófia e estupidez pela oração

Pela vulgar cobiça romana
Se corrompe, mente e idiotiza
A dádiva de outra vida ojeriza
Pois o homem é vil, só reclama

Criaturas inquietas e infelizes
Não eram os preferidos matizes
Da obra-prima de seu pintor
A elas restou a fala e a dor
Sísifo sabe o que é inútil labor

Morrem os deuses, ídolos nascem
O domador pacifica as mentes
Mister a todos uma vida coerente
Mistério resolvido, se não falhassem

Sedutora moralidade pessoal
É dolorosa sua angústia, o que é o mal?
Sagrada imagem-guia é contestada
Reino dos céus reduzido ao nada

Eis as três forças que subjugam:
Mistério, autoridade e milagre.
Os poderosos o homem alugam
Seguem os sacramentos do padre

Cães de caça de apurado faro
Césares vêem na humanidade
Uns vermes com instinto gregário
Satisfeitos na tranquilidade

Leguelhés que rastejam por comida
Perante a autoridade preferida
Não contrariam mais a submissão,
Aos humildes há eterna salvação
E aos rebeldes há infinda danação

10 de agosto de 2010

Leiloei, lê-lo-ei

Sem criatividade, mas pelo menos volto a poetar:

Surtindo Sujeitos

Surge o súcubo supremo, não sugere
À surdina suas surras dá, e submete
Sutilmente suspende, é o que se sucede

O surdo se suicida, ele não mais suporta
Suga um suco sulfúrico, de supetão
Dos sulcos o suscetível suor sufoca
Eis as superstições de um suntuoso sultão

Um suserano superior supre sujeitos
Surpreendidos foram na suruba os suspeitos
Não foram suficientes os seus suplícios
Nem os sustenidos sussurros e suspiros
É subterfúgio do suplantado suíço

Sumido susto sumário e não superável
Ao sul de onde a surucucu subordina
Suprassumo da sutura não sustentável
Surte a supremacia da sujeira suína


*<"°
Um aforismo perdido:
Quando há tolerância morre o amor.
Amar resulta em completude, busca-se a perfeição, uma sublimação.
A tolerância é impotência pela convivência. O que é isso senão política? Um jogo em que cada um quer vencer.
Casar é viver pelo hábito, sela-se o destino da mediocridade, fatalismo da potência irrealizada.

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E uma simples frase:
O sábio gosta de sentir, saber é consequência de quão elevados, corretos, autênticos ou complexos foram seus sentimentos.

:;.,'
P.S.: Posso dizer que estou aprendendo com a vida, a prática, as pessoas, as teorias, os erros e os póstumos. Só não sei se me torno apenas enciclopedista, alguém hábil em intertextualizar ou escrever, ou ainda sábio, a filosofar. É lado racional que às vezes prevalece, mas ainda sou humano e rebelde...

25 de julho de 2010

Crise de Identidade Masculina pt. III

Completando:

III
Quase todas as sociedades realizaram divisões por gênero, inclusive na linguagem. A entidade masculina engloba a feminina, sendo dito Homem a tudo o que for humano. Se antes o espaço público era do homem – e daí sua invisibilidade aquém de investigação científica – e o privado era da mulher, hoje tudo se misturou. É óbvio que elas tiveram que se adaptar às novas situações, também é inevitável uma reinvenção por parte deles, para provarem que continuam homens, apesar das delicadezas do mundo urbano e supercivilizado. Por outro lado, em várias culturas primitivas a agressividade é intolerável, principalmente entre os membros do grupo.
Além do gênero, outros marcadores sociais são: raça, idade e classe. Com a mudança de algum desses, novos valores e diferentes atitudes precisam emergir, porém muita gente não se compromete e não consegue fazer as transições, ficando presa ao passado, seja o machão, o idiota ou o Peter Pan. O refinamento de gosto é visto como frescura aos pobres, já a rudeza é vista como primitividade pelos ricos. Assim como o negro e a mulata, ícones da hipersexualidade que podem também representar a falta de racionalismo. Bem como a loura e alta é o modelo de beleza e de conteúdo vazio. Nessas perspectivas cada um tentará defender sua posição, julgando-se superior.
Envelhecer é doloroso, é a perda da virilidade tão cara. É preciso filosofia para saber morrer. Quem refletiu e viveu bem consegue realizar todas as travessias que nos levam à inescapável morte. Isso falta a todos, num ambiente de velocidade e de ânsia por retardar o próprio processo, infelicidades acontecem. Enquanto não se descobrir a fórmula da juventude, saber envelhecer continuará a ser um aprendizado muito caro e raro.
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Na passagem para o século XX surgiram iniciativas do Estado para preparar o homem do futuro, submetendo os machões e vilões a privações, como a lei seca, a proibição dos duelos e da prostituição, fazendo-se presentes as religiões. Por isso, crimes de honra imunes à lei são impensáveis atualmente no ocidente, todavia, no oriente e nos mundos árabes e islâmicos são aceitos. Por outro lado, contracorrentes visaram manter o lado selvagem do homem, como o escotismo e os museus, permitindo o contato com a fauna e a flora e ensinando como era e como, ao menos em parte, deve continuar sendo o homem.
Na rotina burocrática é comum se sentir vivendo uma vida que não está à altura de seu potencial, enquanto que as mulheres se acostumam mais facilmente com a mediocridade e a praticidade de uma sociedade utilitária. Os homens necessitam de provas e medalhas, para mostrar que “é o cara”; escrevem um relatório sonhando em ser rock star. Encontram segurança em esporte, política e sexo, quando todos pensam quase homogeneamente; faz bem ao ego gritar e se orgulhar de invencionices.
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Corpos musculosos, independendo do sexo e da opção sexual indicam, nas cidades, a preferência pelo masculino. Sendo assim, a cultura passa a moldar a anatomia e o mercado a regular o estilo de vida dos cidadãos, distanciando-os do desejo e isolando-os na vaidade, como os metrossexuais. Nichos geram lucro. Androginia e bissexualismo ampliam o leque de oportunidades.
O adolescente de hoje é a criança mimada pela publicidade, estimulada ao hedonismo, se tornando o Narciso indiferente e descartável. Ou o tiozão que paga de garotão: a diferença do adulto para a criança é apenas o preço dos brinquedos; é fácil ser menino, mas nem tanto continuar a sê-lo. O ciclo natural de nascer, crescer, copular, criar e morrer é negado. A vida feliz de sacrifícios pela amada família não lhe pertence. E fica frustrado, falta o sentido, a missão, a realização. Por se deparar com um excesso de opções acaba não se apegando a algo específico.
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É essencialmente através da relação pai e filho que se formam os processos identificatórios e o protótipo de homem, adulto e cidadão atuante. A relação afetuosa, os conflitos e as ausências marcam no menino a ambivalência admiração e ódio. A diferença de gerações e de contextos também relativizam esse processo.
Na contemporaneidade faltam rituais de iniciação, sejam provas físicas, bar mitzvah, encenações orais, idas a prostíbulos, tudo que seja feito publicamente, para que ele se sinta seguro de que houve uma mudança ontológica naquele momento, dirigindo-se ao estágio superior. A tradição se perde na globalização. Poucas pessoas amadurecem sozinhas e espontaneamente. Os famosos trotes não se aplicam ao caso, pois há uma ridicularização do iniciado; as gangues ou o tráfico também não, pois são impostos por pessoas de conduta moral repreensiva, é rebaixamento. Anciãos ou sábios é que devem dirigir os ritos, são exemplos de sucesso, porém nossa cultura menospreza os idosos.
A aquisição da virilidade não é definitivamente adquirida, deve ser constantemente (re)conquistada. Um homem quer ser o herói de sua mulher, se ela assim o trata, sente-se elevado. Mas se sua amada despreza uma dedicação sincera de amor, o mundo dele desmorona, eram para ser felizes juntos, mas passam a ser tristes, e o homem, um menino muito, muito idoso.

23 de julho de 2010

Crise de Identidade Masculina - pt. II

continuando o tema...

II
Muitos ainda acham justificáveis os crimes passionais, e muitas acham lindas as violentas provas de amor, como seqüestro, brigas e agressões. Além da famigerada fuga à bebida, que os cantores sertanejos conhecem tão bem. Porém, a grande maioria das mulheres assassinadas foram vítimas de atuais ou antigos parceiros, em muitos casos após estes beberem.
A pílula anticoncepcional provocou uma revolução ao separar maternidade, sexo e amor, de forma profunda e irreversível. Possivelmente, a sociedade, em geral, não acabou de assimilar todos os seus efeitos e de transvalorar (assim como em vários outros âmbitos sociais). Ficam à parte os fundamentalistas e as seitas religiosas que se recusam a acompanhar as evoluções científicas.
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As mesmas feministas que desejavam liberdade, e libertinagem, se chocam com atos mais extremos de outras mulheres e com a fuga de homens, seja no sentido de covardia ou de cafajestagem. É uma geração que ainda herda a tradição romântica e sonhadora, que não se adapta mais à época. Aquela visão de donzela inacessível no castelo, idealizada pelo príncipe, que fará um ritual de conquista para desposá-la. Quimera diluída pelo mundo líquido, tudo flui!
Até na disputa pelo poder a estratégia feminina mudou. A tradicional cópia do padrão masculino, com o mais enfático exemplo de Margareth Thatcher, está sendo substituída por mulheres que admitem suas qualidades e atacam num ponto fraco dos homens, a pretensa superioridade da testosterona. Elas não levam a sério essa farsa. Aprenderam a jogar, a fingir que eles dominam, para satisfazê-los, e riem da covardia deles. Contudo, é difícil aceitar um papel quase de gigolô, de ser sustentado pela esposa, de ganhar menos que ela e de não protegê-la; sente-se incapaz.
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O conceito psicanalítico de castração se aplica aos dois sexos. É pré-condição do desejo, da libido, mas o homem costuma resistir à idéia de que precisa da mulher para preencher seu vazio existencial. Pensa que por ser ativo e possuir pênis, o símbolo da potência, da inveja e do procriador, é invulnerável – frágil prepotência.
Porém, só o homem é marcado pela angústia e pelo medo da perda de seu falo, que significa volume e quantidade, quando na verdade é subjetivo, não está diretamente ligado à qualidade. Por isso, a agressividade e o sadismo são mais comuns no homem, é um meio de afastar os fantasmas da castração. O outro lado da moeda é o masoquismo feminino, que se aplica ao homem, que se faz passar por aquilo que julga ser a mulher, numa forma de satisfazê-la, e de ser punido.
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É claro que masculinidade e feminilidade são conceitos puros, mas na prática se afetam mutuamente; são construções sociais, presentes em cada indivíduo, abrindo possibilidade justamente para parcerias, buscando na outra pessoa semelhanças e diferenças para formar uma identidade mais sólida e madura; estabilidade que fortalece. É a importância da mínima diferença, o que falta em cada um será achado no outro ser.
Por meio de conversas, da exposição de empecilhos, e da solução de pequenos conflitos por ambas as partes há uma convivência mais feliz, amorosa e menos mentiras e grandes dificuldades futuras. Deste modo, reverte-se o isolamento emocional, a introversão, a dificuldade em receber críticas e o humor que desconversa – a camuflagem da fortaleza que não passa de retórica.
Quando os casamentos eram arranjados e forçados era compreensível que houvesse dificuldade na troca de informações e de confidências, mas agora que é por livre vontade de ambas as partes é inaceitável o silêncio e as brigas por ninharias. É uma polêmica defender se o matrimônio por amor ou se o contratual é mais feliz, porém a felicidade é uma conquista individual, e no mundo liberal se não houver sucesso casando por amor é sinal de que os homens não sabem viver em liberdade.
A mulher, quem sabe, é a causa principal desta crise de identidade, mas também é a solução do drama. O homem pode não precisar de muita companhia, mas, de fato, passa mal com a solidão, precisa namorar e debater, ou ao menos ter alguém em quem mandar. Não é preciso colocá-la no pedestal, que elas desçam do trono, o romantismo era frustração de tuberculoso; que todos aprendam como funciona um relacionamento entre iguais de direito, claro que com inevitáveis diferenças biológicas, e que não caminhem rumo à androginia, com homens achando que precisam se feminilizar para agradá-las e com mulheres tendo que se masculinizar para serem competitivas no mercado e nas demais áreas da vida – identidade.

21 de julho de 2010

Crise de Identidade Masculina (pt. I)

Finalmente me dediquei a escrever sobre este tópico. Vai parecer mais um relatório de faculdade, mas foi o jeito que eu achei de expô-lo, mais científico que artístico, afinal, ando assim. Dividirei em 3 partes para não ficar (tão) cansativo e para fácilitar a edição.

A crise, ou limiar, ou ponto de ruptura, ou no mínimo mais um momento de valores tradicionais em cheque, no que se refere à masculinidade, ao patriarcado e ao conceito de ser homem/macho alfa se apresenta com nitidez. Basta ver e se deparar com tendências e bizarrices que há apenas alguns anos não existiam – vide os metrossexuais e os transexuais gays (p.e. homem que se tornou mulher e se relaciona com mulher). Sendo assim, o que resta das diferenças? Viveremos num mundo andrógino? A moral é tida como difusa e indefinida ou como rígida e ortodoxa?
Dicotomias: homem ou mulher; postura diagonística ou domesticada; guerreiro ou pai de família; yang ou yin; aventura/nomadismo ou tradição/sedentarismo; excessos ou ordem; riscos ou calmaria; antissocial ou sociável; razão ou emoção; egoísmo ou altruísmo, atividade ou passividade. Qualidades ou valores que habitam em todo mundo e que simbolizam diferenças que cada um optará por seguir, para assumir uma reputação que o precederá. E apenas do lado masculino haverá a possibilidade de heróis e anti-heróis reverenciados, arquétipos de juventude, coragem e honra.
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Rousseau, em seu pedagógico livro "Emílio", expôs preceitos de como o homem/garoto e mulher/moça deveriam agir no mundo laico a se formar (o honrado pensador e a pudica esposa), um precursor da educação repressora da era vitoriana. Esta, em especial, teve como conseqüência o excesso de casos de histeria e o aumento dos escândalos por adultério. Afinal, ninguém consegue viver contente numa clausura. A literatura tirou proveito disso, em personagens clássicos, como Mme. Bovary, Capitu e Anna Karienina, damas cheias de culpa e vergonha por seus atos subversivos. Educação que ainda ressoa: uma inércia do machismo sem que as mães percebam, criando filhos que se sentem superiores, sem respeito às garotas, treinados para catar mulher.
Antes da II GM era comum a mulher precisar do homem para qualquer realização, o que fugisse à esfera das ordens dele seria segredo. Ele exigia controle absoluto, queria saber de tudo e mesmo assim desconfiava, apesar de todos os mimos. Hoje em dia, para ela tudo seria prescindível do homem, em especial as suas conquistas pessoais? Talvez sim, e assim sendo, eles se encontram confusos e perturbados; o papel antes exclusivo de provedor é então compartilhado.
A família seria o último refúgio de poder para esse homem acuado, melancólico e esgotado. Porque ele quer ter aquilo que sua mulher quer, e acha que tem! Enquanto que ela sempre acha que falta algo, ficando ciumenta, e por vezes paranóica. Nem todo homem assimila que nem sempre (ou quase nunca?) o que as mulheres querem é aquilo que ele tem a oferecer.
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Pode-se afirmar que os papéis sociais encontram-se foscos para ambos os sexos. (É correto dizer que só existem dois sexos?) As conquistas de bens e direitos do movimento feminista no pós-guerra gerou maior competição no mercado de trabalho, além da grande inserção de mulheres em locais antes de predomínio ou até de exclusividade masculina, inclusive pela morte dos maridos em batalhas. Entre outras revoluções sociais, que costumam ter por alvo a contestação e a queda das hierarquias dominantes.
Pregar igualdade é gerar eterna tensão, em um exaustivo trabalho de justificar as pirâmides forjadas, como foi o papel do positivismo e dos publicitários da industrialização, típico do fim do século XIX. A única desigualdade aceita é a biológica, de natureza ou, para alguns, divina. Igualdade que passa a aumentar os privilégios das mulheres e a diminuir os dos homens.
Ser Pai de família não é mais um destino, assim como não há mais um modelo único de família, cada um planeja seu futuro como quiser. À primeira vista pode parecer mais fácil ao jovem, por diminuir a pressão dos pais e parentes nas escolhas pessoais, mas em outra visão significa maior responsabilidade e capacidade de tomar decisões solitariamente. It’s do or die!
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O olhar masculino simboliza seu poder onisciente e invisível de objetivar, como a torre central das prisões ou o big brother de Orwell ou o olho de Horus, ou ainda de Sauron, vendo tudo sem ser visto, entrando na intimidade e punindo. Se fosse de outro modo seria encarar, um chamado à briga, coisa que o poderoso não faz com quem julga inferior.
A questão primordial, enfim, não é quanto ser homem, mas como ser homem num ambiente rapidamente mutável. O herói executivo e o revolucionário foram algumas das opções que eclodiram em meados do século XX. A admoestação por não ser “cabra macho” permanece.
Essa reafirmação do papel de macho tem como o efeito a violência “amorosa”. Leis, como a “Maria da Penha”, elaboradas para coibir práticas arcaicas e não condizentes com a civilização almejada são evidência de um sintoma social do momento de confusão. Reivindicar normalidade é absurdo; tecnologias, implantes e esvaziamento moral fazem surgir inúmeras peculiaridades.

26 de junho de 2010

Arte e Artistas

Diante da arte meu prazer é rebaixado por quem não o compartilha. Sinto-me só. A singularidade é um outro nome da solidão. Meu amigo adora a obra que eu desprezo, assim duvido de mim mesmo. Porém, a arte não se comprova, experimenta-se. Questão de gosto, que deseja ser onipotente, apesar de ser deveras subjetivo, e possui a petulância de querer se impor a todos os observadores.

A arte parece que nunca vai morrer e que não tem um momento preciso de nascimento, ou seja, preexistia em algum lugar, e que um sujeito inspirado fez a graça de proclamá-la a nós, mortais. A obra-prima paira acima de nossas consciências, só um dom exótico poderia torná-la objeto de veneração. O artista é um místico, um intérprete dos deuses, vê o que os demais não vêem – paradise lost. Após contemplar a iluminação, exprime-a com suas idiossincrasias e técnicas adquiridas. A fallen god remembers his heaven.

O homem ordinário, então, idolatra, torna sua concepção de gênio em efetividade e satisfaz a própria vaidade, enquanto o artista se regozija com sua pretensa divinização. Actually, he digs his own grave. E que ninguém observe como é feito o trabalho, é onde reside a mágica, um ilusionista nunca revela seus truques, ou haveria desapontamento, a beleza seria desvanecida. Véu que mantém a imagem sacra. Contudo, poeta (poien: criar) ou teórico (theôrein: observar)? Inovador ou plagiador, sonhador ou confidente, historiador ou profeta? Ingênuo culto ou sábio ignorante.

Em arte a posteridade se autoproclama juiz, o futuro é um céu imenso que atrai, como chamá-lo de vazio? Nostalgia e esperança. Alto e baixo, julgamentos e valores antropocêntricos, pois no infinito, todas as direções de equivalem – horizontalidade do ser. Entretanto, só o homem julga, é o eixo ao qual toda vertical deve ser paralela – egocentrismo. O sol está em nós, o desejo cria seu céu, sonhos se repetem, tenazmente. A imaginação conjectura a promessa do zênite, mas do obscuro e do incognoscível nada se prova – agnóstico sonhador ou artista sonâmbulo.

Não há o belo em si, o prazer é seu limite definidor, a cada desfrute uma criação – pathos e hedonismo. Beleza é duplicação temporária: pela mutabilidade do objeto sentido e pela fugacidade de quem o sente. Valor é historicidade afetiva, a (r)evolução do tempo muda a sorte das coisas, logo, não há finalismo. Assim, a obra não é mais causa, mas efeito do desejo, a inspiração torna-se a face oculta deste.

Artista, mais albatroz que Hermes – o oráculo da sua própria vontade – escuta trovejar internamente as potências subversivas do desejo; idéias que percorrem as veredas íngremes da criação. Ícaro ascende furiosamente. Renúncia à contumaz crença da perfeição, porém, só há troca e regressão. Tudo era id na origem, no corpo adulto permanece a infância, e sua perversidade, sua ânsia por prazer, sem objeto e sem unidade. E cada um sofre o peso da criança que foi, é e continuará sendo.

Ouroboros: só partimos para ficar, só saímos para voltar. Crescer é um jogo e envelhecer é a morte. Letting go, só há viagem para o esquecimento, time heals. Consolação sem fantasmas. Humor. Sublime: o ponto derradeiro, o cume, a região cega que funda os demais valores.

O sonho, muitas vezes precoce, de estar voando significa o desejo ardente de estar apto para os atos sexuais – Vênus inspiradora. E o artista preserva a parte sonhada de sua infância e a recria, para continuar a sonhar que se tornará grande. Leva a vida como brincadeira, apesar da burocracia e dos deveres ubíquos se contraporem a essa concepção lúdica. Nesta velha dança a gente não se cansa de continuar criança. Por isso não importa, a quem não teve infância, o amor e a arte.

Vida como fenômeno estético. Arte como guardiã do sono de viver, como máscara da solidão, expressão vital e espírito maculado. Por sofrermos, precisamos do prazer; como toda criação é uma alegria, pelo intrínseco aumento do ser, é mister amar a arte, para criar o que nos falta ainda a ser; é a superação do drama de não ser.

A vida, enfim, livre da morte, ou ainda, não há morte, só há vida que se cessa. O criador e o observador da arte encontram em si o meio de superar o que os atemoriza. Sentem em si um excesso ou uma falta de sentido no senso comum e buscam o equilíbrio através da oscilação.

O desejo é estético quando só desfruta de si mesmo. Ele abraça o fugaz, o transitório, o frugal, os ciclos, os fluxos e os movimentos. Enquanto o prazer não, este é neurótico e compulsivo, sempre se anulando e querendo repetir. No entanto, há no perverso algo de artístico. Um incomodado que quer incomodar. Projeção do desejo pela não adaptação à realidade.

A arte avança, sem progresso. Nos museus é onde se conhece a criação, mas fora dele é que se cria. Toda arte é criadora, e seu oposto? Toda criação é artística? Cada um tem a estética que merece.

Artista é como que um ponto de condensação do universal no singular. Original todos podem vir a ser, mas ser verdadeiro é raro, é o diferencial. Se não fosse pela arte, os segredos de cada um permaneceriam trancafiados. Mas a faculdade de expirar uma inspiração se impõe ao artista, porque ele quer tudo o que tem e faz. É possuído por si e reinventa os valores e as regras de suas obras.

Incapacidade de viver a morte na plenitude de sua satisfação. A arte sobrevive a si, o passado torna-se presente na efetividade do prazer proporcionado. Ficamos, então, contemporâneos do eterno; na cultura, os vivos são dominados pelos póstumos.

No começo tudo era incipiente, toda inovação era grandiosa, os precursores e a vanguarda ficaram com os méritos e as glórias culturais, e o que resta, agora, tão tarde? Apenas técnica e cópia? Todo trabalho criativo exposto como artesanato, mercadoria para as massas? A raridade é um encanto insubstituível, o que é infungível tem seu preço elevado. Crise da época, concorrência ingrata. Milhões de anônimos que sequer buscam seus lugares ao sol, ou em meio aos flashes, almejam apenas reconhecimento num nicho cada vez mais reduzido – entropia e perda da criatividade.

23 de junho de 2010

Política e Ilusões

Na legião de solitários a política é o labirinto dos egoísmos. Tio Ari já dizia “o homem é um animal político”. Um jogo coletivo, um equilíbrio em discórdia, uma comédia do poder. Todo poder é violento e opressor: comunismo é conto de fadas, é impossível superar a dialética do socialismo, democracia é submissão, da minoria pela maioria, assim como aristocracia é o oposto. No entanto, democracia é o estado mais próximo à liberdade que a natureza reconhece a cada indivíduo.

Estado: monopólio da violência legítima, apesar disso, sem Ele a anarquia emergeria. As contradições são inconciliáveis, para isso o estado civil, onde não existe direito natural, mas acordos em prol de segurança. Poder que impõe os limites da ordem e se insula, como qualquer bureau. O estadista não renuncia, a revolução é frouxa, só muda a direção dos vetores.

Governar é preferir e preterir e só há política de desejos, deseja-se o que deveria ser e não o que é. Como acreditar que não é o povo que dá poder ao partido, mas este que distribui poder no povo? O Estado não é sintoma, não é porque se supõe ter universalizado a verdade que todos serão da elite, logo sem poder. O homem adora e detesta hierarquias e símbolos, por ele mesmo criados.

Sociedade de Narcisos, racional, claro, mas desarrazoada; pacifista, ok, mas não pacífica; combate, sempre, sutil ou declaradamente. Ilusão social é a verdade humana. História – sempre aventurada – é o conto dos vencedores das guerras, sem final e sem início; dominação e orgulho – antropologia. Sociologia: explicar como o egoísmo solitário se torna (ou deveria se tornar) o egoísmo de todos, juntos, concomitantemente.

Só a morte é o fim; só o prazer é o objetivo; Ares e Afrodite em aproximações perigosas. Nem a paz nem a guerra são absolutas, infinitas ou nulas, e a política é o denominador comum. A paz só é melhor porque todos preferem a vida à morte. No entanto, só há paz aos mortos, entre os viventes há sempre luta. Usar a política é defender o direito à vitória, que se vier terá uma singela e efêmera celebração, pois novos duelos se seguirão. Não há paraíso, o que existe é sonhar a vitória, projetar o futuro e criar ilusões.

Solidão: em toda inserção social o indivíduo cede, nenhum grupo é perfeito, escolhe-se o que menos parece pior, alguns se cansam e se isolam em suas redomas. Na escuridão da noite, nas trevas dos pensamentos, nas imersas consciências, a coruja hegeliana se transforma num morcego materialista, as sombras são iluminadas pelo radar de apurados sentidos, evoluídos por séculos de vivência escusa.

A justiça não existe, é apenas remédio para a morte, mas os religiosos acreditam nela. Enquanto isso, pensam que o mundo todo é Sodoma e só eles deveriam morar em Atlântida, pois não haveria punição divina. Nostalgia do idealismo: o passado é melhor porque é mais próximo da origem e do criador, livre dos pecados do homem. Na religião tudo é decadência. Entropia negativa: o progresso é absurdo (o passado seria pior que o presente), a física não pode contra o poder absoluto do ideal, do saber e da verdade. Contudo, não há centro do Universo, cada mundo gira em torno de um sistema qualquer de massa maior.

A ilusão permeia os homens, é a trama, negá-la é um drama. Não se pode viver sem ilusões, mas pode-se pensar sem mistificações. Ética materialista: não há valor que não seja ilusório e só a verdade sem valor é capaz de desilusionar. Perspectivismo: pensar a peculiaridade de cada ponto de vista e saber que todo julgamento moral é o meio da potência se sobressair. Afinal, a natureza é indiferente, a ciência não é democrática e a verdade é apolítica, enquanto o homem é político, não há como ser niilista.

Ontologia: a solução não está nos objetos (observado), mas no sujeito (observador). Saber que a Terra gira em torno do Sol não retira a ilusão de observar o inverso. Enfim, o homem é a medida de todas as coisas. Perder a ilusão é conhecer as leis e não jogar a responsabilidade sobre o eco das aparências. Saber que se sonha é começar a ter paz.

Dogmatismo: meter os pés pelas mãos, erigido em verdade absoluta. Mas não passa de uma abordagem. Convicção: ilusão de ter razão, mudar de opinião dói e o orgulho não admite a derrota para a melhor retórica, mas ambos acreditam defender o que consideram o melhor (sinceridades tolas). Ou então mentem em prol de um bem maior, prontos para se sacrificarem pela meta.

Desconfiar de todo discurso interesseiro, sempre, os meios são detalhes. Enquanto isso o superego sussurra para haver serenidade. Os mártires nunca morrem sozinhos, causas os acompanham. Toda ideologia é religiosa e está de cabeça para baixo.

Quando se teoriza e assume que há A verdade, nasce o fundamentalismo, e seu militante tem o conforto da coerência e da fé, por isso a Jihad é justa - escatologia. Do outro lado, o prático não admite qualquer valor absoluto e milita sozinho, o seu céu é o que para si inventa, sabe que não há A verdade ou O melhor. Ele é o exército de um homem só. Verdade não passa de um sonho.

Utopia: desejar uma sociedade que é supostamente boa, mas que está sempre ausente. A realidade é um esboço (pré-história) e o porvir é a verdade (história) – profetas científicos. Militar: convencer os outros de que esse mundo pode vir a existir – questão de retórica e de propaganda. Dialética: subverter a situação dominante, onde se é dominado, para outra onde se domina, e segue a história. Os valores são disfarçados sob a forma de descrições; a pedagogia substitui a democracia, a ignorância passa; as massas se animam com as promessas de felicidade; os líderes são tão bonzinhos, mas passam faca.

A essência é a realidade, então encontre, a partir e além das aparências, uma verdade que as explique e as supere. As verdades se encadeiam, paradoxalmente, logo tudo é verdadeiro, mas não da mesma maneira. Ou, ao menos, tudo pode vir a ser falso. Silogismo, relativismo, anarquismo, perspectivismo, niilismo ou ceticismo? Escolha...

=) :p

14 de junho de 2010

Labirintos e Desespero

Da escuridão à luz; através do silêncio; calar-se, não tagarelar, nem por impaciência nem por pusilanimidade; morar por um bom tempo na intemporal noite. Vagar solitariamente nos labirintos.

Superar a angústia para não girar, assim, a esmo. Após os esforços tolos, parar e aceitar a serenidade. Toda esperança é frustrante. No desespero o presente, nada mais há a perder, exceto as ilusões: força da recusa. Não mais precisar aguardar. Leveza, insustentável.

Consumismo e suas juras de satisfação, e esperamos, demais, sintomas de nosso tempo adoecido. Após a posse, queremos mais outra, e logo, afinal, tudo é para logo, cadê o logos? O jogador aposta e espera, por vezes celebra, mas na maioria se frustra, e nunca fica feliz. A esperança vicia; a ânsia por recompensas é suplício.

Medo gera superstições, que nos prendem à caverna, então esperamos ajuda externa, divina, é o fatalismo da covardia – as religiões. Logo, detêm-se. Sacerdotes prometem, são mercadores de ilusões, vendem otimismo – a fé é tolice. A morte sempre nos vence, descendo em vida, quem sabe atingiremos, no abismo, alguma verdade.
Após a fé, perder-se, desprender-se de todo laço social ou afetivo, inclusive de si. Encarar a morte, o severo barqueiro Caronte. Um escândalo, o limite, impossível apelação. Hades não pode ser enganado, ensinou-nos sua punição a Sísifo, a vida é um esforço absurdo, ao sucesso segue-se a decepção da pedra rolante. O que é vivo não pode ser imortal, só os símbolos o podem, vide os deuses.

Saber cultivar, a vida deve ser uma tempestade de nossos sonhos e desejos. A experiência de si é a mesma do desejo. Eros e Vênus nos governam. A sós inventamos sóis a nos iluminar e servir de companhia; como é difícil a lucidez do coveiro do divino! Atravessar o deserto da anti-transcendência para poder enfim ser criança, e não mais leão, muito menos camelo.
Renunciemos à salvação, e riamos, e dancemos... A vida é sem objetivo, a felicidade não é um. A condição humana é peculiar, minúscula e risível. Odiar-se é levar-se por demais a sério.

Ennui, tédio se soluciona com esquecimento, mas a consciência é o morcego que adentra à noite ao quarto... e a memória não é seletiva. O vazio é um alerta para corrermos, vivermos, não é o chamado de nossos fantasmas. Não devemos ter horror a ele, ou faremos e falaremos qualquer idiotice por não saber aproveitar a oportunidade do (talvez maior) aprendizado – a solidão.

Criatividade a partir do nada, saber ouvir o perturbador silêncio. Ao passar por isso, guarda-se, no fundo dos olhos, como os aventureiros, o sonho secreto de suas viagens. A cada um cabe a imensidão, ou não, de seu céu. E cada qual tem o deus que pode. Aceitar o contrassenso e os paradoxos; sim, desespero, navegar sempre; a terra, mesmo à vista, nunca chega. Imaginar: fazer do nada uma realidade fascinante.

Despertar e ascender. Idealizar é sofrer a queda, sabedoria é se elevar, sem ser iluminado, sem graça divina. E do chão não se passa, mas do cume também não, a menos que voemos mais sabiamente que Ícaro.

Os apaixonados amam a imagem, seu simulacro, o fax simile. Se as pessoas são tão difíceis de serem amadas, sobra a idéia para nos consolar – projeção e tolerância. E por ser uma conquista, há sensação de elevação, sem o sonho nada disso seria possível, se não houvesse mérito, como se poderia amar? Contos, moda e mídia contam mentiras sedutoras, impondo o seu belo. Refletir para moldar seu próprio belo – autenticidade e relatividade.

E Narciso pensa que se ama, mas ele não se conhece, e o que é, como posicionar, exatamente, o Eu? O Eu é um estranho, um outro, só resta ao sujeito a ilusão de si, porque a natureza é que pensa em mim. Sabedoria é renunciar à posse, alegria é amar aquilo em mim que não é eu. Conhecer-se é contentar-se.
Iceberg da mente, apenas a consciência se apresenta, 90% se esconde, e é imprescindível. Mundo quântico, só há movimento e combinações fugidias. Num momento se cria e se dispersa, perpetuamente. Somos nômades e cada um é seu próprio refúgio.

Fingimos ser alguém, é preciso acreditar em algo. Como viver ser qualquer crença e metafísica? Até uma máquina acredita, em seu programa. A maior ilusão: pensar viver sem ilusões.

Cada pessoa é uma máscara e a sociedade é esse teatro de mascarados, e cada um julga essa representação como tragédia, drama ou comédia. As máscaras protagonistas são aquelas que passam despercebidas.
Viver é desejar e desejar é viver, porém há teimosia, ninguém, até mesmo uma idéia, pode deixar de resistir à sua falência. Perseverança: afastar a destruição e a derrota. Pois somos finitos, o tempo só existe para o que não dura, e o que não para de durar? Só morre o que é vivo.

Queremos expansão, é essência humana – a potência de existir. Em sonhos e em mitos voar simboliza a excitação e a ereção, na luta contra a gravidade e a lógica. O ilimitado pelo limitado: o finito se define (ou definha) pelo infinito que não é, mas que desejaria ser. Em nossa carência negamos os limites.

A partir de quando há uma tendência, dela surgirão sentimentos opostos. Além do bem e do mal: não são os valores que definem o desejo, mas o oposto – ética e estética. Afirmação, atividade, alegria.
Ao contrário da ortodoxia religiosa, que exige submissão, ser escravo dos deuses: o bem não é feito, é seguido. O asceta, o santo, não tem personalidade e é desmemoriado. Deseja a morte para livrar-se do tão maculado corpo. Como pode ensinar a viver desse modo, se, pelo contrário, tudo parte do corpo?

+=-,/.*

Continua... (talvez)

24 de maio de 2010

Aceitando a inspiração e a crítica

Poesia sufocada

A escola ensina que tem que aprender
Aprender a ser bem comportado,
Tirar boas notas e seguir o seu mestre.
Tornará um dia algo que preste?

Crítica emudecida, emoção rejeitada,
Arte embrutecida, poesia sufocada.
Nos talentos agem pesticidas,
Na existência surge então o nada.

(História deturpada pelo grande inquisidor
Crime significou religião, joguete cristão;
Não passamos de famintos, queimados e extintos.
Liberdade – nada tão insuportável e tão sedutor)

Forma-se a cultura pela educação;
Abrangência social da informação.
A família, como o homem, não é uma ilha
Compartilhamento também é opressão

Empresas – modelos industriais
Manuais, preceitos e rituais
Recursos, ao máximo, manipuláveis
Tudo e todos devem ser mais rentáveis

Assim se enquadra a humanidade:
Em burocráticos escritórios,
Em doenças de laboratório,
Em terapias imprudentes,
Em um mercado onipotente.

Do tempo e do dinheiro pressão
Tudo para ontem, gozando amanhã,
O agora seria o presente da união
De um período tornado coisa vã

Sintoma: vazia acomodação
Desejando esta desmotivação
Remédio: retirar a venda espelhada
Enxergar a potência desesperada

Milagre, mistério e autoridade –
As forças que subjugam os rebeldes.
Débil, fraco, vil e covarde:
O homem, em rebanho, se rende
A filisteus da cultura, escravos que prendem

Inimigos da arte ditam as regras
Jogadores iludidos na vitória
A resistência ergue as suas pedras
Desiludida e feliz - peculiar glória


Ph.Deuses

- Eu estudei, sei mais que você, sou Ph.D.
- Ph.Deuses deveriam, por vezes, limpar minhas fezes.
- Trabalhe, trabalhe, não atrapalhe. Paspalho, se cuide!
Trabalho, trabalho, siga na marcha, atento. Circule.

- Quem sabe, quem disse, quem manda, alguém sabe dizer o por quê?
- Em seus relatórios quero mais foco, você está aquém;
Fracasso, fracasso, serviço em nível de um cabo raso
Atrasos, atrasos, todo seu salário vale meu cadarço
Não compartilho o saber; vocês todos inúteis!
Nessa vidinha de infame, seus gostos são fúteis!

- O pequeno burguês se recusa a viver como um freguês
Senta-se à mesa do chefe e sente o poder de uma vez
Lei da mordaça, lei da fumaça. E bebe na taça.
Séqüito bobo rindo aos montes de coisas sem graça
- Braços direitos e privilégios ao novo rei!
Mantenham o ritmo, eu é que mando, é minha lei!

Diploma de Ph.D, licença de Ph.Deus
Diploma de Ph.D, licença de Ph.Deus

Mega, mega, megalomaníaco!
Nega, cega, veda, alega.
Mega, mega, megalomaníaco!
Nada, nada, além de um maníaco.


Obs.: Preciso de um empurrão atualmente para escrever. Essas duas letras são semelhantes por terem a mesma origem crítica. Ao menos rendeu alguma coisa e não deixei passar o momento. Estou para escrever um post sobre a crise da masculinidade (androginia e falta e excesso de agressividade e segurança) há algum tempo, mas fico relapso, alguma hora me dedicarei. As coisas estão um pouco corridas também. Por enquanto é só...

3 de maio de 2010

Palavra de Ordem

A ordem das palavras de ordem

É o tempo do desespero, da morte de deus,
É a obra do cansaço; da ideologia obliteração
Crêem-se em desespero, mas estão decepcionados.
Só desapontamento nesta idade da decepção.

Criar esperanças, responder o porquê de se viver;
Suportar o agora, antecipar as tristezas que virão.
Pré-consolos do iminente fracasso, da privação,
Em nossa onisciente fuga do sofrer.

Sempre esperando – substitutas expectativas
Das antigas, contínuas e atualizadas derrotas.
Não vivemos, nunca; um dia viveremos, sempre.
É uma nova cilada, com riscos, mas sem apostas.

A sabedoria é possível a nós?
Sofrer impede o pensamento,
Pensar tende ao sofrimento
Pensar é presenciar o atroz

Discurso: deslocar do sentido o curso
Contra o adoecer o corpo combate
Como pode, ou então morre – desgaste.
Ah, viver é um reino de sombras!

Angústia prolongada: o custo da humanidade
Exigimos, porém, a cota de felicidade
O morto não sabe que é morto
E o louco não sabe que é louco

Em sonhos e imagens resume-se quem vive
Se é árduo é raro: indício do fausto aclive.
Que um dia a vida seja, sim, doce
Criação – alegria somente na ação

A última esperança: não mais esperar
Se possível for, no fim há salvação,
Se não for, nada perdi, deixe passar,
Porque toda morte é sem apelação...


¹²³°³²¹

Um sentimento idealizado e não correspondido há um ano me impede de senti-lo novamente, foi tão intenso que me secou? O mecanicismo e talvez também a ortodoxia e a dicotomia voltaram, não era o que eu gostaria. O auge físico passou, na atual posição decadente da vida, não há como eu mudar mais, restam as atualizações e as teimosias para não falhar a memória.
Amizade, alegria e alteridade, substantivos em falta em meu dicionário de vida. Gero discórdias, mas tenho sorte de suscitar carinho também. Talvez minha personalidade e meus atos ríspidos e tão autênticos dividam bem quem me entende e me aceita e quem não os suportam. Não à toa um lado tende a ser mais populoso que o outro.
Cedo apenas provisioriamente minha liberdade. Sempre será problema de relacionamento para mim as contumazes idiossincrasias que me acompanham, e quiçá me definem. Não sou solidário, sou solitário. Quem sabe meu futuro seja misantropo por esta falta de tato interpessoal, mas sei que melhorei. Ainda bem que achei um oposto que compreende isso, porém não posso me sentir preso. Às vezes sou liberal demais, às vezes nem tanto, só que a polêmica é constante, afinal, embates emanam quando diferentes se chocam.

19 de abril de 2010

Um conto, um desencanto e um canto

No mundo desencantado contemporâneo, as nossas dúvidas existenciais convergem para o absurdo, após o embate entre a metafísica/transcendência /religião e materialismo/razão/imediatismo. Deus passa a ser nós mesmos e a ambição pela realização de nossos desejos, ainda que fragilmente em direção à felicidade - fim último de nossa vida, conforme os gregos, em especial Aristóteles e Epicuro.
Porém, não saber lidar com o tempo, pela angústia de um vazio sempre a porvir, agindo de forma histérica, arrogante e consumista, só demonstra a incapacidade humana em medir as coisas e viver sabiamente. Na verdade, é apenas a inércia do momento agindo como a condutora de nossa fatalidade. Responde se somos autores ou protagonistas do destino?
Determinismo contra Livre-arbítrio contra Liberdade: não poder fazer escolhas, fazer escolhas entre limitadas (e muito) opções, ou agir da forma que julgar conveniente. Aconselhável via de mão dupla: O que Eu fiz com o que a Vida fez de Mim. Apesar de muitas vezes nos vermos como Sísifo, condenados a fazer um trabalho árduo impossível de vencer...


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Excepcionalmente:
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI4383458-EI4801,00-Software+para+previsao+de+crimes+pode+nao+ser+uma+boa+ideia.html
(Link sobre um assunto que eu sempre quis argumentar, apesar de ser do portal Terra, concordo com o que foi exposto)

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Loucura

A loucura - para o louco a cura
A secura - após a sepultura
Mordedura - modelo linha-dura
Armadura - projétil se anula

Prefeitura - muita gente adula
Atadura - antes leia a bula
A conjura - conjunto que copula
Nas alturas - o crime me perfura

Coisas demais nunca me deixam em paz
A arte desfaz - projeto leva-e-traz
O artista me faz estas coisas a mais
Parte de trás que protege meu cais

O louco seco morde a arma
(O louco seco morde a arma)
No mouco beco perde a alma

Dura, dura? Travada feito mula
Pula, pula? Ninguém mais te atura
Jura, jura? Que um animal ovula
Pura, pura? Satisfaz tua gula

Dentro daqui não posso mais ter
Controle, ciência, dinheiro e poder
Dentro daqui não há como ser


P.S.: Assuntos desconexos em uma semana atribulada. Ainda farei da Loucura música, principalmente se vingar a banda em que eu adentrei. Infelizmente, é preciso ter foco em algo, mas é difícil abdicar de coisas que eu gosto de fazer, seria bom ser 3 pessoas ao mesmo tempo, uma só para o trabalho, outra só para o estudo, e outra para a casa e lazeres. Mas é mister a DRT em nós mesmos.

9 de abril de 2010

In a given sunday

Uma Psicologia

De Freud, sobre melancolia e luto
Da obsessão pessimista à perda o fruto
Superada pela literatura
Também por música ou, talvez, pintura

Nos ensinam a como levantar
Então, aprendemos a levitar
Sim, meu mundo inteiro pode cair
Mas eu não caio, não posso ruir

Há insegurança, por baixa auto-estima
Canções a contrapor a depressão
Desindividuar, essa obra-prima,
Consegue a cura e dispensa a sessão

Leveza – educação sentimental
Necessário desapego total
Apegos – depósito melancólico
Desejos degenerados em pólipos

Vento que tudo nos leva e nos traz
Induz a notar tanto esta presença
Quanto essa estranha ausência
Unidade mantenedora da paz

Exposição a traumas à parte
Sie traumen in dieser moderne Stadt
Teve a couraça psíquica adquirida
Mente insensível a choques da vida

Exigir dos outros a paciência
Sinal óbvio e claro da decadência?



Arrependeste?


Repita: ele não passa de um bosta
Esse alguém que você ainda gosta
Você não aguenta a indiferença
Preferia, pois, correspondência

No que se tornou o mundo atual
Só vê o pior, tudo lhe faz mal
Dos erros é apenas dele a culpa
No desabafo, então, tu deturpas

Fato, história que não foi ruim
Mas você diz que acabou assim
Por sua raiva tão acumulada
Do passado, agora, restou um nada

Antiga chama, não chama, ignora
Contentas-te em ter sido uma nora
E tentas, às tantas, dar o fora
Agora, chora, hora de ir embora

Isso não lhe retira o motivo
Repense este seu terrível crivo
Basta curar o orgulho ferido
Ambos os caminhos são compridos



P.S.: Por que não consigo pensar no futuro e fazer planos?

31 de março de 2010

Without Emotion

Tudo mudo

O medo muda um mundo mudo
Um ledo buda, no fundo, é tudo
Um mudo medo muda o mundo
Tudo é ledo a buda, no fundo
O mundo muda o medo, mudo
No fundo buda é ledo e tudo
Muda mudo, que medo do mundo
Buda, em tudo, é ledo e fundo


O palerma

Foba é afobado; bobou o abobado.
Em prosa de suposta elite,
Proselitismo com falso requinte:

Peraltice de blasonador
Bizarro janota roncador
Gabarolas ou potoqueiro
Casquilho, pábulo e gomeiro

Só o farofento se faz fanfarrão
Se o ferrabrás for um pimpão
Fala do farofeiro e farfante
Falha bazófia do jactante

Farra de farromeiro indolente
O pabola bufa ao bufador
A chibantes vãos e vaniloquentes
Alarmes que alertam o alardeador

Alerta que infecta e me veta
Seta que acerta a sua meta
Concreta é a reta, que na certa
Se afeta, conecta e não aperta


P.S.: Fazer arte é também trabalhar, é repetir, inspiração mecânica, um paradoxo da estética, ter paciência e não se entediar.

30 de março de 2010

Ideias Curtas

Com as mudanças visíveis e ostensivas do mundo atual, talvez as coisas mais familiares a nossos costumes sejam as nuvens e as estrelas no céu (que, como sabemos, são mais mutáveis que comportamentos humanos). Os objetos emanados do homem se tornaram tão metamorfoseados que só a intuição e a mania de organização da mente consegue identificar padrões, apenas para não enlouquecer e se situar num local qualquer. Não é questão de julgamento moral e não dá para pedir para parar o trem para poder descer, a velocidade – globalização e idade da informação – gera depressão e stress, como não ser atingido por uma (psico)patologia qualquer e tomar sua tarja preta como desencargo de consciência?
Quem sabe se admitirmos a contemporaneidade e não se cobrando tanto, um dilema para a exacerbada individualidade e o narcisismo pós-modernos, pois, apesar da concorrência atingir a todos, a felicidade permanece como teleológica, exceto se assumirmos que o niilismo negativo triunfou. Ou ainda, que alguém seja superficial a ponto de se julgar pleno com o mundo hegemônico da aparência e seu império de maquiagem, botox e silicone. Muita cobrança oprime, deve-se encontrar, ou mesmo criar, uma balança entre produtividade e satisfação. Frugalidade? Talvez os epicuristas e Thoreau estivessem certos, no mínimo, em parte.
Ok, tudo muda, indícios que nos lembrar disso a todo hora: o corpo, a informática, a virtualidade, a energia, os resets, os prédios implodidos e erguidos. Todos transformados, conforme sentença de Laplace.
Adaptar-se e aceitar a efemeridade do espaço, o fluxo das águas e o decaimento radioativo. Um paradoxo, saber que a superficialidade é ubíqua e ao mesmo tempo criticar uma vida que é areia na praia, escorrendo pelos dedos, se perdendo a cada ressaca. A tradição se foi, a relutância é ilusão e nada mais que teimosia. A memória tende a se tornar apenas uma parte da cultura, numa visão história, que a cada geração se faz menos nostálgica, seguindo a tendência de nosso ocidente. Considero uma visão otimista, em que a natureza e o homem se sustentam, paralelamente com o crescimento exponencial da tecnologia.

-

Enquanto juvenis afirmam suas individualidades e compensam suas inseguranças através de atos hostis e grosseiros, no espírito de rebanho, por desejarem se enquadrar em um imperativo simples, mesquinho e excludente, como se só por meio da violência fosse possível ser homem, em seu espectro de virilidade e autoridade; eu contraponho essa mesma insegurança, a esse mesma necessidade de expor minhas idiossincrasias a quem se interessar – ideias, opiniões e artes; por mais que eu negue, algum exame é necessário, seja por elogios ou por críticas, afundo na areia movediça do relacionamento sem alguma atenção.
É inegável o sinal de interdependência, mas também de egoísmo; de liberdade, porém vaidade; peculiaridade, todavia, como mais um sujeito do contemporâneo. De fato, não existem convicções, o que há são defesas de e em fases da vida, cada qual em sua retórica, repleta de falhas e lacunas pouco eloquentes. É possível, então, eu continuar a defender que o homem é essencialmente político, mas não social? Querer ser diferente e teimoso, e posteriormente ver a realidade mais diáfana, ou o oposto, mais espessa; experiência que nos ensina a relatividade de qualquer prepotente e precipitada verdade. Pois é, tudo é poeira no vento.

29 de março de 2010

Vasculhando...

As motivações são secundárias

Surjo para você como um anjo anticristão
Pecador, autônomo, a serviço da paixão
Apego sem posses, amor sem compromissos
Talvez saberemos o que vem a ser isso

Não se engane, houve relação mutual
Ambos escapando do passado abismal
Mudança de foco: meu problema a curar
Se tornou, pois, o seu árduo passado, ímpar

Exclusiva verdade pela confiança
Um fora damos à hesitação da balança
Demonstro erudição, recebo compreensão
Viés artístico, de prazer e beleza
Que seja amoral; não é através da tradição
Sublimes venturas, conquistas e surpresas
Advêm das nossas mais puras experiências
Emoções que regem esta nossa cadência

No fim, querida, celebramos a vida


Olhares

A dama vestia preto, tinha olhos cinzentos
Quis eu conhecê-la em um adequado momento
O poder místico exalou dela, me chamava
As chamas suscitadas em mim, acalentavam

Descubro-a com expansivos olhares
Encará-la faz surgir novos temores
Encontro nela próspera insensatez
As notas, ao fundo, soam milhares
A noite, de fato, será das melhores
Preciso superar minha timidez

Nós não nos expressávamos em palavras
Ao lado de outra, era nela que eu pensava
Eu, submisso, escutava seu comando
Recue! Avance! Dia de normando

Separadamente, unidos pelo silêncio
Ela falava apenas com vívidos olhos
Quem é a musa de primorosa visão, penso
Inspiração da versátil pintura a óleo

Arrisco-me a ser punido defronte ao muro
Por seu amor, pagaria a pena com orgulho


P.S.: Não era para eu publicá-las... Não quero conversar, por isso escrevo...

28 de março de 2010

Se fosse fácil se olhar quem diria Eu?

Saudade

Todos os dias preciso apenas de quê?
Dormir, comer, ouvir, talvez ler, de TV.
Alguém é indispensável? Não é, ninguém

Um motor que consome pouco as relações
Suja-se menos economizando ignições
A cada semana abastecimento e calibragem
Em alguns meses, fazer a troca do óleo e revisão
Em diversos meses, mudar, ou gastar em manutenção
Não são mais as mesmas engrenagens

Desgaste natural, erosão da convivência
Não há conveniência, esgotou-se a paciência
Virá saudade pelo rotineiro apego?
Com certeza, o tempo é remédio que cura
Tornar-se-ão histórias a essas alturas
Aprendendo a viver sem qualquer dengo

Dia a dia, o sentimento se enfraquece
Todo dia, assim a paixão se arrefece
Gastar tudo hoje ou poupar para amanhã?
Num amor intenso esse coração foge
Num caso insosso há delongas vãs
Eficiente Uno ou vigoroso Dodge?

Em calmaria e nostalgia a saudade é imensa
Em turbilhões, nossa vida se faz tensa
Pressa, frieza e imperativos dão cabo
A necessidades interpessoais, nunca queridas
Sem proteínas, a agressividade é perdida
É preciso do outro, sempre, da capo

Sentir, ou sentido? Ressentido.
Sentir, sempre, o sentido. Sensível.
Em sentido, é sem sentido sentir.
Não sinto, ressinto. Insensível.
Se vai, sem fim, a saudade
Sentindo, ou não, seu sentido.
É a dependência ou a liberdade.


P.S.: Reconheço que anda escrevendo pouco, são vários os motivos. Mas não deixo de pensar e de criar, apenas é correria, pressa, falta de disciplina, achando sarna pra coçar e curar, relacionamentos a cuidar, entre outras coisas. Percebo que em muitas coisas eu deveria me focar, coisas úteis e que influenciariam diretamente pessoas próximas e até melhorariam a minha vida, mas quem disse que eu sou prático; quando me tornei abstrato? Vejo também que ando bastante racional - meu ímpeto se perdeu? Há um pouco de explicação para isso, mas, como sobre outros assuntos, é melhor ficar quieto para não criar problemas e discussões. Ser conivente não é mentir, mas não deixa de ser covardia; é tanta complexidade e vida de curto, médio e longo prazo a preservar, que adiamos as ações para um 30 de fevereiro qualquer. Às vezes quero chutar o balde, mas como eu disse, ando frio, atitudes passionais não andam me acompanhando; desculpas adiantadas pelo meu silêncio e desculpas atrasadas pela minha falta de carinho e atenção. Maldita hora de tudo ao mesmo tempo agora, imaginem se eu tivesse responsabilidades e contas a prestar, iria surtar, não nasci para ser líder, sou indolente em demasia para isso, não chego a ser o pacato cidadão, mas sinto-me em momentos de resignação, aceito a mediocridade, sei, é ridículo. Quem sabe um dia renove minha inspiração por megalomanias? Enquanto isso, vou plantando, em doses homeopáticas; não deixa de ser uma prática, ainda que deslocada do ideal, ou ao menos, da grandiosidade. Enfim, só retórica.

15 de março de 2010

Sim, duas insânias

Purificar a arte

A tradução de informática:
Da informação matemática.
Limitação programática:
A programação automática

Com sua ideia de corporificar,
Tentava ela no balé verificar:
Poderia pela cor purificar,
Para então, só no chalé, ver e ficar?

Pressiona, aperta o play ou o start.
Resolve e vê a vida como arte,
Através da morte da forma,
Que deforma, bem como, informa

Reuniram-se em torno do morto
Lá, no entorno do aeroporto
Uns defuntos vivos normais,
Que cairão, cada um em seu cais

Afinal, finaliza e analisa, enfim
A fim de sinalizar este final
Está lá a tala, afim de uma sina tal
Qual as das tuas talhas finas; é o fim


Indo e vindo

Sem hino ia indo o índio
E o lindo vinha vindo com vinho
No linho o limbo do limo foi lido,
É tido como tipo cipó, sem corpo

O copo de coco era oco, eco!
Com seu eco um pouco rouco ou mouco
Num muco mudo, eu mudo o medo
É o fedor do feto, perto do teto.

A vespa é vesca? Ou é mania?
De insânia, de vesânia?